Descrição de chapéu Coronavírus África

Saúde faz alerta de risco sobre nova variante identificada na África do Sul

Segundo a pasta, ainda não foi encontrado nenhum caso da ômicron no Brasil

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Brasília

O Ministério da Saúde emitiu um alerta para as secretarias de saúde sobre a nova variante do coronavírus B.1.1.529, descoberta na África do Sul. Segundo o documento, até esta sexta-feira (26) ainda não foi identificado nenhum caso de Covid no Brasil causado por essa cepa, batizada de ômicron pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Também nesta sexta, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) descartou fechar aeroportos, mas afirmou que uma nova onda do coronavírus está a caminho.​ Ele defendeu a adoção do que chama de "medidas racionais" para conter a ômicron.

"Você não vai vedar [a entrada do vírus], rapaz. Que loucura é essa? Quer dizer, fechou o aeroporto, o vírus não entra? O vírus já está aqui dentro", disse pela manhã. À tarde, reiterou a posição e afirmou que "o Brasil não aguenta mais um lockdown".

Rosto de Queiroga em fundo azul
Marcelo Queiroga, ministro da Saúde, durante evento em Brasília - Ueslei Marcelino - 24.nov.2021/Reuters

Apesar da fala de Bolsonaro, o Brasil não fez lockdown, o confinamento radical para combater a transmissão do coronavírus, durante a pandemia. Nesse tipo de intervenção, a população tem a mobilidade muito reduzida por um período determinado, como estratégia para conter a disseminação.

Bolsonaro afirmou ainda que debateu com o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), as medidas a serem tomadas.

"Conversei com o almirante Barra Torres, com o Ciro da Casa Civil discutindo Argentina. Quem vem da Argentina de carro para cá, sem problemas. Quem vier de avião tem que ficar quatro dias em quarentena. Vamos tomar medidas racionais", disse, sem deixar claro se já foi tomada a decisão ou não e se ela teria abrangência para outras fronteiras.

O documento da Saúde divulgado às secretarias não traz uma instrução nesse sentido. Ele foi direcionado para a rede CIEVS (Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde), que reúne o sistema de vigilância do país para emergências em saúde pública.

O texto orienta que as redes façam a notificação imediatamente para a pasta quando houver casos suspeitos ou confirmados da nova variante. Em casos suspeitos de viajantes oriundos de países com a circulação da cepa, a pessoa deve ser monitorada por 14 dias quando apresentar sintomas da doença e por sete dias caso esteja assintomática.

A Anvisa sugeriu nesta sexta-feira limitar a entrada no Brasil de quem esteve, nos últimos 14 dias, em seis países africanos: África do Sul, Botsuana, Suazilândia (Eswatini), Lesoto, Namíbia e Zimbábue.

Hoje não há uma lista de países sob restrição para entrada no Brasil. No passado, o governo adotou limitações a quem esteve no Reino Unido, África do Sul, Irlanda do Norte e Índia, também para evitar a chegada de variantes.

Em nota técnica, a Anvisa justifica que locais como Itália, Alemanha e Reino Unido já adotaram medidas de restrição de trânsito de viajantes de regiões com registro da ômicron, que é potencialmente mais transmissível.

Detectada no começo desta semana na África do Sul, ela foi classificada nesta sexta pela OMS como uma "variante de preocupação". Ela recebeu diretamente esse rótulo, sem antes ser considerada uma "variante de atenção" (título dado às que devem ter seus efeitos acompanhados), pelo grande número de mutações que apresenta.

São 50 no total e mais de 30 na proteína S (de spike, ou espícula), usada pelo Sars-Cov-2 para entrar nas células humanas. A quantidade é também preocupante porque a partir dessa proteína que são produzidas vacinas. Por enquanto, não há pesquisas para dizer o efeito dos imunizantes ante à ômicron (o nome é 15ª letra do alfabeto grego, pela tradição de nomear com esse alfabeto as variantes do vírus).

Também nesta sexta, Barra Torres, da Anvisa, cobrou que o governo passe a exigir o certificado de vacinação contra a Covid para a entrada no Brasil. Como revelou a Folha, o governo ignora desde o último dia 12 a sugestão da agência de adotar o "passaporte da vacina" para entrada por terra ou em voos internacionais.

Desde dezembro de 2020, o governo exige a apresentação do teste RT-PCR com resultado negativo, mas não cobra certificado de vacinação nem a realização de quarentena, apesar de a Anvisa sugerir essa medida há meses.

Na avaliação de Barra, a medida, que desagrada o presidente Jair Bolsonaro, é necessária para evitar que o país se torne atrativo para o "turismo antivacina".

"Para evitar que no período de inverno do hemisfério norte, onde pessoas normalmente viajam de férias, e temos ainda a questão do dólar e do euro extremamente valorizados, que não venhamos a ter um turismo antivacina aqui no Brasil", disse Barra à Folha.

Na leitura de integrantes da Anvisa, o governo deve aceitar as restrições de entrada de viajantes que passaram pelos seis países com registros da nova variante. Já o passaporte vacinal é tema delicado.

Barra pondera que as medidas de barrar voos de países da África e exigir o passaporte vacinal não irão necessariamente blindar o Brasil do vírus, mas servem para amenizar o problema.

"Temos que nos preparar o quanto antes e fortalecer, fechar. Não é fechar o Brasil. A Anvisa, ao contrário, não está propondo manter fronteira fechada, está propondo que se abra com o regramento. A pessoa comprova que está vacinada, se não comprovar pode ser interpelada e deportada. Não estamos propondo fechar, estamos propondo aumentar a segurança", avaliou.

Quanto à prevenção, o documento de alerta divulgado pela Saúde às secretarias ressalta que as medidas indicadas pela pasta continuam as mesmas para a população diante da variante ômicron. Entre elas, o distanciamento social, a higienização das mãos, o uso de máscaras, a limpeza e a desinfeção de ambientes e o isolamento de casos suspeitos e confirmados conforme orientações médicas.

"Estas medidas devem ser utilizadas de forma integrada, a fim de controlar a transmissão da Covid-19 e suas variantes, permitindo também a retomada gradual das atividades desenvolvidas pelos vários setores e o retorno seguro do convívio social", diz a mensagem.

O texto aponta ainda a necessidade de aumentar o acompanhamento dos testes de pessoas que tiveram alguma ligação com regiões de circulação da variante —além de evitar as viagens não essenciais, em particular para áreas com uma incidência significativamente mais elevada da cepa.

Colaboraram Ana Estela de Sousa Pinto, de Bruxelas, e Ítalo Nogueira, do Rio de Janeiro.

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