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Vírus ebola pode ser reativado em sobrevivente anos após infecção, diz estudo

Trabalho publicado na revista Nature analisou amostras de pacientes infectados em epidemia na Guiné

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Sarah Hussein Julien Dury
Paris | AFP

As pessoas que sobreviveram ao ebola durante uma epidemia podem sofrer recaída e desencadear surtos pelo menos cinco anos após a infecção, sugere um estudo.

"Demonstramos claramente que, até mesmo depois de quase cinco anos (...), podem surgir novas epidemias através da transmissão por humanos infectados durante uma epidemia anterior", revelou um estudo publicado na última quarta-feira (15) na revista científica Nature.

Os autores chegaram a essa hipótese após analisar as amostras de vírus retiradas de 12 pacientes infectados durante a última epidemia neste ano na Guiné.

Campanha de vacinação contra ebola em agosto deste ano na Costa do Marfim, após a confirmação de casos da doença no país
Campanha de vacinação contra ebola em agosto deste ano na Costa do Marfim, após a confirmação de casos da doença no país - Luc Gnago/Reuters

Essa epidemia terminou em junho e deixou seis mortos. A cifra é baixa levando em consideração que a doença é relativamente pouco contagiosa, mas muito letal.

A epidemia de anos antes foi muito mais mortal, a pior da história do vírus, com mais de 11 mil mortos entre 2013 e 2016 na Guiné e nos países vizinhos.

No entanto, em cinco anos, o vírus mudou muito pouco. Essa é a conclusão a que chegaram os pesquisadores de três laboratórios (dois na Guiné e um no Senegal), que sequenciaram os vírus que originaram a epidemia de 2021.

Foi uma surpresa. O esperado era que o vírus sofresse muito mais mutações com o passar dos anos.
Por que? Como surgem as epidemias de ebola?

O vírus circula em algumas espécies de morcegos, que o transmitem a outros animais, como os macacos. Estes, por sua vez, contagiam as pessoas.

A maioria dos epidemiologistas considera que assim surgem as epidemias provocadas pelo vírus ebola. Mas o novo estudo põe essa tese em dúvida.

Se a epidemia de 2021 tivesse sido causada pela transmissão de um animal para o ser humano, então é provável que o vírus fosse muito diferente ao de 2013-2016.

Neste caso, viria de outra cepa que na cadeia de contágios (entre animais e depois aos humanos) teria sofrido várias mutações.

Os autores do estudo avaliam que o vírus permaneceu no corpo dos pacientes infectados anos antes. Teria sido novamente ativado, desencadeando, assim, uma epidemia.

Não é uma hipótese completamente nova. Já se sabia que o vírus pode permanecer no organismo. O chamativo é que seja capaz de causar uma nova doença tanto tempo depois da primeira infecção.

"É um novo paradigma: a possibilidade de um contágio a partir de um indivíduo infectado durante uma epidemia pode ser o ponto de partida de um novo surto", explica Alpha Keita, um dos principais autores.

Não há provas absolutas de que esse seja o caso, mas os dados se inclinam nesta direção. Alguns pesquisadores que não participaram do estudo também pensam assim.

São "resultados impressionantes e importantes", avalia Trudie Lang, especialista em saúde global da Universidade de Oxford.

"Essa nova epidemia parece ter sido um ressurgimento da anterior e não uma nova", afirma.

Mas, restam "muitas incertezas", relativiza. "O que faz com que a infecção latente se torne uma nova infecção e como estes casos devem ser geridos?"

A hipótese de um vírus latente em alguns sobreviventes tem repercussões na saúde pública, visto que os antigos pacientes vão precisar de acompanhamento.

Os autores do estudo e outros pesquisadores também temem que os sobreviventes vivam com o estigma de indivíduos perigosos.

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