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Pfizer e Moderna podem lucrar bilhões no mercado de doses de reforço da Covid-19

Empresas defendem necessidade de complemento de vacina para manter proteção

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Michael Erman
Nova York | Reuters

Os fabricantes de remédios Pfizer, BioNTech e Moderna podem lucrar bilhões de dólares com doses de reforço das vacinas para a Covid-19, em um mercado que pode rivalizar os US$ 6 bilhões anuais do mercado de vacinas para a gripe, nos próximos anos, disseram analistas de mercado e investidores do setor de saúde.

Há diversos meses, as empresas estão dizendo que antecipam que as pessoas completamente inoculadas necessitem de doses de reforço de vacina a fim de manter sua proteção ao longo do tempo e evitar novas variantes do coronavírus.

Agora, diante da variante delta, que vem se espalhando rapidamente, uma lista crescente de governos, entre os quais os do Chile, Alemanha e Israel, decidiram oferecer doses de reforço de vacina para seus cidadãos mais velhos, ou para pessoas com sistemas imunológicos mais fracos. O Reino Unido e os Estados Unidos, entre muitos outros países, devem seguir esse exemplo.

A Pfizer, em companhia de sua parceira alemã BioNTech, e a Moderna já registraram US$ 60 bilhões em contratos de venda da vacina para os anos de 2021 e 2022. Os contatos já assinados incluem a provisão das duas doses iniciais de suas vacinas, bem como outros bilhões de dólares em potenciais doses de reforço, nos países de alta renda.

Para o futuro, os analistas previram receita de mais de US$ 6,6 bilhões para a Pfizer/BioNTech e de US$ 7,6 bilhões para a Moderna em 2023, principalmente com doses de reforço. As empresas preveem que o mercado deva se assentar em torno dos US$ 5 bilhões anuais ou mais, e outros fabricantes de medicamentos devem competir por essas vendas.

Os fabricantes de vacinas dizem que indicações de redução do nível de anticorpos nas pessoas vacinadas, depois de seis meses, e o número crescente de contágios de pessoas já vacinadas, em países atingidos pela variante delta, sustentam a necessidade de doses de reforço.

Alguns dados iniciais sugerem que a vacina da Moderna, que ministra uma dose inicial mais forte, pode ser mais duradoura que a da Pfizer, mas ainda são necessárias pesquisas a fim de determinar se esse efeito é influenciado pela idade ou pelas condições de saúde subjacentes das pessoas vacinadas.

Como resultado, fica longe de claro quantas pessoas precisarão de doses de reforço, e com que frequência. O potencial de lucro das doses de reforço pode ser limitado pelo número de concorrentes que venham a ingressar no mercado. Além disso, alguns cientistas questionam se existem provas suficientes de que doses de reforço são necessárias, especialmente para pessoas mais jovens e saudáveis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu que os governos esperem antes de começar a ministrar doses de reforço até que um número maior de pessoas tenha recebido as doses iniciais de vacina, em todo o planeta.

“Não sabemos como serão as forças de mercado”, disse Stephen Hoge, presidente da Moderna, em entrevista na semana passada. “Em algum momento, esse vai se tornar um mercado mais tradicional – nós avaliaremos que população está em risco, que valor estamos criando, e quais são os produtos que oferecem esse valor. Isso terminará por exercer impacto sobre o preço”.

A Pfizer se recusou a comentar para este artigo. Durante o anúncio dos resultados do segundo trimestre da companhia, executivos disseram acreditar que uma terceira dose seria necessária de seis meses a oito meses depois da vacinação inicial, seguida por doses regulares de reforço posteriormente.

Um modelo para a vacina

Se doses de reforço regulares da vacina contra a Covid-19 forem necessárias para a população em geral, o mercado se tornaria mais semelhante ao de vacinas contra a gripe, que movimenta mais de 600 milhões de doses ao ano. Quatro concorrentes dividem o mercado de vacinas contra a gripe nos Estados Unidos, o mais lucrativo do planeta, respondendo por cerca de metade da receita mundial dessa categoria de produto, de acordo com David Ross, executivo da Seqirus, a unidade de vacinas contra a gripe da CSL, uma companhia especializada em vacinas.

O índice de vacinação contra a gripe nos países desenvolvidos se estabilizou em torno dos 50% da população, e as doses de reforço contra a Covid provavelmente devem seguir um padrão semelhante, caso venham a entrar em uso amplamente, disse Steve Chesney, analista da Atlantic Equities.

As vacinas contra a gripe custam de US$ 18 a US$ 25 por dose, de acordo com dados do governo dos Estados Unidos, e a concorrência mantém os preços sob controle; os fabricantes aumentaram seus preços por em média 4% a 5% em 2021.

A Pfizer e a Moderna podem ter poder de mercado maior para determinar os preços de suas doses de reforço, pelo menos inicialmente, até que surjam concorrentes. A Pfizer inicialmente cobrava US$ 19,50 por dose de vacina nos Estados Unidos, e 19,50 euros na União Europeia, mas já aumentou esses preços em 24% e 25%, respectivamente, em contratos subsequentes de fornecimento.

A AstraZeneca e a Johnson & Johnson estavam reunindo informações adicionais sobre doses de reforço de suas vacinas. Vacinas da Novavax, Curevac e Sanofi também poderiam ser usadas como doses de reforço, embora até agora não tenham sido aprovadas pelas autoridades regulatórias.

“Muitas dessas empresas ainda nem estão no mercado. Creio que dentro de um ano todas elas terão estratégias para as doses de reforço”, disse o analista Damien Conover, da Morningstar, que cobre a Pfizer.

Vamil Divan, analista da Mizuho Securities, antecipa que haverá pelo menos cinco participantes no mercado de doses de reforço das vacinas contra a Covid-19 dentro de alguns anos.

Ainda existe bastante incerteza sobre como as doses de reforço seriam lançadas nos Estados Unidos. Ainda assim, é possível ou até mesmo provável que pessoas recebam doses de reforço de vacinas diferentes da original. O Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos já está testando doses de reforço mistas, e outros países que usaram métodos de vacinação mistos não tiveram problemas com essa estratégia.

Um fator que poderia limitar os preços é o fato de que o governo dos Estados Unidos continua a pagar pela maioria das vacinas ministradas no país, se não todas, em lugar de deixar essa função para os operadores de planos de saúde privados. Em um cenário como esse, o governo continuaria a negociar preços diretamente com os fabricantes de vacinas e usaria seu poder de compra a fim de evitar aumentos de preços.

Bijan Salehizadeh, diretor executivo da Navimed Capital, uma companhia de investimento no setor de saúde, disse que era provável que o governo americano continuasse pagando, a fim de manter elevados os níveis de vacinação e impedir novos surtos da Covid, especialmente se o Partido Democrata continuar no poder.

“Eles continuarão pagando até que o vírus desapareça ou sofra uma mutação que o torne menos virulento”, disse Salehizadeh.

Tradução de Paulo Migliacci

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