Variante ômicron pode superar a delta? Cientistas tentam descobrir

Nova cepa do coronavírus tem chamado a atenção da comunidade internacional

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Nancy Lapid Julie Steenhuysen
Reuters

Enquanto cientistas se apressam para entender as consequências da variante ômicron da Covid-19, uma das perguntas mais importantes é se essa nova versão do coronavírus pode superar a variante delta, que predomina globalmente.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) designou na sexta-feira (26) a ômicron como "variante de preocupação", poucos dias depois de ela ter sido relatada pela primeira vez no sul da África. A OMS disse que está coordenada com muitos pesquisadores do mundo todo para melhor compreender como a variante irá impactar a pandemia de Covid-19, com novas descobertas esperadas para os próximos "dias e semanas".

Representação artística do vírus Sars-CoV-2 em fundo vermelho
Ilustração do Sars-CoV-2 - Pixabay

Muitas perguntas permanecem, incluindo se a ômicron vai evitar a proteção das vacinas e se causará doenças mais graves. Mas essas características seriam muito menos preocupantes se a nova variante continuasse relativamente contida.

Vários especialistas em doenças entrevistados pela Reuters disseram que há fortes bases para se acreditar que a ômicron tornará as vacinas menos eficazes. A ômicron compartilha várias mutações chaves com duas variantes anteriores, beta e gama, que as tornaram menos vulneráveis às vacinas. Além disso, a ômicron tem 26 mutações únicas, muitas delas em regiões visadas pelos anticorpos das vacinas.

Dentro de meses, porém, a delta se espalhou muito mais rapidamente que qualquer de suas antecessoras.

"Por isso a questão é, realmente, qual é a transmissibilidade da ômicron em relação a delta. Essa é a principal coisa que precisamos saber", disse John Moore, professor de microbiologia e imunologia no Weill Cornell Medical College, em Nova York.

Também é provável que seja uma das últimas a ser respondidas, segundo especialistas. As autoridades sul-africanas deram o alarme sobre a ômicron depois de identificar apenas dezenas de casos da variante.

Os cientistas estarão observando de perto se casos provocados pela ômicron relatados em bancos de dados públicos começam a suplantar os causados pela delta. Isso poderá levar de três a seis semanas, dependendo da rapidez com que a variante se espalhar, dizem especialistas.

Outras informações deverão chegar mais depressa. Em duas semanas, "teremos uma visão melhor da gravidade da doença", disse o doutor Peter Hotez, especialista em vacinas e professor de virologia molecular e microbiologia no Baylor College of Medicine. "Estamos ouvindo relatos diferentes —alguns dizem que é uma doença muito branda e outros relatam alguns casos severos em hospitais da África do Sul."

Em um período de tempo semelhante, pesquisadores disseram que esperam respostas precoces sobre se a ômicron consegue contornar a proteção vacinal. Dados iniciais virão de testes de laboratório de amostras de sangue de pessoas vacinadas ou de animais de laboratório, analisando os anticorpos nas amostras depois de exposição à nova variante.

"Muitos laboratórios estão ativamente tentando fazer o vírus ômicron e testar sua sensibilidade a antibióticos, e isso levará algumas semanas", disse Moore.

David Ho, professor de microbiologia e imunologia na Universidade Columbia, em Nova York, acredita que a ômicron mostrará um alto grau de resistência, devido à localização de suas mutações na proteína da espícula do vírus.

Imagem de um aeroporto com poucas pessoas caminhando na recepção.
Passageiros no aeroporto de Schiphol, na Holanda. A ômicron foi detectada no país antes da chegada de dois voos da África do Sul, indicando que a cepa já estava presente em território holandês antes do desembarque de passageiros vindos da África. - Kenzo Tribouillard - 29.nov.21/AFP

"Os anticorpos vacinais visam três regiões da espícula do coronavírus, e a ômicron tem mutações nessas três regiões", disse Ho. "Nós especialistas técnicos estamos muito mais preocupados do que os especialistas em saúde pública, pelo que sabemos da análise estrutural" da ômicron.

Outros comentam que variantes anteriores, como a beta, também tiveram mutações que tornaram as vacinas menos eficazes, mas que essas vacinas ainda ajudaram a evitar doença grave e morte. Mesmo que anticorpos neutralizantes induzidos pelas vacinas se tornem menos eficazes, outros componentes do sistema imune conhecidos como células T e B deverão compensar, disseram eles.

"A vacinação provavelmente continuará mantendo as pessoas fora do hospital", afirmou John Wherry, diretor do Instituto de Imunologia Penn, na Filadélfia.

Fluxo de pessoas no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo
Fluxo de pessoas no aeroporto de Guarulhos, na Grande SP; passageiro vindo da África testou positivo para Covid-19 e estudo está analisando se ele tem a cepa ômicron do novo coronavírus - Eduardo Anizelli - 30.out.21/Folhapress

Os primeiros estudos no mundo real sobre a eficácia das vacinas contra a ômicron na comunidade provavelmente levarão de três a quatro semanas, enquanto os especialistas estudam os índices das chamadas infecções "invasoras" em pessoas que já foram inoculadas, disse o doutor Michael Osterholm, especialista em doenças infecciosas na Universidade de Minnesota.

Ho, de Columbia, afirmou que o fato de a ômicron já estar se espalhando na presença da delta, "que superou todas as outras variantes, é preocupante".

Mas outros insistem que ainda é uma questão em aberto.

Quando se trata de mutações específicas que poderão ajudar a ômicron a se disseminar, "ela não parece muito diferente da alfa ou da delta", disse Hotez.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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