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Ausência de controle pode gerar 3ª onda da Covid no Brasil com chegada da variante indiana

País não consegue implementar medidas para conter aglomerações e disseminação de novas variantes; especialistas alertam para nova fase de alta de óbitos

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Raquel Miura
Brasília | RFI

Sem conseguir rastrear casos suspeitos que chegam do exterior e muito longe de fazer o dever de casa, descumprindo regras básicas do combate à pandemia, o Brasil pode viver mais uma onda de mortes por coronavírus.

O país, que chegou a registrar mais de 4.000 óbitos diários provocados pela doença, tem assistido nas últimas semanas a uma queda nesses números. Porém, a taxa de contágio voltou a crescer e muitos analistas já fizeram chegar ao governo federal a preocupação com prognósticos nada animadores para os próximos meses.

“São vários fatores que nos colocam na rota de uma provável terceira onda. Nossa imunidade cai com o tempo. As pessoas podem se reinfectar. Temos ainda a entrada de uma variante da Índia que está chegando ao país por várias regiões. E vamos, ao que tudo indica, ver essa variante se espalhar. Não sabemos como nosso sistema imune vai reagir a essa mutação”, disse à RFI o epidemiologista e professor da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB), Jonas Brant.

“Nós tivemos uma nova onda, mas estávamos agora num processo de redução dos casos. Porém, nós temos um cenário de não organização, de ausência de ações que manteriam a tendência de queda da pandemia. Quando os governos começam a abrir a sociedade novamente, há um aumento na interação entre as pessoas e um maior risco de infecção. Além disso, está chegando o inverno, quando as pessoas tendem a ficar mais juntas, em locais fechados. Tudo isso ajuda na propagação do vírus.”

Na última terça-feira (25), uma reunião entre técnicos da Anvisa e do Ministério da Saúde para decidir medidas de freio à variante indiana terminou sem conclusão.

Uma nova discussão ocorrerá esta semana para definir, por exemplo, como e onde deve ser feita a quarentena de pessoas que chegam de países como Índia, Reino Unido e África do Sul.

“São necessárias medidas que outros países fazem e o Brasil até agora não conseguiu fazer, como a ampliação da testagem para reconhecer novos casos e fazer o rastreamento deles. Um infectado começa a transmitir a doença dois dias antes dos sintomas. Então se eu rastreio os contatos de quem deu positivo, eu consigo melhorar o isolamento, eu quebro a cadeia de transmissão. Também é importante que a vigilância sanitária esteja mais presente em inspeções em todos os estabelecimentos, não só nos de saúde ou de alimentação, mas em todos os ambientes, para que a gente consiga incorporar ações de biossegurança, como ventilação, máscaras e higienização das mãos, como algo que façam parte da nossa rotina. Citaria ainda a importância de escolher melhor as máscaras, usando a cirúrgica e a de pano juntas, ou aquelas de melhor proteção, a N95 ou a PFF2”, afirmou Brant, que integra a Sala de Situação da UnB para acompanhar a pandemia.

CPI da Covid

Senadores não alinhados ao governo querem reconvocar o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e ganhou força a tese de que, se ele vier novamente com a enxurrada de falácias, poderá mesmo sofrer punição, inclusive ser preso.

Após pedir desculpas na CPI da Covid no Senado por não usar máscara em um shopping de Manaus, o general irritou a alta cúpula das Forças Armadas e também integrantes do colegiado ao participar de ato político no domingo, sem máscara, ao lado do presidente Jair Bolsonaro.

“Agora, se o ministro vier para cá sem nenhum habeas corpus que o proteja, não tenha dúvida de que não será da mesma forma como foi a última vez. Não seremos desmoralizados. Estão tentando. Você vê que nas reuniões tentam de todas as formas. Tenho mantido ali o controle, mas sempre há uma coisa para tentar desmoralizar”, disse o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).

Ontem no depoimento de Mayra Pinheiro, secretária do Ministério da Saúde conhecida como "capitã cloroquina", houve quem a essa altura ainda fizesse coro com a depoente. “Eu estou aqui nesta comissão. Graças a Deus, não fui infectado ainda. Sei que pode chegar a minha vez, que vai chegar, mas eu estou fazendo, com recomendação médica, tratamento preventivo ou profilático. E, se tiver que fazer o tratamento precoce, eu vou fazer”, confessou o senador Eduardo Girão (Podemos-CE).

Mas muitos rebateram. “Doutora Mayra, tem alguma medicação para evitar que uma criança contraia o sarampo? Só a vacina, não é? Paralisia infantil? Só a vacina. Varíola? Só a vacina. H1N1? Só a vacina. Como é que inventaram agora que hidroxicloroquina pode evitar que uma pessoa se contamine do coronavírus? É um absurdo!”, disse o senador e médico Otto Alencar (PSD-BA).

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