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Folha errou ao não afirmar que dados sobre vacinas vencidas poderiam decorrer de falhas do sistema; texto foi alterado

Reportagem apontou problemas no processo de vacinação e registro de informações; quem recebeu AstraZeneca deve conferir lote e validade no cartão

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São Paulo

Reportagem da Folha sobre vacinas vencidas errou ao não deixar claro, em sua primeira versão, que os registros de 26 mil doses aplicadas fora do prazo de validade poderiam decorrer de erros do sistema do Ministério da Saúde.

Assim, o título original publicado no site ("Milhares no Brasil tomaram vacina vencida contra a Covid; veja se você é um deles") foi alterado para uma formulação mais precisa: "Registros indicam que milhares no Brasil tomaram vacina vencida contra a Covid; veja se você é um deles". Na edição impressa, o título publicado já contemplava a mudança realizada nas plataformas digitais.

Alterações da mesma natureza foram feitas no texto e nos infográficos da reportagem.

A diferença entre as versões é que, na primeira, estava embutida a suposição de que os dados do DataSUS constituem retrato fiel da realidade, ao passo que, na segunda, não há essa suposição.

Ainda assim, a reportagem apontou um problema real. Tanto que, após sua publicação, algumas cidades anunciaram processos de revacinação devido à aplicação de doses fora do prazo de validade. Outros municípios já haviam adotado o mesmo procedimento por conta própria semanas ou meses antes da reportagem.

Além disso, o fato de o sistema oficial conter falhas na inserção dos registros não significa que essas sejam as únicas falhas. Uma vez identificados os problemas, as prefeituras deveriam proceder à checagem ativa de todos os casos identificados pela Folha.

Por esse motivo, a reportagem publicou de forma clara os lotes envolvidos, suas respectivas datas de validade e os postos de vacinação que, segundo o sistema oficial, teriam feito as aplicações de doses vencidas.

Com base nessas informações, prefeituras e cidadãos podem checar se foram vacinados de forma adequada. Se o problema for do sistema, basta corrigi-lo; se a dose aplicada estava vencida, então é preciso seguir o protocolo sobre erro vacinal. A pessoa deve procurar um posto de saúde para orientações e acompanhamento e deve ser revacinada pelo menos 28 dias após a primeira dose.

O PNI (Programa Nacional de Imunização) e o Ministério da Saúde, por sua vez, precisam se manifestar sobre os dados de vacinas vencidas, considerados quebra de protocolo da vacinação. O programa é responsável por coordenar a imunização no país e a distribuição das vacinas. Cabe ao ministério acompanhar os dados oficiais e definir semanalmente orientações e recomendações às prefeituras e estados.

Os registros sobre as 26 mil vacinas vencidas no Brasil foram extraídos das bases de dados oficiais. Cada pessoa imunizada é registrada nessa plataforma com um código no campo “identificação do paciente”.

Não se sabe quem é essa pessoa, porque os dados pessoais são protegidos por lei, mas se sabe que é uma pessoa e tudo o que aconteceu com ela: dose recebida, onde, lote e data da vacinação.

Para trabalhar com essa informação, o primeiro passo foi localizar os casos de “identificação do paciente” duplicados na base, que foram excluídos.

Em seguida, foram selecionadas somente as doses de AstraZeneca, vacina que começou a ser aplicada no país em janeiro e tem validade de seis meses (metade do prazo de validade da Coronavac, que ainda não teve nenhum lote vencido).

Em outra base, a da Sala de Apoio de Gestão à Estratégica (Sage) do Ministério da Saúde, estão informações sobre a validade dos lotes das vacinas.

Na Sage, há uma relação de ordens de fornecimento e notas fiscais de distribuição das vacinas contra Covid pelo Ministério da Saúde aos estados com a identificação dos lotes, data de recebimento, data de validade do lote e quantidade distribuída. A data de validade de todos os lotes de AstraZeneca foi levantada e inserida em um banco de dados.

As informações, então, foram cruzadas de modo a comparar a data de validade dos lotes com a data de aplicação das doses. Isso foi feito a partir do campo "vacina data aplicação", que corresponde ao dia da imunização, e não do campo "data importação", que se refere ao dia em que os dados foram importados para o sistema.

Em 26 mil casos, a data da vacinação com AstraZeneca era posterior à data de validade do lote. A extração de dados do DataSUS foi realizada em 20 de junho, referente a dados sobre a vacinação até o dia anterior.

Todo o processo de coleta, limpeza, cruzamento, análise e verificação dos dados levou cerca de três semanas. ​

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