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Entidades criticam demora do governo Bolsonaro em banir 'kit Covid'

Ministério da Saúde evita contraindicar medicamentos sem eficácia para não afetar apoiadores do presidente

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Brasília

Entidades médicas que elaboraram pareceres para o Ministério da Saúde sobre protocolos de tratamento na pandemia criticam demora da pasta comandada por Marcelo Queiroga em decidir sobre banir o uso do "kit Covid" do SUS.

Liderado pela AMB (Associação Médica Brasileira), o grupo cobrou nesta terça-feira (9) que o ministério publique protocolo já aprovado que contraindica o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina para pacientes hospitalizados. Além disso, pede que a pasta coloque em consulta pública o relatório que rejeita o tratamento ineficaz nos primeiros sintomas da doença.

"Esse assunto é mais ou menos como jabuticaba. Só aqui (no Brasil) se discute. Assunto está superado mundo afora", disse o presidente da AMB, César Eduardo Fernandes.

Uma pessoa segura embalagens com cloroquina
Embalagem com cloroquina - Ueslei Marcelino - 11.mai.21/Reuters

Os debates sobre tratamentos na rede pública se concentram na Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde). No dia 21 de outubro, o colegiado teve empate em votação sobre parecer contrário ao kit Covid para casos leves, documento elaborado por este grupo.


​Para evitar um duro golpe na bandeira negacionista do presidente, o Ministério da Saúde tenta evitar a derrubada de orientações pró-"kit Covid". Cinco das sete secretarias da pasta comandada por Queiroga votaram contra o parecer feito por entidades médicas.

Até agora o ministério não colocou o texto em consulta pública. Em seguida, o texto será novamente votado. Depois a Saúde ainda decidirá se acompanha ou não a posição da Conitec.

A comissão já aprovou barrar este tratamento a pacientes internados. O parecer está pronto desde junho, mas até agora o Ministério da Saúde não publicou no Diário Oficial a norma.

"Nos causa enorme preocupação a morosidade que o assunto está sendo tratado", disse Fernandes.

Em declaração à imprensa nesta terça-feira (9), as entidades ainda criticaram o posicionamento do CFM (Conselho Federal de Medicina), que tem voto na Conitec e se posicionou contra o parecer.

"Não existe quem não defenda a autonomia médica. Mas é autonomia para escolher entre os tratamentos aprovados", disse Irma de Godoy, presidente da Sbpt (Sociedade Brasileira de Pneumonologia).

Os protocolos para tratamentos do SUS, discutidos na Conitec e aprovados ou não pelo ministério, balizam inclusive as compras públicas. Ou seja, um documento que barra o uso do "kit Covid" daria margem para órgãos de fiscalização questionarem gestores que ainda investem nesses medicamentos.

Em maio de 2020, a Saúde editou uma nota com estímulo ao uso dos fármacos ineficazes, mas o documento não é um protocolo do SUS. Para gestores da rede pública, a medida foi uma forma, à época, de promover o tratamento ineficaz sem ter de passar pela Conitec.

Ao assumir o Ministério da Saúde, em março, Queiroga anunciou que promoveria o debate na Conitec para encerrar a discussão sobre o uso do kit Covid.

Ele indicou o médico e professor Carlos Carvalho, contrário aos fármacos ineficazes, para organizar o grupo que iria elaborar os pareceres.

Queiroga, porém, tem modulado o discurso e investido na pauta bolsonarista para se agarrar ao cargo. Ele passou a evitar o tema do kit Covid, ainda que admita a colegas que não vê benefícios no uso destes medicamentos.

O parecer elaborado pelo grupo de entidades médicas está sob análise para publicação em revista científica.

Para os membros da entidade causa "estranheza" que o Ministério da Saúde evite acatar as posições das entidades.

"Se o Ministério da Saúde institui o comitê, demanda uma tarefa e vota contra (o parecer), perde o sentido da existência deste comitê. É formado por notáveis, não é de ponta de esquina ou de boteco. Merece todo o respeito", disse o presidente da AMB.

"Temos de sepultar, não tem porque ficar falando de cloroquina, hidroxicloroquina. Já estão sepultadas para o seu tratamento da Covid, porque são ineficazes, não funcionam e podem causar efeito colateral", disse o presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Cóvis Arns da Cunha.

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