Metrô de SP recebe mais de 7.600 denúncias de passageiros sem máscara em 2021

Infectologistas dizem que é grande o risco de contaminação no transporte público

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São Paulo

A lei exige e as normas básicas de convivência social pedem, mas mesmo assim ainda há quem fique nas estações e trens do metrô sem máscara, o que facilita a disseminação do coronavírus. Essas pessoas, no entanto, não passam despercebidas pelos demais passageiros, tanto que foram feitas 7.692 denúncias de usuários sem a proteção facial entre janeiro e julho deste ano em todas as linhas do metrô, incluindo aquelas administradas por concessionárias.

Quem se sente incomodado por dividir o vagão ou a plataforma com outro passageiro que desrespeita a exigência de máscara em locais públicos pode acionar a companhia pelo aplicativo Metrô Conecta ou por mensagem de texto (para o número 11 97333-2252). Quem embarca nas estações sabe que não é raro cruzar com alguém sem a proteção.

“Não uma, mas duas, três vezes”, afirma a doméstica Bete Albuquerque, 51, sobre a quantidade de ocasiões em que já viu outros passageiros sem máscara. “Incomoda, porque a gente fica com medo até de estar perto. Não denunciei, porque são os seguranças que têm que ver isso”, diz.

O ambulante Cleidiel Pina, 19, vê uma situação ainda mais comum na porta da estação Chácara Klabin, das linhas 2-verde e 5-lilás. “Quando se aproximam, eles colocam a máscara. E logo depois de sair, muitas pessoas tiram. Nas ruas, o povo já está deixando de mão”, afirma.

Entre infectologistas, a certeza é de que o transporte público em geral tem características que ajudam o coronavírus a se propagar. “É o risco de transmissão em local fechado, com ventilação pobre, o que inclui metrô, ônibus e trens, que não possuem um filtro Hepa [de alta eficiência na retenção] como há, por exemplo, em ambientes hospitalares controlados e em aeronaves”, diz Jamal Suleiman, do Instituto Emílio Ribas.

Segundo Suleiman, depois de mais de um ano de alertas sucessivos sobre a necessidade de uso de máscara e dos riscos da transmissão, quem cruzar com alguém sem máscara no transporte público tem uma única alternativa. “A recomendação é saia de perto desse sujeito. Não adianta ficar discutindo.”

Suleiman também usa o metrô para se deslocar e disse que, na última quinta-feira (2), viu muita gente ainda com máscaras de pano. “São trabalhadores e fazem esse esforço, porque não podem gastar dinheiro, obviamente, com uma máscara mais segura. Nisso, o país ainda insiste em não dispensar máscara seguras, o que é uma pena”, afirma. Segundo o especialista, o cenário ideal seria que todas as pessoas já estivessem usando máscaras do tipo N95 ou PFF2, com proteção maior.

Infectologista e professora da Unicamp, Raquel Stucchi também reforça a necessidade do uso de máscaras e diz que, não só no Brasil, a recusa à proteção tem sempre uma justificativa político-partidária e nenhum embasamento científico. “Ao longo desses 19 meses de pandemia, temos inúmeras evidências do grande benefício que é usar máscaras para conter a transmissão e inúmeros trabalhos que certificam a segurança de se usar também”, diz.

A professora da Unicamp lembra que as autoridades devem fiscalizar e exigir a máscara no transporte público, tomando medidas contra quem descumprir a lei. “O problema não é só para a pessoa que não usa. Ela coloca em risco a saúde de todos”, destaca. “Se houver um número maior desses que infringem a lei, você coloca em risco todas as medidas e todo o esforço, todo investimento nas medidas sanitárias para conter a pandemia”, explica.

O Metrô considera que foi pioneiro em exigir as máscaras nos locais que são de circulação pública. A companhia também afirma que, além de campanhas para o estímulo à proteção, envolvendo a distribuição de 1 milhão de unidades pelas estações, foi inserida no aplicativo Metrô Conecta a opção de comunicar rapidamente sobre passageiros que não a utilizam ou o fazem de forma incorreta, possibilitando que funcionários atuem, orientando-os para o modo adequado.

A companhia afirma que, se houver resistência, os funcionários devem conscientizar o passageiro sobre os problemas que o uso incorreto pode causar e relembrar que há uma lei que determina a utilização em locais públicos. "Em último caso, o descumprimento leva o passageiro a perder o direito de viagem, sendo convidado a se retirar do sistema", informam, em nota.

Segundo o Metrô, as 854 denúncias recebidas em julho, por exemplo, correspondem a 0,04% do total de passageiros e representam um número 36% menor do que o registrado em janeiro (1.329).

“A eficácia dessas medidas depende também da colaboração do passageiro, que deve fazer o uso correto das máscaras ou comunicar ao Metrô sobre o uso inadequado. Importante lembrar que a entrada no sistema sem máscara é proibida e, além de orientar, muitos funcionários oferecem máscaras para aqueles que não a possuem”, afirma a companhia, em nota.

Já a ViaQuatro e ViaMobilidade, concessionárias responsáveis pela operação e manutenção das linhas 4-amarela e 5-lilás, dizem que os agentes de atendimento e segurança orientam os passageiros para que todos dentro do sistema façam o uso correto de máscaras, o que é obrigatório no transporte público em São Paulo desde 4 maio de 2020.

As concessionárias informam que veiculam vídeos, comunicados sonoros e cartazes sobre medidas de prevenção. Também afirmam que os trens passam diariamente por um processo de higienização, em complemento à limpeza manual feita habitualmente, que utiliza um sistema de nebulização por névoa seca com um produto específico para eliminar bactérias, fungos, germes e vírus, incluindo o coronavírus, aprovado pela Anvisa, e com eficácia de 72 horas.

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