Descrição de chapéu Coronavírus

Bairro paulistano de Sapopemba busca vacinação em massa contra a Covid-19

Distrito da zona leste é o que registra maior número de óbitos pela doença na cidade

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São Paulo

Sapopemba, distrito no extremo da zona leste da capital paulista, quer sua população em uma bolha de imunidade coletiva contra a Covid-19 similar à de Serrana e Botucatu.

As duas cidades paulistas registraram queda no número de casos, internações e mortes provocadas pelo coronavírus após todos os seus moradores adultos terem sido imunizados contra o vírus Sars-CoV-2.

O distrito paulistano busca ser o endereço para um novo teste de vacinação em massa de pessoas acima de 18 anos, para tentar deixar o primeiro lugar em número absoluto de mortes causadas pela doença na cidade de São Paulo.

De acordo com última atualização de dados feita pela gestão de Ricardo Nunes (MDB), em 15 de julho, o distrito acumulava 1.292 mortes, entre casos confirmados e suspeitos. Apenas outros dois distritos, também localizados na periferia, têm até o momento mais de 1.000 óbitos por Covid-19: Grajaú (1.100) e Brasilândia (1.089).

O Grajaú é o distrito mais populoso da cidade, com cerca de 392 mil habitantes. Sapopemba é o quinto, com 290 mil, e Brasilândia, com 283 mil pessoas, ocupa a sétima posição.

Moradores, especialistas em saúde pública, médicos sanitaristas, políticos e organizações da sociedade civil, como a Brigada pela Vida, pressionam as secretarias de saúde do município e do estado.

As tratativas também envolvem o Instituto Butantan –responsável por envasar no país a vacina Coronavac, a fabricada pelo laboratório chinês Sinovac, e que também desenvolve uma droga própria–, já que eles pedem a reserva de doses específicas para a iniciativa.

A primeira versão do projeto-piloto, a que a Folha teve acesso, planeja acelerar a vacinação em parte das sete microáreas sanitárias do distrito, que seriam escolhidas em votação pelos próprios moradores para o mutirão de imunização.

A vacinação em massa, segundo o texto da iniciativa, só será efetiva caso sejam criadas condições para se fazer a testagem ampla dos moradores, o rastreamento de quem teve contato com pessoas infectadas e a garantia de isolamento dessas pessoas.

Testar, rastrear e isolar casos suspeitos são recomendações conhecidas pelas autoridades de saúde na gestão da pandemia, mas nem sempre são colocadas em ação de forma equânime.

O médico sanitarista Jorge Kayano, do Instituto Pólis, analisou dados do ritmo da vacinação na cidade de São Paulo e notou uma desigualdade vacinal nos seis primeiros meses da imunização contra a Covid-19.

A vacinação avança sem barreiras, segundo Kayano, por áreas mais ricas, urbanizadas, com amplo acesso a serviços, em detrimento dos bairros mais pobres e localizados nos extremos da cidade, caso de Sapopemba.

Em meados de junho, quando a segunda dose já havia sido aplicada, em média, a 14,3% da população da cidade de São Paulo, Sapopemba registrava áreas de seu território com cobertura vacinal bem abaixo disso, na casa dos 11%.

Microrregiões de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista, tinham cobertura de até 30%, conforme dados tabulados pelo médico sanitarista.

“É uma população que carece de informação qualificada e que, por medo de perder o emprego, não consegue tomar a vacina no horário de trabalho”, diz Kayano. “E que também enfrenta grandes deslocamentos pela cidade para manter a sobrevivência.”

Grandes deslocamentos sem proteção “só geram mais circulação do vírus entre os trabalhadores, que infectam seus filhos pequenos e os mais velhos que não saem de casa”, completa o pesquisador.

Reportagem da Folha mostrou, em março deste ano, o cotidiano difícil dos moradores de Sapopemba que, mesmo não imunizados, continuavam a enfrentar a superlotação entre ônibus, trens e metrô para chegar aos locais de trabalho. Naquela ocasião, o distrito já contava 667 óbitos por Covid.

A assistente social Francisca Ivaneide de Carvalho, 62, também lembra da proposta de se vacinar os moradores do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. “É um direito que precisa ir se espalhando pelos territórios mais desassistidos.”

Carvalho diz que a mobilização social construída em Sapopemba tem condições de fazer uma ação ordeira e sem “invasões de moradores de outros distritos vizinhos por uma vacina”. “Essa é a principal crítica ao nosso projeto.”

Sapopemba tem oficialmente cerca de 74 mil pessoas de entre 18 e 33 anos que ainda precisam receber ao menos uma dose da vacina contra a Covid-19. “Se nada for feito e já, o abismo social e sanitário da região tende a aumentar. Com um problema gravíssimo: mais vidas perdidas”, prevê Kayano.

OUTRO LADO

A Secretaria de Saúde da gestão de João Doria (PSDB) disse, por nota, que trabalha para vacinar toda a população de suas 645 cidades, independentemente do local de moradia, considerando as premissas básicas do SUS (Sistema Único de Saúde).

"Justamente por isso, toda distribuição de doses é feita com base em estimativas populacionais do IBGE 2020, cabendo aos municípios as estratégias de aplicação nas pessoas em conformidade com o calendário do PEI (Plano Estadual de Imunização)", afirmou.

As estratégias realizadas nos municípios de Serrana e Botucatu foram parte de estudos clínicos das vacinas do Butantan/Coronavac e Fiocruz/Astrazeneca/Oxford, "sendo inadequado o paralelo citado pela reportagem", afirmou a secretaria.

A Secretaria de Saúde da cidade de São Paulo afirmou que a campanha de vacinação acompanha o cronograma e calendário por faixas etárias. "A imunização avança de forma rápida em toda a cidade", disse a pasta em nota.

O Instituto Butantan buscava saber o teor da reunião com os representantes de Sapopemba para se posicionar. O Ministério da Saúde disse que estava verificando com sua área técnica se havia “pedido de vacinação em massa contra a Covid-19 em Sapopemba”.

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