Autoridades de saúde federais americanas recomendaram que a Casa Branca reveja o plano de aplicar doses de reforço da vacina contra coronavírus no final deste mês, porque os órgãos reguladores precisam de mais tempo para coletar e rever todos os dados necessários.
A doutora Janet Woodcock, comissária em exercício da FDA (agência reguladora dos Estados Unidos), e a doutora Rochelle Walensky, chefe do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), informaram a cúpula do governo americano na última quinta-feira (2) que as entidades devem decidir nas próximas semanas se recomendam doses de reforço para as pessoas que receberam a vacina da Pfizer-BioNTech.
As duas líderes de saúde apresentaram seu argumento em uma reunião com Jeffrey Zients, o coordenador da pandemia da Casa Branca. Várias pessoas que souberam do encontro disseram que não ficou claro como Zients reagiu. Mas ele tem insistido há meses que a Casa Branca sempre seguirá a recomendação dos cientistas do governo.
Indagado sobre a reunião, um porta-voz da Casa Branca disse na sexta (3): "Nós sempre dissemos que seguiríamos a ciência, e isto tudo faz parte de um processo que está em andamento". Ele acrescentou que o governo está esperando uma "revisão completa e aprovação" da vacinação de reforço pela FDA, assim como uma recomendação do CDC.
"Quando essa aprovação e recomendação forem feitas", disse o porta-voz Chris Meagher, "estaremos prontos para implementar o plano que os principais médicos de nosso país desenvolveram para estarmos à frente do vírus".
Menos de três semanas atrás, o presidente Joe Biden disse que, dependendo da aprovação da FDA, o governo pretendia iniciar o reforço vacinal na semana de 20 de setembro, para adultos que já receberam a segunda dose da vacina da Pfizer ou da Moderna pelo menos oito meses atrás.
Isso incluiria muitos trabalhadores de saúde e moradores de lares de idosos, assim como pessoas com mais de 65 anos, que geralmente foram as primeiras a ser vacinadas. Autoridades do governo disseram que os receptores da vacina de dose única da Johnson & Johnson provavelmente também poderão tomar uma dose adicional em breve
Biden apresentou a estratégia como mais uma ferramenta de que o país precisava para combater a variante delta do vírus, altamente contagiosa, que fez aumentar as taxas de infecção por Covid-19, lotou os hospitais com pacientes e agora está causando mais de 1.500 mortes por dia, em média.
"O plano é que cada adulto receba uma dose de reforço oito meses depois da segunda dose", disse Biden em 18 de agosto. "Isso os deixará mais seguros por mais tempo. E nos ajudará a acabar com a pandemia mais depressa."
Assim como o presidente, membros de sua equipe de reação à pandemia disseram que o plano de reforço dependia da autorização da FDA e do CDC. Woodcock e Walensky ajudaram a criar o plano e o apoiaram publicamente. Alguns especialistas em saúde pública disseram que, ao fazê-lo, elas aumentaram a pressão sobre os cientistas que avaliam as evidências do reforço em seus respectivos órgãos para que sigam a estratégia do governo.
"Agora essas agências estão numa situação difícil", disse o doutor Steven Joffe, professor de ética médica e políticas de saúde na Universidade da Pensilvânia. "Queremos que médicos, cientistas e o público confiem nas recomendações e decisões que forem tomadas, para que vejam que a FDA e o CDC estão fazendo sua devida diligência."
Em particular, Woodcock afirmou que era arriscado fechar uma data para a dose de reforço antes que os reguladores tenham a oportunidade de rever completamente os dados, alguns dos quais ainda precisam ser apresentados pelos fabricantes.
E, desde que a Casa Branca anunciou o plano de reforço, em meados de agosto, surgiram novos obstáculos.
Um dos motivos do adiamento é que os reguladores precisam de mais tempo para decidir a dose adequada para o reforço da vacina da Moderna. O pedido de autorização da companhia contém dados insuficientes, segundo uma autoridade federal informada do processo. Outros dados esperados da Johnson & Johnson também não foram entregues.
Adiar o plano de reforço poderá confundir o público e criar a ideia de que a política de vacinação federal está de certa forma desorganizada. Mas alguns especialistas em saúde pública devem recomendar isso.
Eles vêm afirmando enfaticamente que o governo não tem dados para justificar uma ampla aplicação de doses extras e deveria se concentrar em vacinar os cerca de 25% de americanos que se qualificam para ser imunizados, mas continuam desprotegidos.
Diversos estudos mostraram que a eficácia das vacinas da Pfizer-BioNTech e da Moderna contra a infecção diminui ao longo do tempo, mas sugerem que os imunizantes continuam oferecendo proteção robusta contra a doença severa e a hospitalização.
Mas o secretário de Saúde americano, Vivek Murthy, disse em entrevista na quinta-feira que alguns estudos sugerem uma queda na proteção contra a doença grave com o tempo. "Nossa sensação é de que, se esperarmos vários meses, veremos cair a proteção contra hospitalização e mortes", disse ele.
Em entrevista publicada na quinta em WebMD.com, Woodcock repetiu essa opinião, dizendo que a tendência de novo avanço das infecções levou as autoridades de saúde a acreditar que em certa altura "vamos ter internações e doenças mais graves" entre pessoas totalmente vacinadas. Quando isso acontecer, disse, "queremos estar prontos" com o plano de reforço.
Alguns americanos já estão recebendo reforço da imunização antes da aprovação pela FDA: mais de 1 milhão de pessoas totalmente vacinadas receberam uma dose adicional desde meados de agosto.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.