EUA autorizam vacina da Pfizer contra Covid para crianças de 5 a 11 anos

É esperado que 28 milhões de crianças americanas sejam imunizadas

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Washington | The New York Times

A Agência de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos (FDA na sigla em inglês) autorizou nesta sexta-feira (29) a vacina da Pfizer-BioNTech contra o coronavírus para uso emergencial em crianças de 5 a 11 anos. O movimento era aguardado por milhões de famílias que procuram proteger alguns dos únicos americanos que ficaram de fora da campanha de vacinação.

Cerca de 28 milhões de crianças nessa faixa etária poderão receber um terço da dose adulta, em duas injeções com três semanas de intervalo. Se o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) aprovar, como é esperado, elas poderão começar a receber as vacinas na próxima quarta-feira (3).

Imagem em primeiro plano mostra criança sendo vacinada
Menino recebe a vacina da Pfizer/BioNTech contra a Covid-19 em um centro de vacinação em Assunção, no Paraguai - Norberto Duarte - 23.jul.21/AFP

O governo Biden prometeu que as vacinas infantis serão facilmente encontradas em consultórios pediátricos, centros de saúde comunitários, hospitais infantis e farmácias, com 15 milhões de doses prontas para envio imediato.

Os estados começaram a pedir doses na semana passada, segundo uma fórmula baseada em quantas crianças eles têm nessa faixa etária. Com o ano letivo já em andamento, a dose pediátrica chega a tempo das férias de fim de ano, dando mais tranquilidade às famílias que desejam reunir os mais velhos e os mais jovens pela primeira vez desde os primeiros meses de 2020.

"É uma ferramenta extremamente importante para o retorno à normalidade", disse o doutor Larry Corey, especialista em vírus do Centro de Pesquisa de Câncer Fred Hutchinson e líder da Rede de Prevenção à Covid-19. "Saber que seu filho está protegido e que não vai ficar gravemente doente por ir à escola é um alívio psicológico incrível."

Em um ensaio clínico, a vacina demonstrou gerar proteção significativa em crianças contra o vírus. Mas não está claro se isso ajudará substancialmente a conter a pandemia. Nesta semana, 8.300 crianças com idades entre 5 e 11 anos foram hospitalizadas com Covid-19 nos EUA, e pelo menos 94 morreram, de mais de 3,2 milhões de hospitalizações e 740 mil mortes no total, de acordo com o CDC.

O maior determinante de quantos casos mais da doença e mortes ainda haverá é se os mais de 60 milhões de adolescentes e adultos que já deveriam ter tomado a vacina irão se vacinar, disse a doutora Jennifer Nuzzo, pesquisadora de saúde pública no Centro de Recursos para Coronavírus da Universidade Johns Hopkins.

Alguns especialistas em vacinas alertam que as mesmas desigualdades que prejudicaram a vacinação adulta no início deste ano poderão prejudicar a das crianças.

"Não podemos repetir o que houve nas primeiras fases da vacinação para adultos, em que pessoas favorecidas e com posses descobriram uma maneira de ser as primeiras da fila", disse o doutor James EK Hildreth, presidente do Meharry Medical College, uma instituição historicamente negra.

Crianças negras e hispânicas têm menor probabilidade de fazer o teste do vírus, mas são mais propensas a se infectar, ser hospitalizadas e morrer de Covid-19 do que crianças brancas, de acordo com a Kaiser Family Foundation.

As taxas de hospitalização na faixa etária de 5 a 11 anos são três vezes mais altas para crianças negras, hispânicas e nativas americanas do que para crianças brancas, de acordo com o CDC.

Na faixa etária de 5 a 11 anos, mais da metade são crianças não brancas e quase 4 em cada 10 vêm de famílias com renda abaixo de 200% do nível de pobreza federal, de acordo com Kaiser.

No Hospital Nacional de Crianças, em Washington, as autoridades desenvolveram um plano para garantir que famílias e crianças em maior risco tenham acesso imediato às injeções, disse a doutora Lee Ann Savio Beers, diretora-médica do hospital para saúde comunitária e defensoria e presidente da Academia Americana de Pediatria.

O hospital pretende alertar quanto às vacinas seus pacientes de maior risco, com base no diagnóstico médico e no bairro onde residem, entrando em contato diretamente com os pais, disse ela.

Uma pesquisa da Kaiser Family Foundation divulgada na quinta-feira (28) revelou que 27% dos pais de crianças de 5 a 11 anos estão ansiosos para vaciná-las imediatamente, enquanto um terço disse que esperaria para ver como transcorre a vacinação.

A aplicação entre adolescentes tem sido mais lenta do que os especialistas em saúde pública esperavam: a vacina da Pfizer foi disponibilizada para crianças de 12 a 15 anos em maio, mas menos da metade dessa faixa etária está totalmente vacinada, em comparação com 69% dos adultos.

As autoridades de saúde estaduais e locais se preparam não apenas para maior hesitação em relação às vacinas, mas também para possíveis disputas sobre a ordem de vacinação nas escolas.

"Acho que a controvérsia que vimos sobre a questão da máscara tende a perder importância diante do que veremos sobre a ideia da vacinação obrigatória" de crianças em idade escolar, disse a doutora Jessica Snowden, chefe da divisão de doenças infecciosas no Hospital Infantil de Arkansas.

Em uma reunião esta semana do painel consultivo de especialistas em vacinas da FDA, vários membros se manifestaram com veemência contra a ordem de vacinação escolar.

Um estudo do CDC sugere que 42% das crianças entre 5 e 11 anos de idade têm anticorpos contra o coronavírus de uma infecção anterior, o que levou alguns assessores da FDA a perguntar se uma dose seria suficiente para as crianças. O uso desse estudo foi questionado por alguns cientistas.

Os membros do painel da FDA também questionaram se apenas as crianças com condições médicas de alto risco, como obesidade, deveriam receber a vacina, uma vez que elas são mais vulneráveis a ter casos graves de Covid-19.

Autoridades do CDC disseram, entretanto, que seria difícil restringir a elegibilidade, e o painel consultivo da FDA endossou a oferta da dose pediátrica para toda a faixa etária por uma votação de 17-0, com uma abstenção.

Snowden disse que a variante delta eliminou qualquer ideia de que as crianças seriam imunes ao vírus. No auge do pico mais recente, disse ela, o Hospital Infantil de Arkansas estava tratando até 30 crianças por dia para Covid, incluindo algumas com pais totalmente vacinados. Embora esse número tenha diminuído, "ainda não voltou ao que era antes da delta", disse ela.

Espera-se que grande parte do peso da vacinação em crianças recaia sobre pediatras e médicos de família. Muitos deles estão sobrecarregados pela falta de pessoal e pela demanda reprimida de atendimento neste ponto da pandemia, mas têm relacionamentos profundos com pais e crianças.

O doutor Sterling Ransone, presidente da Academia Americana de Médicos de Família e médico na zona rural de Deltaville, na Virgínia, disse que manterá seu consultório aberto até tarde nos dias de semana e aos sábados para atender à demanda por vacinas pediátricas.

"Nós sabemos quem priorizar –asmáticos, pessoas com doenças cardíacas, pessoas obesas", disse ele.

O doutor Victor Peralta, pediatra do bairro Jackson Heights, local com diversidade racial no Queens (Nova York), disse que a vacinação poderá ser um pouco mais lenta no início entre seus pacientes —a maioria deles têm cobertura do Medicaid (programa de saúde voltado a famílias de baixa renda).

Mas ele previu que a dose pediátrica será aceita e acabará ajudando a retardar a transmissão do vírus. "Não tenho dúvidas de que isso fará uma diferença, não só para os que já estão preocupados", disse ele.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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