Descrição de chapéu The New York Times

Órgãos de saúde pedem que governo dos EUA adie terceira dose de vacina contra Covid

Entidades reguladoras querem mais tempo para analisar os dados; promessa de Biden é iniciar a campanha em 20 de setembro

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Sharon Lafraniere Noah Weiland
Washington | The New York Times

Autoridades de saúde federais americanas recomendaram que a Casa Branca reveja o plano de aplicar doses de reforço da vacina contra coronavírus no final deste mês, porque os órgãos reguladores precisam de mais tempo para coletar e rever todos os dados necessários.

A doutora Janet Woodcock, comissária em exercício da FDA (agência reguladora dos Estados Unidos), e a doutora Rochelle Walensky, chefe do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), informaram a cúpula do governo americano na última quinta-feira (2) que as entidades devem decidir nas próximas semanas se recomendam doses de reforço para as pessoas que receberam a vacina da Pfizer-BioNTech.

As duas líderes de saúde apresentaram seu argumento em uma reunião com Jeffrey Zients, o coordenador da pandemia da Casa Branca. Várias pessoas que souberam do encontro disseram que não ficou claro como Zients reagiu. Mas ele tem insistido há meses que a Casa Branca sempre seguirá a recomendação dos cientistas do governo.

Mulher recebe dose de reforço da vacina da Pfizer em Schwenksville, Pennsylvania, no último dia 14
Mulher recebe dose de reforço da vacina da Pfizer em Schwenksville, na Pensilvânia, no último dia 14 - Hannah Beier/Reuters

Indagado sobre a reunião, um porta-voz da Casa Branca disse na sexta (3): "Nós sempre dissemos que seguiríamos a ciência, e isto tudo faz parte de um processo que está em andamento". Ele acrescentou que o governo está esperando uma "revisão completa e aprovação" da vacinação de reforço pela FDA, assim como uma recomendação do CDC.

"Quando essa aprovação e recomendação forem feitas", disse o porta-voz Chris Meagher, "estaremos prontos para implementar o plano que os principais médicos de nosso país desenvolveram para estarmos à frente do vírus".

Menos de três semanas atrás, o presidente Joe Biden disse que, dependendo da aprovação da FDA, o governo pretendia iniciar o reforço vacinal na semana de 20 de setembro, para adultos que já receberam a segunda dose da vacina da Pfizer ou da Moderna pelo menos oito meses atrás.

Isso incluiria muitos trabalhadores de saúde e moradores de lares de idosos, assim como pessoas com mais de 65 anos, que geralmente foram as primeiras a ser vacinadas. Autoridades do governo disseram que os receptores da vacina de dose única da Johnson & Johnson provavelmente também poderão tomar uma dose adicional em breve

Biden apresentou a estratégia como mais uma ferramenta de que o país precisava para combater a variante delta do vírus, altamente contagiosa, que fez aumentar as taxas de infecção por Covid-19, lotou os hospitais com pacientes e agora está causando mais de 1.500 mortes por dia, em média.

"O plano é que cada adulto receba uma dose de reforço oito meses depois da segunda dose", disse Biden em 18 de agosto. "Isso os deixará mais seguros por mais tempo. E nos ajudará a acabar com a pandemia mais depressa."

Assim como o presidente, membros de sua equipe de reação à pandemia disseram que o plano de reforço dependia da autorização da FDA e do CDC. Woodcock e Walensky ajudaram a criar o plano e o apoiaram publicamente. Alguns especialistas em saúde pública disseram que, ao fazê-lo, elas aumentaram a pressão sobre os cientistas que avaliam as evidências do reforço em seus respectivos órgãos para que sigam a estratégia do governo.

"Agora essas agências estão numa situação difícil", disse o doutor Steven Joffe, professor de ética médica e políticas de saúde na Universidade da Pensilvânia. "Queremos que médicos, cientistas e o público confiem nas recomendações e decisões que forem tomadas, para que vejam que a FDA e o CDC estão fazendo sua devida diligência."

Em particular, Woodcock afirmou que era arriscado fechar uma data para a dose de reforço antes que os reguladores tenham a oportunidade de rever completamente os dados, alguns dos quais ainda precisam ser apresentados pelos fabricantes.

E, desde que a Casa Branca anunciou o plano de reforço, em meados de agosto, surgiram novos obstáculos.

Um dos motivos do adiamento é que os reguladores precisam de mais tempo para decidir a dose adequada para o reforço da vacina da Moderna. O pedido de autorização da companhia contém dados insuficientes, segundo uma autoridade federal informada do processo. Outros dados esperados da Johnson & Johnson também não foram entregues.

Adiar o plano de reforço poderá confundir o público e criar a ideia de que a política de vacinação federal está de certa forma desorganizada. Mas alguns especialistas em saúde pública devem recomendar isso.

Eles vêm afirmando enfaticamente que o governo não tem dados para justificar uma ampla aplicação de doses extras e deveria se concentrar em vacinar os cerca de 25% de americanos que se qualificam para ser imunizados, mas continuam desprotegidos.

Diversos estudos mostraram que a eficácia das vacinas da Pfizer-BioNTech e da Moderna contra a infecção diminui ao longo do tempo, mas sugerem que os imunizantes continuam oferecendo proteção robusta contra a doença severa e a hospitalização.

Mas o secretário de Saúde americano, Vivek Murthy, disse em entrevista na quinta-feira que alguns estudos sugerem uma queda na proteção contra a doença grave com o tempo. "Nossa sensação é de que, se esperarmos vários meses, veremos cair a proteção contra hospitalização e mortes", disse ele.

Em entrevista publicada na quinta em WebMD.com, Woodcock repetiu essa opinião, dizendo que a tendência de novo avanço das infecções levou as autoridades de saúde a acreditar que em certa altura "vamos ter internações e doenças mais graves" entre pessoas totalmente vacinadas. Quando isso acontecer, disse, "queremos estar prontos" com o plano de reforço.

Alguns americanos já estão recebendo reforço da imunização antes da aprovação pela FDA: mais de 1 milhão de pessoas totalmente vacinadas receberam uma dose adicional desde meados de agosto.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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