Descrição de chapéu Coronavírus

Butantan vai aplicar 3ª dose contra Covid em Serrana (SP) sem mostrar dados do estudo na cidade

Resultados sobre efetividade da imunização foram divulgados apenas de maneira preliminar para a imprensa

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São Paulo

O Instituto Butantan vai iniciar a aplicação de uma terceira dose em idosos com mais de 60 anos na cidade de Serrana, no interior de SP, na próxima segunda-feira (6).

A dose de reforço para essa população ocorre antes que os dados do estudo de efetividade da Coronavac em toda a população, conduzido pelo instituto entre os meses de fevereiro e maio na cidade, tenham sido publicados.

No resto do estado, o primeiro grupo a receber a dose adicional será o público com 90 anos ou mais, também a partir do dia 6 de setembro.

Segundo Dimas Covas, diretor do Butantan, cerca de 5.000 pessoas acima de 60 anos receberão a Coronavac em Serrana. As doses serão doadas pelo próprio instituto, que irá providenciar a vacinação junto com a prefeitura da cidade nas próximas semanas.

O governador João Doria e Dimas Covas, durante coletiva de imprensa no Instituto Butantan em São Paulo (SP), no dia 31 de maio, para abordar sobre o sucesso da vacinação na cidade de Serrana, que com mais de 75% da população vacinada, observou uma queda de 95% nos óbitos por Covid-19 na cidade
O governador João Doria e Dimas Covas, durante coletiva de imprensa no Instituto Butantan em São Paulo (SP), no dia 31 de maio, para abordar sobre o sucesso da vacinação na cidade de Serrana, que com mais de 75% da população vacinada, observou uma queda de 95% nos óbitos por Covid-19 na cidade - Rogério Galasse - 31.mai.21/Futura Press/Folhapress

A decisão foi tomada pelo Butantan e pela Secretaria Estadual de Saúde para acelerar a aplicação no município, de acordo com Gustavo Volpi, coordenador da etapa sorológica do estudo em Serrana, denominado Projeto S.

“O objetivo é seguir a diretriz do estado, em um passo mais acelerado, mas não houve nenhuma mudança nos dados referentes à cidade que possa indicar uma necessidade [de dose reforço]”, afirmou.

O anúncio foi feito na tarde desta quarta (2) em entrevista à imprensa do governo no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.

Diversos estudos apontam para uma redução da taxa de anticorpos no corpo decorridos de seis a oito meses após a aplicação das vacinas. Isto não significa que elas deixem de funcionar, mas uma dose reforço pode ajudar o organismo a gerar mais resposta protetora.

O Projeto S foi desenhado para avaliar em um intervalo relativamente curto o efeito da vacinação em massa em todos os adultos de uma cidade para controle da pandemia. O estudo dividiu a população de Serrana em quatro grupos, segundo os bairros da cidade, e cada um deles recebeu a vacina com uma semana de diferença.​

No dia 31 de maio, o Butantan divulgou os resultados preliminares do projeto: com 95,7% da população acima de 18 anos vacinada, houve uma redução de 95% de mortes, 86% de internações e 80% de casos sintomáticos por Covid.

Apesar de os resultados serem positivos, eles foram apresentados exclusivamente nessa data, com informações já prontas, sem a possibilidade de análise dos dados brutos.

Volpi afirmou ainda que acabou de ser finalizado o primeiro período de acompanhamento de três meses dos dados de Serrana e que um artigo científico já está sendo desenvolvido pelos autores do estudo. A expectativa é que a publicação ocorra nos próximos meses.

É importante que o instituto divulgue os dados do estudo para que seja feita a chamada avaliação por pares. Só com os números na mão outros cientistas conseguem analisar os resultados e replicar as análises feitas pelo grupo, o que não é possível de ser feito com o que foi apresentado pelo instituto até o momento.

Nas redes sociais, o Butantan vem sendo questionado por especialistas e pelo público em geral quanto aos dados do estudo. Um dos pontos levantados é que o balanço mensal de casos e mortes por Covid na cidade disponível nos boletins epidemiológicos divulgados na página da prefeitura não apontam essa redução.

A resposta do pesquisador principal do estudo, Ricardo Palacios, que saiu do instituto no início de agosto e não faz mais parte da equipe de pesquisa, é que o estudo de Serrana faz uma razão de incidência relativa, isto é, avalia qual a incidência da doença na região.

Quem for tentar fazer as contas com os números da apresentação ou com o balanço epidemiológico da cidade não irá chegar a esses valores porque o cálculo utiliza um modelo matemático complexo, explicou ele à época da divulgação.

Esse é mais um dos argumentos levantados por pesquisadores independentes que questionam a não disponibilização dos dados. Saber quais fatores externos à vacina foram incluídos na pesquisa —como, por exemplo, casos de pessoas que moram em outros municípios e se infectaram, mas foram atendidos na rede pública de Serrana— também é importante, dizem.

Além disso, ainda não foi divulgado o número de pessoas que participaram do estudo em cada faixa etária. Essa última informação seria especialmente relevante para apoiar a decisão de uma terceira dose nessa população ou a aplicação de um esquema misto de vacinas.

Vacinação de idosos contra a Covid-19 no drive-thru do estádio do Pacaembu, em São Paulo
Vacinação de idosos contra a Covid-19 no drive-thru do estádio do Pacaembu, em São Paulo - Danilo Verpa - 28.fev.21/Folhapress

Na divulgação preliminar, foram apresentados dados de redução de incidência de hospitalizações e óbitos em pessoas com 70 anos ou mais. Antes da primeira semana do estudo, a incidência de internações e mortes em pessoas com 70 anos ou mais e com 80 anos ou mais era de 4 e 1, respectivamente. Essa incidência caiu para um nas duas faixas etárias duas semanas após a segunda dose no último grupo, mas o total de idosos incluído em cada grupo é desconhecido.

Até o momento, a população também desconhece dados de imunogenicidade da Coronavac em pessoas com mais de 60 anos no Brasil. Na última semana, um estudo de pesquisadores do InCor (Instituto do Coração) e da USP indicou para uma menor proteção fornecida tanto por anticorpos como por células de defesa em pessoas com mais de 55 anos que tomaram as duas doses da Coronavac em relação aos chamados convalescentes, que se infectaram no passado e recuperaram.

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