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Internações de nonagenários por Covid desaceleram após vacinação no país

Número de hospitalizados se estabilizou entre aqueles com mais de 90 anos e perdeu velocidade entre quem tem mais de 80

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Rio de Janeiro e São Paulo

Mais de três meses após a aplicação da primeira vacina contra o novo coronavírus no Brasil, é possível ver impacto nas internações pela doença. As hospitalizações de idosos de faixas etárias mais elevadas, imunizadas primeiro, vêm desacelerando.

O efeito é mais visível entre os pacientes com mais de 90 anos. As hospitalizações nesse grupo registraram números estáveis até o início de abril, enquanto em outras faixas etárias havia disparada, com pico em meados de março, seguida de uma queda recente.

Também se observa uma perda de velocidade nas internações semanais dos idosos de 81 a 90 anos, apesar de esses ainda terem vivido um crescimento considerável quando passaram pela nova onda do vírus, no mês passado.

Os dados tabulados pela Folha são do Ministério da Saúde e consideram pessoas internadas por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em qualquer tipo de leito. O período analisado foi até 3 de abril, considerando o tempo para as notificações.

As primeiras doses no país foram aplicadas no fim de janeiro, em profissionais da saúde. Os idosos começaram a ser imunizados no início de fevereiro. Estudos mostram que a proteção começa a ter efeito entre 14 e 21 dias após a primeira dose e fica completa 21 dias após a segunda dose da Coronavac, a predominante no Brasil.

O epidemiologista e demógrafo Raphael Guimarães, pesquisador da Fiocruz, diz que os números disponíveis até agora sugerem fortemente que a queda se deve à imunização. “Ainda não conseguimos cruzar todos os dados, mas a redução dos idosos em UTIs é muito sugestiva do impacto da vacina.”

Se compararmos a última semana de janeiro, quando a aplicação das doses começava a ganhar fôlego, com a primeira semana de abril, os nonagenários e octogenários foram os únicos grupos, entre os adultos, nos quais foi observada queda nas hospitalizações.

Os primeiros viram uma redução de 33%, de 672 para 453 pacientes semanais. Já os segundos registraram uma baixa mais tímida, de 13%, passando de 2.468 para 2.135. Entre os septuagenários, naquele momento ainda com a vacinação em curso, houve alta de 20%.

“Agora a questão são os mais jovens, que estão flexibilizando o isolamento para trabalhar ou para ir a bares e festas. De forma geral, as pessoas acima de 40 anos são as que estão se infectando e apresentando uma forma mais grave da doença”, afirma Guimarães.

A proteção dos mais velhos e o relaxamento entre os adultos, portanto, fez com que a proporção de idosos entre os internados tenha caído nos últimos meses. O pesquisador ressalta que, no último boletim sobre a Covid-19 divulgado pela Fiocruz, esse movimento já era claro inclusive a partir da faixa dos 70 anos.

Segundo os dados do Ministério da Saúde, os pacientes de 71 anos ou mais representavam 38% dos hospitalizados na primeira semana do ano e só 26% na primeira semana de abril. Já o grupo que tem entre 31 e 70 anos passou de 46% para 67% do total no período.

A mesma mudança de perfil vem ocorrendo com as mortes. Se no ano passado inteiro os idosos acima de 70 anos responderam por 51% dos óbitos após internações por síndrome respiratória, nos quatro primeiros meses deste ano eram 44% das mortes.

No estado de São Paulo, onde a aplicação dos imunizantes começou de forma acelerada, é possível ver queda nas internações na faixa etária mais elevada. O secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, comentou os dados em entrevista coletiva na última semana.

“Pacientes principalmente com idades superiores a 90 anos tiveram uma queda nas internações de 46%, na faixa de 85 a 89 anos, 36%, e na faixa de 80 a 84 anos, uma redução de 22% de internação nas UTIs. Portanto, com medidas sanitárias e vacinas, só dessa forma conseguiremos combater a pandemia”, afirmou, sem citar o período da comparação.

A capital paulista tem analisado taxas de incidência da Covid-19 e não números absolutos, nas quais também notou uma tendência de diminuição a partir de fevereiro para as faixas acima de 90 anos e entre 85 e 89 anos. Além da imunização, diz a prefeitura, ela pode estar associada às medidas de restrição de circulação.

É a mesma avaliação do Amazonas, onde, porém, as internações caíram em todas as faixas etárias de janeiro a março. “O menor número de internações de pessoas com 60 anos ou mais possivelmente está relacionado à proteção conferida pela vacinação”, diz o estado.

A cidade do Rio de Janeiro, que observa a queda de internações entre os que têm acima de 80 anos principalmente a partir de março, ressalta que os surtos nas instituições para idosos vêm diminuindo progressivamente desde janeiro, “o que também aponta para o benefício da vacinação”.

Mulher de cabelos brancos, blusa florida e máscara e casaco vermelhos em primeiro plano; ao fundo vê-se uma fila de pessoas em frente a um posto de saúde
A idosa Lucia Noyama, 84, é vacinada em março na Mooca, em São Paulo - Zanone Fraissat - 1.mar.21/Folhapress

A nível mundial, a tendência é igual: redução de hospitalizações e mortes. O exemplo mais impressionante é o de Israel, onde mais de 80% dos 9 milhões de habitantes receberam a primeira dose e os óbitos diminuíram 87% desde janeiro, pico da pandemia no país.

Mas ainda há uma preocupação generalizada de autoridades sanitárias e pesquisadores, porque a quantidade de casos cresce globalmente nas últimas semanas mesmo em nações que avançam rapidamente na campanha, como Alemanha, Canadá, Uruguai e Chile. O medo é que surjam novas variantes que anulem a eficiência das vacinas.

No Brasil, foram imunizadas 29,5 milhões de pessoas (18%) até agora, 13 milhões delas (8%) com a segunda dose. A aplicação nos nonagenários se intensificou no início de fevereiro, nos octogenários no fim de fevereiro, nos septuagenários em meados de março, e nos sexagenários no início de abril.

Agora, o principal alvo são as pessoas com comorbidades e deficiências. Mas a aceleração da campanha esbarra no risco de novos atrasos na chegada de insumos usados pelo Butantan e pela Fiocruz para a produção das doses.

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