Hospital em SP libera acesso de visitantes com máscara de pano à ala de pacientes de Covid, contrariando protocolos

Familiares devem permanecer no quarto com infectados durante sete dias, inclusive ao se alimentar

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São Paulo

Com a flexibilização de visitas a pacientes internados com Covid-19, familiares relatam que nem todos os hospitais cumprem as medidas básicas para evitar o contágio pelo vírus. No Hospital Beneficência Portuguesa de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, é possível entrar na ala dos infectados apenas com máscara de pano e é obrigatório permanecer dentro do quarto por sete dias ininterruptos.

Um filho ouvido pela Folha e que prefere não se identificar relata que sofreu pressão para acompanhar a mãe recém-saída da UTI, com mais de 90 anos, para um quarto na ala de Covid. Ele conta que não recebeu instruções sobre quais procedimentos deveria adotar e nenhum equipamento de proteção, como máscara, luva, touca ou avental.

Viu outros acompanhantes usarem apenas uma máscara de tecido —que tem eficácia em média de 40% contra o coronavírus; enquanto uma máscara PFF2 ou N95, que deveria ser obrigatória nas visitas, consegue filtrar cerca de 98% das partículas de aerossol. Seu uso passou a ser recomendado inclusive fora dos hospitais, diante do maior potencial de transmissão de novas variantes.

Ainda segundo ele, também não existem critérios para ser acompanhante dos infectados na unidade, que é da rede privada: você pode ter mais de 60 anos, comorbidades, estar ou não vacinado. Também não há testagem antes, durante ou depois da visita, nem um termo de responsabilidade explicando os riscos.

No site, o hospital Beneficência Portuguesa informa que as visitas às enfermarias e UTIs de Covid estão suspensas, sendo liberados acompanhantes apenas no caso de menores de 18 anos, idosos a partir de 60 anos e pessoas com deficiência —o que não se confirma na prática.

A plataforma do hospital também informa que os acompanhantes da ala de Covid devem permanecer dentro do quarto junto ao paciente por sete dias ininterrupos.

Em um desses quartos, uma paciente de 90 anos era acompanhada pelo filho de 47 anos, e outra paciente, de 52 anos, pela filha, de 25. O distanciamento era minúsculo, e a regra de ouro é não sair em hipótese nenhuma. Ou seja, os familiares deveriam retirar a máscara e se alimentar do lado dos infectados, sem máscara e tossindo, por uma semana.

Como mostrou a Folha, alguns hospitais em São Paulo começaram a permitir visitas a internados por Covid-19, em unidades de terapia intensiva, semi-intensiva e enfermarias, embora parecer do Ministério da Saúde e orientação do Governo do Estado de São Paulo ainda as proíbam.

A justificativa dos médicos é a de que a presença dos familiares pode ajudar na recuperação do doente e que os protocolos foram mudando ao longo da pandemia, com aprendizados sobre o vírus e o tratamento.

Visitas ainda são exceções na maioria dos casos, e a decisão de autorizá-las, em geral, é tomada por uma equipe multidisplicinar, considerando os riscos e os benefícios.

Os parentes são alertados sobre os riscos de contaminação, devem assinar um termo de responsabilidade e recebem equipamentos de proteção individual —máscara N95, luva, touca e avental. Também é necessário manter distância do paciente e são evitadas as visitas de familiares idosos ou com comorbidades.

Procurada, a Secretaria de Estado da Saúde, sob gestão de João Doria (PSDB), informou que as visitações de pacientes internados com Covid não são recomendadas e que as informações sobre o estado de saúde dos pacientes devem ser realizadas cotidianamente por meio de boletim médico telefônico.

"Os hospitais também mantêm estratégias de humanização para que os pacientes internados tenham contato com os familiares, como, por exemplo, a visita virtual, com telechamada para contato de médicos e pacientes com seus familiares", afirmou, em nota.

Segundo a pasta, compete à prefeitura a fiscalização e orientação dos hospitais privados em relação às regras e protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

A Prefeitura de São José do Rio Preto afirmou que segue resolução do governo estadual, que bloqueia as visitas a esses pacientes. "Até o momento, o município não recebeu qualquer denúncia ou foi comunicado sobre a decisão ou de alguma ação parecida [de hospitais liberarem visitação presencial]."

OUTRO LADO

O Hospital Beneficência Portuguesa de São José do Rio Preto informou que segue rigorosamente as medidas recomendadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) quanto ao uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual).

A unidade também reafirmou que as visitas a pacientes com Covid estão suspensas desde o início da pandemia, mas que "excepcionalmente flexibiliza a presença de acompanhante para alguns pacientes, reconhecendo que é decisivo para a recuperação do interno".

"Como acontece em outros hospitais, na Bene Rio Preto adotou a troca de acompanhantes de sete em sete dias. Mesmo diante dos riscos, o acompanhante exerce um papel social e é orientado a não circular por áreas comuns sem supervisão ou orientação da equipe. É uma estratégia para diminuir a circulação de pessoas e, assim, reduzir o risco", afirmou em nota o hospital.

Segundo o texto, todos esses acompanhantes recebem orientação de como proceder dentro dos quartos, além de máscaras, aventais, álcool gel e luvas, que depois são descartados. Ainda de acordo com o hospital, há o rastreamento de sinais e sintomas dos acompanhantes pela equipe de enfermagem.

"Até o momento não houve registro de reclamações ou alerta de pacientes/acompanhantes sobre os protocolos utilizados pelo hospital. Em resposta aos denunciantes à Folha, a Bene Rio Preto se compromete em verificar os assuntos apontados."

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