Descrição de chapéu Coronavírus

Cremesp não apura infrações fora de SP, como a da médica que administrou nebulização de cloroquina

Obstetra e ginecologista Michelle Chechter atuou em Manaus com o marido, Gustavo Dutra; cinco pessoas morreram

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São Paulo

Após o caso da médica paulistana que realizou nebulizações de hidroxicloroquina em pacientes em um hospital em Manaus, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) afirmou não ter responsabilidade sobre infrações cometidas por profissionais fora do estado de São Paulo, mesmo se registrados pelo Conselho.

Em nota, o Cremesp informa que as infrações cometidas devem ser investigadas pelo conselho regional de medicina do estado em que ocorreram e, caso haja indício de ética, “o caso é enviado para julgamento no estado em que o médico possui o registro principal”.

“O Cremesp aguarda manifestação do Conselho Regional de Medicina do Amazonas sobre o caso”, afirma o órgão.

Post no Instagram de Michelle Chechter com selfie dela e outros dois profissionais. Ela está no canto esquerdo da foto; as três pessoas estão de máscara; o homem do meio está com a imagem borrada
Post no Instagram de Chechter mostra ela, um outro profissional e o marido da médica, Gustavo Maximiliano Dutra, de avental azul - Reprodução/Instagram

O conselho se refere ao caso revelado pela Folha da ginecologista e obstetra Michelle Chechter, que atuou, ao lado do marido, o também médico Gustavo Maximiliano Dutra, no IMDL (Instituto da Mulher e Maternidade Dona Lindu), em Manaus, fazendo testes clandestinos de hidroxicloroquina nebulizada em pacientes com Covid-19. Cinco pessoas que receberam o tratamento morreram, dentre eles uma mulher grávida e seu bebê.

Uma das pacientes de Chechter era Jucicleia de Sousa Lira, mulher de Kleison Oliveira da Silva. Ele ficou sabendo, por meio de um vídeo recebido via WhatsApp, que a esposa, em estado grave e dias após passar por um parto de emergência, havia passado por um procedimento experimental baseado em um medicamento sem eficácia comprovada no tratamento contra o coronavírus.

Sob influência da médica, Lira dizia que tinha melhorado significativamente com a aplicação do medicamento. “O pessoal lá de casa ficou animado, mas era uma notícia falsa”, disse Oliveira à Folha.

Após a nebulização, Lira não parou de piorar. Morreu no dia 2 de março, 27 dias após o nascimento do filho. Segundo o hospital, a causa foi infecção generalizada em decorrência da Covid-19.

A médica fazia a prescrição off-label, isto é, administrava a medicação de forma diferente da aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Além disso, para fazer o procedimento, Chechter entregava para os pacientes uma autorização que não seguia as regras da área da saúde.

Um especialista ouvido pela reportagem publicada nesta quarta (14), o infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira, gerente médico do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, disse que Chechter ignorou todas as boas práticas. “Nunca vi isso. Não sabemos quantos pacientes foram utilizados, não há termo de consentimento nem comitê ético. É até mau gosto chamar de estudo. Trata-se de um experimento mengeliano”, disse o médico, em referência ao nazista Josef Mengele, que realizou experimentos letais no campo de concentração de Auschwitz.

Além de Lira, outras quatro pessoas que receberam a nebulização morreram, dentre elas uma mulher grávida e o seu bebê.

Em nota, a SES-AM (Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas) confirmou a demissão de Chechter e de seu marido, Gustavo Maximiliano Dutra. A secretaria esclareceu que o tratamento não faz parte dos protocolos terapêuticos do IMDL e de nenhum outro hospital da rede estadual, mesmo que com consentimento dos pacientes.

O órgão diz ainda que apenas duas pacientes foram tratadas com a hidroxicloroquina nebulizada.

Também foi aberta uma sindicância para investigar a conduta dos profissionais.

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