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Coronavírus

Vacinação é mais rápida apenas na dose 1, mas pode atenuar casos graves de Covid

Mudança no estoque de doses permite que governadores faturem com antecipação de cronograma

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São Paulo

Desde o começo de junho, governadores anunciam que vão antecipar a vacinação de todos os adultos até outubro ou setembro. Ou seja, dar uma primeira dose de vacina contra a Covid-19 a todas pessoas com 18 anos ou mais. Neste domingo, João Doria antecipou essa meta para 15 de setembro, em São Paulo. Pode conseguir, caso o cronograma de vacinas do Ministério da Saúde se confirme inteiramente até lá.

Por que os planos agora são mais otimistas?

Em maio e junho aumentou a entrega de doses para o governo federal. Talvez mais importante, desde abril chegam mais vacinas da AstraZeneca e, desde maio, mais da Pfizer.

A mudança de estratégia faz sentido técnico, dada a mudança no estoque de vacinas disponíveis, dizem especialistas. Um coordenador da vacinação em São Paulo diz que “não há nem houve” pressão política para mudar planos de vacinação, mas “é compreensível e óbvio” que os governadores queiram “dar uma cara política boa à medida e faturar com uma decisão técnica que dá mais esperança e segurança às pessoas”. O coordenador prefere não se identificar.

É preciso aplicar a segunda dose da Coronavac entre 14 e 28 dias depois da primeira injeção. No caso dos produtos da AstraZeneca e da Pfizer, o intervalo entre as doses recomendado no Brasil é de 12 semanas. Assim, em tese, há menos risco de utilizar logo a maioria das doses de AstraZeneca e Pfizer na primeira injeção. Com mais tempo de espera para a segunda dose, é possível mudar planos caso ressurja o risco de chegarem menos vacinas. Em abril, 57% das doses aplicadas no Brasil foram utilizadas na primeira injeção. Em maio, 68%. Em junho, até o dia 12, 86%.

Com a Coronavac, dado o intervalo mais curto, é preciso aumentar o seguro, estocando mais doses. Em março e abril, o Ministério da Saúde recomendou aplicar logo as Coronavac na primeira dose. Foi um problema. A China entrega menos matéria-prima ao Butantan desde maio. Faltou dose para a segunda injeção, que atrasou em vários lugares do país.

Em março, 85,5% das doses entregues ao Programa Nacional de Imunização eram de Coronavac. Em maio, mais de 84% eram de AstraZeneca e Pfizer. Em junho, mais de 87% devem vir de AstraZeneca, Pfizer e Janssen (esta última de dose única).

Pela bula, o intervalo de aplicação das AstraZeneca e das Pfizer deveria ser menor do que o de 12 semanas. No entanto, estudos indicaram que a eficácia desses produtos é grande mesmo com uma primeira dose apenas. O Reino Unido, então, adotou a estratégia de antecipar a primeira picada e retardar a segunda dose a fim de atenuar o quanto antes o número de internações e mortes, no que foi seguido por alguns países da Europa continental.

Enfim, a vacinação é um pouco mais rápida porque há mais vacinas em geral. O progresso é muito lerdo e, assim, mais gente adoece e morre, desastre provocado pela negligência de Jair Bolsonaro e equipe. Mas há algum progresso.

Em maio, foram entregues ao governo federal cerca de 28% mais vacinas do que em abril; em junho, devem chegar 23% mais. Até agora, a perspectiva para julho é entre medíocre e ruim, no entanto. A previsão do Ministério da Saúde é de receber tantas doses quanto em maio, o que seria uma regressão.

Em junho, a média de doses aplicadas por dia está em cerca de 849 mil por dia, bem superior à de maio (662 mil) e a do recorde anterior, em abril (821 mil por dia). No entanto, a vacinação completa, com duas doses, como é fácil perceber, cresce de modo lentíssimo.

Faz sentido antecipar a primeira dose, diz o epidemiologista Paulo Lotufo, da USP. A crítica maior de Lotufo é outra.

“Estados e municípios precisam se concentrar em vacinações localizadas, ao estilo Serrana, ou então por faixa etária, abandonando a vacinação pela assim chamadas ‘comorbidades’, que tiveram impacto pequeno”, diz o epidemiologista. “Somente deveriam ser privilegiados aqueles com risco elevado como os trabalhadores de limpeza urbana”, diz.​

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