Descrição de chapéu Coronavírus

Vacinação contra Covid de mãe que amamenta não traz risco ao bebê; tire dúvidas

Aleitamento leva anticorpos ao bebê e deve continuar após imunização, segundo especialistas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A rapidez com que as vacinas contra a Covid-19 foram desenvolvidas, testadas e começaram a ser aplicadas pode deixar algumas mães que amamentam com dúvidas sobre a segurança delas para os bebês e sobre o que exatamente passa para o leite depois da imunização.

Nesta semana do aleitamento materno, a Folha tira dúvidas sobre a relação entre esta prática e a imunização, já que, com o avanço da vacinação no Brasil, cada vez mais lactantes vêem chegar sua vez de mostrar o braço.

Até agora, especialistas e pesquisas indicam que as vacinas disponíveis contra a Covid-19 são seguras para as lactantes. Por outro lado, estudos apontam que vacinar as lactantes não imuniza de forma permanente o bebê, apesar de anticorpos da mãe passarem para o leite e ajudarem na proteção temporária da criança.

Algo que causa preocupação em algumas mulheres é o fato de que parte das vacinas contra a Covid usa um mecanismo novo, o chamado mRNA ou RNA mensageiro. É o caso das vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna (não disponível no Brasil).

Estudo publicado recentemente no periódico Jama Pediatrics, feito pelas pesquisadoras Yarden Golan, Mary Prahl e Ariana Cassidy, da Universidade da Califórnia (EUA), aponta que há pouco risco de nanopartículas de RNA mensageiro entrarem no tecido mamário ou serem transferidas para o leite.

As pesquisadoras analisaram amostras de leite pós-vacinação de sete mulheres, coletadas de 4 a 48 horas após a aplicação das vacinas da Pfizer ou da Moderna.

Apesar do número pequeno de participantes, a análise das amostras de leite revelou que nenhuma delas apresentou níveis detectáveis de RNA mensageiro. As pesquisadoras apontaram ainda que, mesmo que traços do RNA sobrevivam, provavelmente seriam destruídos ao passar pelo trato gastrointestinal dos bebês.

De acordo com Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a vacina contra Covid para a lactante é tão segura quanto para qualquer outra pessoa.

“Não é um grupo que tenha um risco específico para a vacina. Um erro que tem acontecido bastante é a contraindicação da amamentação para a mulher que se vacinou. Isso é um erro grave, porque não existe essa contraindicação”, diz.

A Organização Mundial de Saúde recomenda que as mulheres que amamentam sejam vacinadas e não aconselha parar a lactação após a imunização.

Segundo especialistas, as quatro vacinas usadas no Brasil são inativadas, ou seja, não há material vivo dentro delas, mas sim um pequeno trecho do código genético do coronavírus. Portanto, não apresentam riscos para o bebê.

“Não são vacinas [contra Covid] de componentes vivos, então, a princípio não há nenhuma plausibilidade biológica de causar algum dano”, diz Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Outras duas pesquisas publicadas recentemente no periódico Jama (Journal of the American Medical Association) apontaram que existe a transferência de anticorpos contra a Covid pelo leite de mães vacinadas, como já era esperado.

Um dos estudos, feito por Ai-ris Collier, da Escola de Medicina da Universidade Harvard (EUA), e colegas envolveu 103 mulheres, 30 das quais estavam grávidas e 16 amamentando, que tomaram as vacinas da Pfizer ou da Moderna.

A imunogenicidade (produção de resposta imune) foi demonstrada em todas as mulheres e os anticorpos produzidos pela vacina foram encontrados no sangue do cordão umbilical infantil e no leite materno. Mulheres grávidas e não grávidas também desenvolverem respostas imunes contra as variantes alfa (B.1.1.7, identificada originalmente no Reino Unido) e beta (B.1.351, identificada na África do Sul).

Uma terceira pesquisa, de Sivan Haia Perl, do Centro Médico Shamir em Israel, e colegas também analisou os anticorpos específicos para SARS-CoV-2 no leite materno após a vacinação. Ao todo 84 mulheres participaram do estudo, fornecendo 504 amostras de leite.

Todas as mulheres receberam duas doses da vacina Pfizer/BioNTech com 21 dias de intervalo. As amostras foram coletadas antes da aplicação da vacina e, depois, uma vez por semana durante seis semanas, começando na segunda semana após a primeira dose.

O estudo encontrou quantidade significativa de anticorpos IgA (imunoglobulina da classe A) e IgG (imunoglobulina da classe G) específicos para Sars-CoV-2 no leite materno durante seis semanas após a vacinação.

Isabella Ballalai explica que a mãe vacinada não transfere a imunização para o bebê pelo leite materno, mas sim anticorpos.

Segundo Renato Kfouri, esses anticorpos passivamente transmitidos pela mãe produzem uma imunidade temporária. Por não serem do bebê, eles ficam no corpo da criança por algum tempo e depois são eliminados.

“Não há nenhuma evidência de que vacinar a mãe protege da Covid-19 o bebê”, diz ele. “São situações muito difíceis de demonstrar proteção porque a doença é muito rara na criança, mas é uma boa notícia de qualquer forma ter um anticorpo lá.”

De acordo com Kfouri, a vacinação para a mulher que amamenta é essencial e segura, e não há nenhuma recomendação da comunidade científica indicando que a lactante não deva se vacinar contra Covid.

Caso a lactante venha a se infectar pelo coronavírus, especialistas indicam que ela pode continuar amamentando, desde que tenha todos os cuidados de prevenção da transmissão respiratória.

“A Covid não é transmitida pelo leite materno, mas sim por via respiratória. Essa mãe vai ter que usar máscara e ter todo um cuidado de higiene das mãos e das mamas”, diz Isabella Ballalai.


Tire dúvidas sobre amamentação e vacina contra a Covid

Há risco para o bebê que mama no peito caso a mãe se vacine?

Pesquisas e especialistas apontam que não. As vacinas aplicadas no Brasil são feitas com vírus inativado, ou seja, não há vírus vivo no imunizante. No caso das vacinas de mRNA, este não passa para o leite, apontam estudos.

Os anticorpos da mãe passam para o bebê pelo leite?

Estudos apontam que sim, já que os anticorpos são identificados no leite até seis semanas depois da vacinação da mãe.

Isso significa que o bebê também é vacinado quando a lactante se vacina?

Especialistas acreditam que não; o bebê recebe anticorpos da mãe que o protegem por algum tempo, mas não forma sua própria resposta imunológica. No entanto, como há poucos casos de Covid entre crianças pequenas, são necessários mais estudos.

Posso amamentar se estiver com Covid ou já tiver sido infectada?

Sim. Enquanto está com infecção ativa, a mãe deve usar máscara e higienizar bem as mãos e as mamas, mas o vírus não é transmitido pelo leite.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.