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Mudanças em grupos prioritários por estados e municípios atrapalham plano de vacinação, diz Queiroga

Ministro da Saúde pede que ordem do plano nacional seja seguida e diz que atraso na chegada de insumos gera preocupação sobre 2ª dose da Coronavac

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Brasília

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criticou nesta segunda-feira (26) as mudanças feitas por estados e municípios nos grupos prioritários de vacinação contra a Covid-19. Ele disse que as alterações atrapalham a estratégia de imunização no país e fez um apelo para que a ordem prevista no plano nacional seja seguida.

"Se nós respeitássemos o Programa Nacional de Imunizações [PNI] conforme pactuado na tripartite [comissão que reúne União, estados e municípios], ele seria melhor", disse, ao citar o ritmo de vacinação.

"Ocorre que, às vezes, muda-se a orientação na bipartite [estados e municípios] para incluir um grupo ou outro, e isso termina por alterar a harmonia do nosso programa e atrapalha o processo de vacinação. Então é até um apelo que eu faço. Nós sabemos que, no afã de contribuir com a vacinação, às vezes se pressiona para botar um grupo prioritário ou outro. Todos têm razão em querer ter a vacinação o mais rápido possível, mas, às vezes, isso atrapalha o nosso PNI", afirmou.

Como a Folha mostrou, alguns estados adiantaram nas últimas semanas a vacinação de policiais e professores, entre outros grupos e adotaram critérios diferentes para a vacinação de pessoas com doenças preexistentes —neste último caso, no entanto, pela falta de uma diretriz nacional clara.

O ministro deu as declarações em audiência na comissão de enfrentamento à Covid, no Senado.

Segundo Queiroga, o atraso na chegada de insumos para produção de vacinas tem gerado preocupação em alguns estados sobre a oferta da segunda dose da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan. Agora, a pasta avalia uma nova recomendação sobre o tema.

"Há cerca de um mês se liberaram as segundas doses para que se aplicassem, e agora, em face do retardo dos insumos vindos da China para o Butantan, há uma dificuldade com essa segunda dose. E, como esta semana não temos previsão de chegada de vacina do Butantan, só daqui a cerca de dez dias, vamos emitir uma nota técnica acerca desse tema."

O ministro não informou, porém, o que deve constar na nota técnica e qual medida pode ser aplicada.

Ele criticou a possibilidade de judicialização para garantia de oferta das doses, citando como exemplo decisão da Justiça Federal que determinou ao ministério, governo e prefeitura a garantia de aplicação das doses em João Pessoa (PB). "Se todos judicializarem, não há doses para todo mundo", disse.

O secretário de vigilância em saúde, Arnaldo Medeiros, diz que, após a liberação de uso, em março, de todas as doses enviadas para uma primeira aplicação da vacina, o ministério passou a enviar quantidades específicas aos estados para garantir a reposição da segunda dose.

A previsão é que o documento traga o volume de doses já enviadas e a quantidade que ainda está pendente, afirma. Também deve reforçar a necessidade de guardar essas doses.

"Vamos fazer um consolidado de todas as pautas de distribuição e doses enviadas para deixar esclarecido as orientações quanto ao uso da dose 1 e 2", afirmou na audiência.

Segundo ele, a pasta tem monitorado os estados com déficit da segunda dose "para que não haja prejuízo vacinal". Ele não informou quais seriam os locais, mas disse que o envio é "pequeno" e está "dentro do prazo vacinal".

Ainda na audiência, Queiroga rebateu críticas sobre a diferença entre o número de doses enviadas e aplicadas de vacinas contra a Covid e disse ter pedido mudanças à equipe no modelo de divulgação dos dados, "para que não gere tanto calor em relação a essa questão".

"Tudo o que não precisamos neste momento é de polêmica", disse. Até o momento, o país já distribuiu cerca de 58 milhões de doses —destas, 38 milhões já constam em sistema da pasta como aplicadas.

"Isso gera uma discussão. 'Ah, onde estão essas doses? Não foram aplicadas?'. A maior parte foi aplicada. Algumas também são dose 2, e estão guardadas, e outras não chegaram aos municípios, porque há um delay de cerca de dez dias para que essas doses, uma vez entregues, sejam distribuídas", afirma.

Queiroga também voltou a comentar sobre o cronograma divulgado pela pasta no sábado (24), o qual reduziu em 31% a previsão de entrega de doses de vacinas contra Covid em maio.

Até então, o cronograma anterior previa 46,9 milhões de doses para o próximo mês, enquanto o atual prevê 32,4 milhões de doses.

Segundo ele, a mudança ocorre devido à decisão da pasta de retirar do cronograma a previsão de entrega de doses das vacinas Covaxin e Sputnik, ainda não aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Outro fator é o atraso na chegada de insumos usados pela Fiocruz e Butantan para produção das doses.

Questionado pelos senadores, o ministro negou que haja dificuldades diplomáticas para liberação dos insumos e atribuiu o atraso a entraves na produção do material. "São questões administrativas, e não diplomáticas. Se houve isso no passado, está superado", disse.

Queiroga afirmou ainda que a pasta negocia obter mais doses com fornecedores, citando, sem especificar nomes e quantidade, negociações com "fabricantes da China".

Ele também buscou rebater críticas sobre o atraso na vacinação, afirmando que "não há que se comparar o Brasil com Israel ou Chile", em referências a países adiantados na aplicação das doses.

O Brasil, no entanto, tem passado por constantes revisões no cronograma. Na última semana, por exemplo, o ministro adiou para setembro a previsão para o fim da imunização do grupo prioritário previsto no plano de vacinação contra a Covid, composto atualmente por 77 milhões de pessoas. Seu antecessor, o general Eduardo Pazuello, já havia citado a possibilidade de que isso ocorresse até maio.

Nesta segunda (26), o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, reforçou a data final colocada pela nova gestão, mas disse que a vacinação do restante da população poderá iniciar ainda em junho.

"É importante que fique claro que setembro é o prazo para administração da segunda dose, porque temos hoje vacinas com prazo [de intervalo entre as doses] de três meses. A expectativa é administrar pelo menos a primeira dose até a primeira semana de junho, e completar com a segunda dose até setembro. Isso não significa que, entre junho e setembro, não se comece a imunização dos demais brasileiros."

Ainda na audiência, a equipe do ministério disse esperar receber, nas duas próximas semanas, 1,5 milhão de unidades de medicamentos que fazem parte do chamado "kit intubação" usado em pacientes graves de Covid. A pasta tem negociado receber os remédios por meio da doação de outros países, como a Espanha, doação de empresas e compras nacionais e internacionais.

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