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Em feito inédito, rim de porco é transplantado com sucesso para paciente humana

Procedimento experimental envolveu suíno com genes alterados para não provocar rejeição quase imediata

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Nancy Lapid
Reuters

Pela primeira vez, um rim de porco foi transplantado em um ser humano sem provocar rejeição imediata pelo sistema imune do receptor, um avanço potencialmente importante que poderá ajudar a aliviar a escassez de órgãos humanos para transplante.

O procedimento realizado no centro médico Langone Health da Universidade de Nova York envolveu o uso de um suíno cujos genes tinham sido alterados para que seus tecidos não contivessem mais uma molécula conhecida por provocar a rejeição quase imediata.

Uma pessoa com luvas segura um rim de porco em uma bacia
Um rim de porco geneticamente modificado é limpo e preparado para ser transplantado para um humano na NYU Langone em Nova York, EUA; foto sem data. - Langone Health/Reuters

A receptora foi uma paciente com morte cerebral e sinais de disfunção renal, cuja família autorizou o experimento antes que ela tivesse o suporte à vida desligado, disseram os pesquisadores à agência Reuters.

Durante três dias, o novo rim ficou ligado aos vasos sanguíneos dela e mantido fora do corpo, permitindo o acesso dos pesquisadores ao órgão.

Os resultados de testes de funcionamento do rim transplantado "pareciam normais", disse o cirurgião de transplantes Robert Montgomery, que chefiou o estudo.

O rim produziu "a quantidade de urina esperada" de um rim humano transplantado, disse ele, e não houve sinais da rejeição precoce e vigorosa vista quando rins de porcos não modificados são transplantados em primatas não humanos.

O nível anormal de creatinina na receptora —indicador de má função renal— retornou ao normal depois do transplante, disse o doutor Montgomery.

Nos Estados Unidos, quase 107 mil pessoas esperam hoje por transplantes de órgãos, incluindo mais de 90 mil que aguardam um rim, segundo a Rede Unida para Compartilhamento de Órgãos. O tempo de espera por um rim é de três a cinco anos em média.

Pesquisadores trabalham há décadas sobre a possibilidade de usar órgãos de animais em transplantes, mas foram bloqueados pela dificuldade de evitar a rejeição imediata pelo corpo humano.

A equipe do doutor Montgomery teorizou que desativar um gene do porco que codifica um carboidrato que provoca a rejeição —uma molécula de açúcar ou glicano chamada alfa-gal— evitaria o problema.

O suíno geneticamente modificado, chamado GalSafe, foi desenvolvido pela unidade Revivicor da United Therapeutics Corp. Ele foi aprovado pela Agência de Alimentos e Drogas (FDA) dos EUA em dezembro de 2020 para uso como alimento para pessoas com alergia a carne e como fonte potencial de terapêuticas humanas.

Produtos médicos desenvolvidos a partir de porcos ainda exigirão a aprovação da FDA antes de ser usados em humanos, disse o órgão.

Outros pesquisadores estão considerando se os porcos GalSafe podem ser fontes de válvulas cardíacas, enxertos de pele e outros fins para pacientes humanos.

O experimento de transplante na NYU deve abrir caminho para testes em pacientes com falência renal em último estágio, possivelmente dentro de um ou dois anos, disse Montgomery, que vive com um coração transplantado. Esses testes podem avaliar a abordagem como uma solução de curto prazo para pacientes em situação crítica até que haja disponibilidade de um órgão humano, ou como um transplante permanente.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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