Bolsonaro volta a atacar lockdown de Araraquara e prefeito diz que presidente fala inverdades

Cidade do interior de SP terá segundo lockdown em quatro meses para tentar conter pandemia da Covid-19

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Ribeirão Preto

Após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atacar novamente o anúncio de um novo lockdown em Araraquara (a 273 km de São Paulo), o prefeito da cidade paulista, Edinho Silva (PT), disse que o presidente apresentou “inverdades”.

Em live na quinta (17), Bolsonaro disse que Araraquara, que aplicará a partir das 12h de domingo (20) novas medidas restritivas devido ao avanço da Covid-19, tem mais mortes que a média do país. É ao menos a terceira vez que o presidente cita a cidade governada pelo petista nos últimos meses.

“Nós temos um prefeito que não sei o que tem na cabeça dele, de Araraquara, que novamente [está] programando um novo lockdown na sua cidade, e uma cidade também que morre mais gente que a média do Brasil”, disse Bolsonaro na noite desta quinta-feira (17), em sua live.

Antes, Bolsonaro, que sempre disse ser contra lockdown, já tinha usado uma distribuição de alimentos feita pela Ceagesp em Araraquara, em 29 de abril, para criticar as medidas tomadas em Araraquara e, em pronunciamento em cadeia de rádio e TV em 2 de junho, voltou a tocar no mesmo tema.

“Nesse momento, comboio parte da Ceagesp rumo a Araraquara/SP, levando alimentos para aqueles vitimados pela política do ‘fique em casa que a economia a gente vê depois’”, disse o presidente em redes sociais.

A cidade paulista, administrada por um prefeito do PT que foi ministro (Secom) no governo de Dilma Rousseff, foi a primeira a adotar lockdown, em fevereiro.

Nos meses seguintes, os índices de casos, internações e mortes em decorrência do novo coronavírus caíram, mas voltaram a subir nas últimas semanas, o que motivou o lockdown entre domingo e, no mínimo, o dia 27.

Na manhã desta sexta-feira (18), Edinho respondeu, ao afirmar que Bolsonaro apresentou “inverdades” e que nenhuma cidade adotaria medidas restritivas se o país estivesse imunizando "com a rapidez que a situação exige".

“Infelizmente, o presidente Jair Bolsonaro, como tem feito sistematicamente, ataca a cidade de Araraquara. Ataca de forma gratuita, do nada, e ontem [quinta] ele fez um ataque sério, porque ele divulga inverdades”, disse o petista.

De acordo com o prefeito, o índice de mortes registradas em Araraquara é de 2,01%, ante a média nacional de 2,8%. “Então não é verdade que nós temos uma letalidade acima da brasileira.”

A cidade acumula 483 óbitos em decorrência do novo coronavírus, com 24.071 casos.

“Araraquara faz lockdown porque não tem uma política de vacinação acelerada, que nos dê condições de enfrentamento à pandemia. Araraquara só faz lockdown porque nós temos que evitar o colapso no sistema de saúde [...] Se nós tivéssemos no Brasil uma vacinação acelerada, se nós tivéssemos imunizando o povo brasileiro com a rapidez que a situação exige, certamente Araraquara e nenhuma cidade do estado de São Paulo ou do Brasil adotaria medidas restritivas.”

Edinho disse ainda que “é muito ruim” que tente se fazer disputa político-partidária em meio à pandemia.

"Penso que o presidente da República deveria estar usando a força de seu cargo para unificar nosso país, unir nosso país na defesa da vida, para que o Brasil, unido, pudesse vencer esse momento tão difícil da nossa história. Ao contrário disso, o presidente faz uma live, divulga inverdades e ataca uma cidade que tem procurado fazer o certo, que tem procurado seguir a ciência.”

O anúncio do novo lockdown em Araraquara foi feito nesta quinta-feira, depois de a cidade superar, pelo terceiro dia consecutivo, os índices estabelecidos de contaminação pela Covid-19 para manter o comércio aberto.

No mesmo dia, foram recebidos os resultados de 856 exames, dos quais 202 foram positivos, o que representa 23,59% do total. Decreto publicado pelo prefeitura estabelece que, se a taxa de positividade passar de 20% nos testes em geral (sintomáticos e assintomáticos) ou 30% nos sintomáticos por três dias seguidos ou cinco alternados em uma semana, as atividades econômicas serão fechadas por no mínimo uma semana.

À noite, Edinho disse acreditar que será a última vez que a cidade tomará medidas do tipo e que a decisão foi tomada como forma de evitar o colapso na rede hospitalar.

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