Descrição de chapéu Coronavírus

Especialistas defendem uso da Coronavac na terceira dose contra Covid

Doria escalou time para rebater críticas ao imunizante fabricado pelo Butantan

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São Paulo

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), transformou uma entrevista coletiva nesta quarta-feira (8) num evento em defesa da Coronavac. O imunizante esteve na berlinda nos últimos dias, especialmente devido ao seu uso na terceira dose de vacina contra Covid em idosos.

Como a Folha mostrou no sábado, diversos especialistas afirmam que não há base científica para usar a Coronavac da forma como vem sendo defendida pelo governo paulista. De acordo com eles, aplicar uma dose adicional dessa vacina não é suficiente para gerar a proteção necessária nos mais velhos.

Nesta quarta, no Palácio dos Bandeirantes, Doria rebateu os questionamentos. "Não quero com isso fazer nenhuma acusação a nenhum cientista, médico, mas é preciso repor de maneira clara a informação", disse o governador durante tradicional encontro com a imprensa no qual costuma falar sobre medidas de combate ao coronavírus.

João Doria, de máscara preta, recebe vacina no braço esquerdo.
O governador de São Paulo, João Doria, recebe a primeira dose da Coronavac, no começo de maio - Bruno Santos/Folhapress

Para defender o uso da Coronavac, Doria escalou o seu time de especialistas, o chamado Comitê Científico, grupo criado em agosto após o conselho original, batizado de Centro de Contingência, ter sido dissolvido em meio a desentendimentos. O assunto é sensível porque a vacina fabricada no Brasil pelo Instituto Butantan é a principal vitrine do tucano em seu projeto de disputar a Presidência em 2022.

Além disso, o Ministério da Saúde deixou a Coronavac de fora de sua lista de imunizantes a serem usados como terceira dose em pessoas com mais de 70 anos ou pacientes imunossuprimidos. Para o governo federal, o reforço vacinal deve ser feito preferencialmente com a Pfizer.

"Temos que incluir todas as vacinas para a aplicação da terceira dose tanto de idosos quanto de imunossuprimidos", afirmou o secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn.

"Nós não podemos hoje escolher imunizantes porque temos uma resposta de proteção extremamente importante", disse Gorinchteyn, num apelo ao Ministério da Saúde. "É assim que se fará no estado de São Paulo, utilizaremos todas as vacinas que estiverem disponíveis para proteger a nossa população."

O médico João Gabbardo, coordenador-executivo do Comitê Científico, reforçou o ponto. "Estamos mantendo o discurso que já tínhamos no início da vacinação, de que as pessoas devem tomar a vacina que está disponível, porque todas elas são seguras e têm a sua eficácia comprovada."

De acordo com ele, "não existe nenhuma justificativa para dizer que uma plataforma ou fabricante tem vantagem em relação a outro".

Eloísa Bonfá, diretora clínica do Hospital das Clínicas e membro do Comitê Científico, afirmou que ainda não existem evidências de qualidade que ajudem a definir se a terceira dose deve ser dada com a mesma vacina ou com outra.

"Vale a pena fazer com a vacina disponível, que já se mostrou efetiva e continua sendo efetiva. É um time que está ganhando", disse Bonfá. "A falta de evidência não pode ser utilizada como evidência a favor ou contra [o uso dos imunizantes]".

O nefrologista José Medina, que também integra o comitê, seguiu na mesma linha. "A proposta da terceira dose é uma proposta recente. Então, se deve ser utilizada a mesma plataforma de vacina na terceira dose ou se deve ser misturado ainda é um assunto que não tem comprovação científica bem sedimentada", disse.

Medina afirmou que tem sido feito estudo em grupo de pacientes transplantados com alto índice de mortalidade por coronavírus. Nesses casos, mesmo após a terceira dose, não houve resultados satisfatórios, o que leva os profissionais a estudar a aplicação de uma quarta dose.

Na entrevista coletiva, Doria também tratou da recente decisão da Anvisa de barrar 12 milhões de doses de Coronavac envasadas em fábrica sem autorização. São 25 lotes do imunizante que estão nessa situação.

A medida é cautelar e proíbe a distribuição e o uso desses lotes porque eles foram envasados em uma planta não aprovada pela Anvisa na avaliação de uso emergencial da vacina. A decisão tem validade de 90 dias.

Segundo a Anvisa, os lotes foram envasados em uma unidade da empresa chinesa Sinovac, parceira do Instituto Butantan, que não passou por inspeção ou análise da agência.

"A qualidade da vacina Coronavac é incontestável, a própria Anvisa já se manifestou neste sentido", disse Doria. Segundo ele, não houve nenhuma ocorrência com pessoas que tomaram os lotes.

O secretário Jean Gorinchteyn também defendeu a vacina. "Todas as doses passaram por um rígido controle de qualidade, seja pelo Instituto Butantan e pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade, vinculado à Fiocruz".

O Butantan afirmou que a mudança no local de fabricação foi detectado, e a Anvisa, notificada. Em meio ao aumento da capacidade produtiva da Sinovac, os lotes interditados foram feitos em uma nova linha de envase do complexo da empresa.

Documentação já foi enviada à Anvisa e outra parte deve ser enviada nesta semana.

"Toda essa nova linha de envase foi certificada pela NMPA (National Medical Products Administration) da China. Essa inspeção está sendo encaminhado para a Anvisa, para que a Anvisa reconheça que foi feito o controle de qualidade como deveria ser", disse Rui Curi, diretor do Instituto Butantan.

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