Terceira dose de vacina contra Covid não é luxo, diz divisão europeia da OMS

Entidade afirma que cada governo deve olhar contexto de seu país para tomar decisão; declaração contradiz a da entidade global

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Bruxelas

A seção europeia da OMS (Organização Mundial da Saúde) defendeu nesta segunda (30) o reforço de vacinação contra Covid em pacientes vulneráveis, uma orientação que contrasta com a posição expressa pela direção-geral da entidade na semana passada.

Segundo Hans Kluge, diretor regional da OMS para a Europa, “uma terceira dose da vacina não é um reforço de luxo retirado de alguém que ainda está esperando pela primeira injeção; é basicamente uma forma de manter os mais vulneráveis ​​seguros”.

Anunciada também pelo Brasil e adotada por 15 nações europeias, entre cerca de 30 países no mundo, a vacinação de reforço havia sido chamada na semana passada de “erro técnico, moral e político” pelo diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus.

Braço com tatuagem da estrela de david e de um flamingo segura o braço de paciente e aplica injeção com a outra mão. Da paciente se vê apenas alças brancas de uma camiseta, um pouco de cabelo louro e uma tatuagem de gaivota,
Em Tel Aviv, israelense recebe terceira dose de vacina contra Covid em campanha de reforço iniciada no país do Oriente Médio - Amir Cohen/Reuters

Eram ao menos três os argumentos de diretores da entidade global. O primeiro, que experimentos científicos ainda não são conclusivos nem sobre a segurança nem sobre a eficácia da dose adicional.

Por causa disso, recursos escassos como os imunizantes deveriam ser usados em milhões de pessoas vulneráveis que não receberam nem a primeira dose, como idosos e profissionais de saúde em países pobres.

Uma terceira advertência foi a de que desviar as vacinas para os reforços em vez de distribuí-las no mundo elevaria a chance de aparecerem mutantes ainda mais transmissíveis que a variante delta e capazes de driblar as atuais vacinas.

Consultada para saber se havia nova orientação, a entidade ainda não havia respondido até as 16h15 (10h15, no Brasil).

Já Kluge, questionado sobre a contradição, disse que de fato ainda não há evidências conclusivas sobre a segurança e a eficácia de uma terceira dose (que ele prefere chamar de “dose adicional”, e não de reforço), o que pode ter levado à oposição da direção geral da entidade.

A falta de conclusão científica, porém, deve ser um dos dados avaliados pelos tomadores de decisão em cada país, com base no contexto local, disseram Kluge e o diretor responsável por imunização da OMS/Europa, Siddhartha Datta.

“Para tomar uma decisão de saúde pública, o responsável precisa olhar a situação epidemiológica de seu país, o avanço da campanha de vacinação, a disponibilidade de vacinas e as evidências”, disse Datta.

Como exemplo, um local em que a grande maioria da população está completamente imunizada, o número de casos entre vulneráveis está crescendo e há vacinas disponíveis para todos, a terceira dose pode ser recomendada.

De acordo com Kluge, cada vaz mais dados têm indicado que essa injeção adicional protege os mais vulneráveis. Segundo ele, o principal é sempre comunicar de forma transparente que as evidências não são conclusivas, quais os riscos e benefícios e não adotar a vacinação como a única arma contra a pandemia.

Medidas como testes em grande escala, combate a aglomerações e uso de máscaras quando o distanciamento não é possível devem ser mantidas, mesmo com vacinação abundante e adoção de reforço, disse o diretor regional da OMS/Europa.

Segundo Kluge, a situação da pandemia nos 53 países acompanhados por sua seção é “profundamente preocupante”, porque as campanhas de vacinação desaceleraram —tanto por falta de doses, em países mais pobres, quanto por hesitação, nos mais desenvolvidos—, enquanto a variante delta se espalha com mais rapidez.

Na semana passada, mais de 30 das nações avaliadas relataram um aumento de 10% ou mais em sua taxa de incidência de Covid-19 de 14 dias, segundo a OMS/Europa. Internações hospitalares cresceram e o número de mortes saltou 11% na média de toda a região.

Na entrevista, que foi feita em conjunto com o Unicef (agência da ONU para crianças), a OMS também exortou os governos a elevarem a prevenção do contágio em escolas neste início de ano letivo no hemisfério norte, evitando ao máximo suspender aulas.

Entre os cuidados estão garantir que professores e funcionários estejam vacinados e imunizar também crianças com mais de 12 anos vulneráveis. Ventilação das salas, turmas menores, testes regulares, distanciamento físico e uso de máscara quando ele não for possível também são recomendados.

“A pandemia causou a interrupção mais catastrófica da educação da história. É vital que a aprendizagem em sala de aula continue ininterrupta, para a educação, saúde mental e habilidades sociais das crianças”, afirmou Kluge.

A entidade também pediu que governos e colégios evitem interromper aulas presenciais sempre que aparecer um caso de Covid. “Contágios são esperados, pois escolas são locais de convívio. Mas o ideal é fazer testes amplos e regulares e isolar apenas casos confirmados”, diz o diretor.

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