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Para viver mais, tome um coquetel de atividades físicas

Pesquisa identifica a combinação ideal de exercícios para reduzir risco de mortalidade

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Bruno Gualano

É professor da Faculdade de Medicina da USP, especialista em fisiologia do exercício clínico e conduz estudos sobre promoção de estilo de vida saudável para populações clínicas

Se você, leitor, apesar das agruras e obrigações do dia a dia, reúne forças para realizar 30 minutos de exercícios físicos, 5 dias por semana —como recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS)— faz parte da metade fisicamente ativa dos brasileiros.

No entanto, contenha a sensação de dever cumprido que invade sua alma ao final de cada sessão de exercícios; os benefícios de ser ativo estão condicionados à quantidade de movimento que você é capaz de acumular ao longo do dia. É o que revela um novo estudo internacional.

O objetivo da inovadora pesquisa foi determinar o “blend” ideal de atividades físicas capaz de reduzir o risco de mortalidade. Para tanto, os pesquisadores associaram os riscos de mortalidade de mais de 130 mil ingleses, norte-americanos e suecos, com idade média de 54 anos, com seus níveis de atividade física, medidos por meio de dispositivos chamados acelerômetros, que avaliam a quantidade e a intensidade dos movimentos diários.

Evitando ir à academia ou praticar esportes em equipe, cariocas fazem exercício ao ar livre na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio - Júlia Barbon/Folhapress

As atividades físicas podem ser classificadas, quanto à intensidade, em muito leves (exemplo, permanecer em pé), leves (caminhada durante as compras), moderadas (as que nos deixam com a respiração ofegante) e intensas (exercícios que levam à exaustão). Por outro lado, dizemos que alguém está em comportamento sedentário quando sentado ou deitado —condições em que o gasto de energia é muito baixo.

Todas essas nuances do movimento —do exercício vigoroso ao sedentarismo— foram analisadas combinadamente por meio de modelos estatísticos sofisticados, na busca das atividades físicas ideais.

A realização do mínimo recomendado de atividade física —150 minutos de atividade moderada a vigorosa por semana—, reduz as chances de mortalidade em 80%, porém não entre aqueles que despendem mais de 11 horas por dia em atividades sedentárias, como mostra o estudo. Esses achados significam que o excesso de tempo gasto em comportamento sedentário pode sobrepujar os benefícios do exercício.

É o caso, por exemplo, de uma pessoa que se exercita regularmente numa academia, mas que, cotidianamente, se utiliza de carro como meio principal de transporte, não realiza atividades domésticas pesadas, exerce seu trabalho sentado e abusa do tempo em frente da televisão ou computador.

O leitor que se identificou com essa rotina pode ser considerado um cidadão fisicamente ativo (pois faz exercício), mas sedentário (pois passa muito tempo sentado). E, como vimos, pessoas com esse padrão de comportamento se beneficiam consideravelmente menos dos efeitos salutares do exercício.

A boa nova advinda do estudo consiste no achado que várias combinações de atividades físicas são possíveis a fim de evitar os malefícios do sedentarismo, mesmo quando a quantidade de exercícios é tida como insuficiente. Digamos que sua rotina o obrigue a passar 10 horas do seu dia sentado. Nesse caso, apenas 3 minutos de exercícios (!) associados a 6 horas de atividades físicas leves lhe confeririam nada menos do que 30% de redução no risco de mortalidade.

Portanto, a mensagem prática é que existe um “coquetel” de atividades para todos os gostos, e que podem ser combinadas ao bel prazer de cada leitor. De comum, todas as misturas eficazes adicionam atividade física —em diferentes intensidades— em substituição do comportamento sedentário. Cada movimento conta, como ensina a recente recomendação da OMS.

A pesquisa também nos indica que devemos pensar a promoção de atividade física sob uma perspectiva que extrapole a recomendação dos “30 minutos de exercícios ao dia” —a qual, aliás, não vem sendo cumprida por expressiva parcela das pessoas. Como retoricamente indaga um dos autores do estudo, Keith Diaz, da Universidade Columbia, “é realmente possível que nossos hábitos de atividade física que correspondem a apenas 2% do nosso dia é tudo o que importa quando pensamos em saúde?”

Aqui vai minha própria versão do “coquetel”: a cada uma hora de estudo, trabalho ou lazer sentado em frente à tela, movimente-se por 3 a 5 minutos. Prefira se deslocar a pé ou de bicicleta. Sempre que possível, exercite-se e progrida a intensidade. Se não conseguir adotar todas as medidas anteriores, combine as possíveis (lembre-se: cada movimento conta!). Faça de uma vida ativa um hábito. Se os resultados do novo estudo britânico se confirmarem, suas chances de viver por mais tempo são grandes; e as de viver melhor, já estão garantidas por um vasto lastro de evidências.

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