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Casos de síndrome respiratória voltam a subir no país, calcula Fiocruz

Tendência de queda da SRAG se reverteu pela primeira vez em quase três meses

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Rio de Janeiro

A curva de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil começa a dar sinais de estar subindo novamente, após quase três meses de queda. A conclusão é do último boletim InfoGripe da Fiocruz, que leva em conta dados dos dias 1º a 7 de agosto.

A linha se reverteu há pouco tempo. Se for analisada a chamada tendência a longo prazo, das últimas seis semanas, os números ainda indicam estabilidade ou oscilação. Já no curto prazo —ou seja, nas últimas três semanas—, a probabilidade de haver aumento no país é de mais de 75%.

"Isso é evidência forte de interrupção de queda e sugestivo de retomada do crescimento, que devemos reavaliar nas próximas semanas para confirmar", ressalta o epidemiologista Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, que espera ver o mesmo movimento nas internações e nos óbitos em breve.

A plataforma monitora os casos de síndrome respiratória registrados no sistema Sivep-Gripe, do Ministério da Saúde. Desde o ano passado, esse tipo de síndrome tem sido causada quase exclusivamente pelo coronavírus. Na análise, considera-se a data em que o paciente sentiu os primeiros sintomas.

As regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, principalmente, puxam a alta recente no país. Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Acre são os estados que dão sinais mais claros de retomada da doença, mas os flumineses são os que mais preocupam.

O estado do Rio é o único que registra tendência de aumento tanto a longo prazo quanto a curto prazo, desde meados de julho, inclusive na capital. O prefeito Eduardo Paes (PSD) chegou a anunciar um plano de flexibilização permitindo eventos a partir de setembro, mas depois sinalizou que deve voltar atrás.

Na contramão da maioria das unidades da federação, o RJ também tem visto a ocupação de seus leitos de UTI subir: de 59% há seis semanas, passou a 61% na semana passada e a 67% nesta semana. Rio e Goiânia são as capitais que mais preocupam, com 97% e 92% de lotação de leitos de UTI, segundo a Fiocruz.

Para Gomes, o crescimento dos casos de SRAG ainda não pode ser atribuído integralmente ao avanço da variante delta. "Essa tendência é algo que já acontece há algumas semanas, e o estabelecimento da delta é mais recente. Neste momento é mais razoável assumir que são outros fatores", diz.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, aplica vacina em residente da ilha de Paquetá, no Rio
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, aplica vacina em residente da ilha de Paquetá, no Rio - Andre Borges - 20.jun.21/AFP

Entre esses fatores, avalia, estão a redução de medidas de restrição e a maior circulação de pessoas nas ruas após a vacinação. "A população acaba se sentindo mais segura e reduzindo medidas de proteção, como usar máscara e evitar encontros em locais fechados", afirma.

Uma outra projeção feita por um pesquisador da fundação, Leonardo Bastos, mostrou na semana passada que as hospitalizações de idosos voltaram a subir tanto no Rio de Janeiro, a partir dos 60 anos, quanto em São Paulo, a partir dos 80 anos, após meses de queda ou estabilidade com a imunização.

Isso também indica, segundo Gomes, que a contribuição da vacina tem um teto. Como a cobertura vacinal nas faixas etárias mais velhas atingiu um nível muito alto e não é possível avançar mais, espera-se que a partir de agora o número de infecções entre os idosos siga a tendência coletiva.

"Se a transmissão está alta em outras faixas, vai aumentar entre os idosos também, porque as vacinas não são 100% eficazes contra a transmissão. Por isso não se deve depositar todas as fichas exclusivamente na vacina e relaxar os demais cuidados", pondera.

Uma outra hipótese para o aumento dos casos de SRAG seria da perda de proteção das vacinas ao longo do tempo, o que faz o Brasil e outros países estudarem e discutirem a eventual necessidade de um reforço na imunização. O epidemiologista, porém, não acha que esse fator é determinante para a alta geral ainda.

"Isso ainda está sendo pesquisado, principalmente nas pessoas acima dos 80 anos. Nas demais faixas etárias, não parece ser algo extremamente preocupante agora. Pode até contribuir, mas não é um fator predominante para explicar a alta em toda a população", diz.

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