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Ritmo de vacinação contra a Covid cai no Brasil em maio

Redução na última semana foi de 17% para primeira dose; insegurança de gestores e da população explicam desaceleração

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São Paulo

O ritmo de aplicação da primeira dose da vacina contra a Covid-19 caiu 17% na última semana, mostram dados das secretarias de Saúde coletados pelo consórcio de veículos de imprensa. Em relação à segunda dose do imunizante, a queda foi de 23%.

Do dia 13 até esta quarta (19), foram vacinados com a primeira dose, em média, 453 mil brasileiros por dia. O número é quase 90 mil doses menor que o registrado na semana anterior, pico da vacinação no mês de maio.

Quanto à segunda dose, houve uma redução de cerca de 53 mil aplicações no período comparado. A média era de 179 mil imunizados por dia nesta última semana, contra 231 mil na semana anterior.

Mulher é vacinada contra a Covid na cidade de São Paulo - Danilo Verpa-17.mai.21/Folhapress

Para efeito de comparação, a semana de 25 de março a 1º de abril foi a que registrou maior média diária: 644 mil aplicações por dia da primeira dose (42% mais que agora).

Já o período com pico de imunizações com a segunda dose foi de 23 a 29 de abril, com quase 542 mil imunizados por dia, em média (203% mais que nesta última semana).

Entre os estados, o que mais reduziu a aplicação de doses foi o Pará, onde o ritmo de imunizações com a primeira dose caiu 88% no período. Até esta quinta (20), 21,4% dos paraenses adultos haviam recebido a primeira dose, o que equivale a cerca de 1,3 milhão de pessoas.

O Espírito Santo, por sua vez, aumentou a aplicação da primeira dose do imunizante em 91% no período analisado e foi o estado com maior crescimento.

Desde o início da campanha, mais de 860 mil capixabas (21% dos adultos) receberam a primeira dose, e 325 mil a segunda (8%).

Em relação à segunda dose, Santa Catarina reduziu em 79% a média de imunizados e foi o estado com maior queda em relação à semana do dia 12.

Até quarta (19), quando a secretaria de Saúde divulgou o último balanço de vacinação, 691 mil catarinenses estavam com o esquema completo da vacina contra a Covid (cerca de 10% da população).

Já Mato Grosso do Sul mais que dobrou a aplicação de segundas doses, com aumento de 215% no período. É o estado com maior proporção de cidadãos imunizados, com 15% da população adulta protegida com as duas doses.

Em todo o Brasil, mais de 40 milhões de pessoas receberam a primeira dose (cerca de 25% dos maiores de 18 anos), e mais de 20 milhões foram contempladas com a segunda (13%).

Há cerca de 30 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 já repassadas ao Ministério da Saúde e que ainda não foram aplicadas.

A Fiocruz, que processa a vacina da AstraZeneca/Oxford, deve fazer uma nova entrega de 5,3 milhões de unidades nesta sexta-feira (21) e chegar ao total de 40,2 milhões de doses repassadas ao Ministério.

O Instituto Butantan, que fabrica a Coronavac, entregou 47,2 milhões até o momento, e a Pfizer, 2,8 milhões de doses. Embora os repasses tenham atingido 90,2 milhões de doses, foram aplicadas aproximadamente 60 milhões de doses até esta sexta.

Os números mostram que poderíamos ter milhões a mais de pessoas vacinadas com pelo menos uma dose, mas a falta de um fluxo contínuo na entrega das doses gera incertezas nas autoridades locais e a comunicação falha do Ministério da Saúde causa desconfiança na população, que pode deixar de buscar a imunização.

Especialistas em epidemiologia e saúde pública apontam a falta de uma coordenação nacional do governo federal e do Ministério da Saúde como a principal causa da desorganização na campanha.

Cada cidade decide como vai encaminhar a aplicação das doses, e para se prevenirem da escassez dos imunizantes das segundas doses, algumas decidem reservar frascos para o reforço em vez de vacinar novas pessoas, aponta Ethel Maciel, epidemiologista e professora na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

É o caso de Porto Alegre, que ao receber mais de 32 mil doses da vacina da Pfizer no início deste mês decidiu usar metade para a primeira dose e reservar as restantes para a segunda aplicação, com um intervalo de 21 dias entre elas, seguindo a recomendação inicial da Anvisa e da bula da substância.

O Ministério da Saúde, porém, recomenda o intervalo de três meses para que sejam priorizadas as primeiras doses. A mesma estratégia é usada no Reino Unido, buscando levar proteção para o maior número de pessoas em um menor período.

Um artigo publicado em 12 de maio na revista científica The BMJ mostrou que adotar um intervalo de três meses entre as doses da vacina da Pfizer pode evitar mortes, uma vez que uma única dose do imunizante fornece proteção muito alta (cerca de 80%) durante o período até a aplicação do reforço.

A desconfiança com relação à vacina da AstraZeneca é outro fator que começa a atrapalhar o cronograma de vacinação, segundo Maciel. No dia 10 de maio, a Anvisa suspendeu o uso do imunizante em grávidas enquanto investiga uma morte de gestante que pode ter relação com a substância.

“Há mais relatos de pessoas que chegam para se vacinar, mas desistem quando ficam sabendo que a vacina é a da AstraZeneca. Essa suspensão do uso sem uma estratégia de comunicação adequada para a população, para explicar que são casos raríssimos e restituir a confiança na vacina, deixa as pessoas inseguras”, afirma a epidemiologista.

“Recebi mensagens de grávidas desesperadas que já tinham recebido a vacina. A população não lê nota técnica. Essa falta de comunicação é desumana”, completa Maciel.

Um número muito pequeno de coágulos associados ao imunizante da AstraZeneca foi registrado na Europa, mas as autoridades de saúde do continente recomendaram o uso da vacina e afirmaram que os caros são raríssimos e que os benefícios que ela traz são muito superiores aos riscos.

Por ter experiência com grandes campanhas de vacinação anteriores, o país poderia mobilizar uma estrutura para vacinar diariamente um número maior de pessoas do que faz hoje.

As vacinas da AstraZeneca e da Coronavac dependem de matéria-prima vinda da China. As fábricas da Fiocruz e do Butantan aguardam a chegada de mais insumos para a entrega de novas remessas, que sofreram atraso na liberação.

Em nota, o governo de São Paulo diz que questões referentes à relação diplomática entre Brasil e China podem interferir diretamente no cronograma de liberação de novos lotes de insumos. "Todos sabem, temos um entrave diplomático, fruto de declarações desastrosas feita pelo governo federal contra a China, e isso gerou um bloqueio por parte do governo chinês da liberação do embarque dos insumos", afirmou o governador João Doria.

O presidente Jair Bolsonaro tem sugerido que o país asiático se beneficiou economicamente da pandemia e afirmou que a Covid-19 pode ter sido criada em laboratório. Uma investigação realizada por um grupo internacional de cientistas concluiu que a hipótese de que o vírus tivesse "vazado" de um laboratório é "extremamente improvável".

Representantes de pelo menos 13 países e cientistas de destaque têm se manifestado publicamente pedindo por uma investigação mais aprofundada, que traga maior clareza sobre as origens da pandemia.

Nesta sexta-feira (20), o embaixador da China, Yan Wanming, afirmou que novos lotes do insumo farmacêutico para a produção de ambas as vacinas devem começar a chegar ao Brasil nos próximos dias.

O Ministério da Saúde não se posicionou sobre o andamento da aplicação das vacinas nem disse se pretende realizar ações para tornar o processo mais veloz. Em nota, disse apenas que o ritmo de entrega das vacinas é crescente e que neste mês deve atingir mais de 30 milhões de doses repassadas aos estados, suficiente para vacinar 1 milhão de pessoas por dia.

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