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Exercício físico pode aumentar o consumo de bebida alcoólica; entenda

Pesquisadores encontram correlação entre prática de atividades e ingestão de álcool

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Gretchen Reynolds
The New York Times

As pessoas que praticam exercícios regularmente e têm boa capacidade aeróbica tendem a consumir uma quantidade surpreendente de bebida alcoólica, segundo um novo estudo (bem adequado ao fim de ano) sobre a interação entre condicionamento físico, exercício e ingestão de álcool.

O estudo, que envolveu mais de 40 mil americanos adultos, concluiu que homens e mulheres ativos e fisicamente preparados são duas vezes mais propensos a consumir bebidas, moderada ou intensamente, que as pessoas fora de forma. Os resultados se somam a crescentes evidências de estudos anteriores —e muitas de nossas contas de bar— de que exercícios físicos e álcool frequentemente andam juntos, com implicações para os efeitos de cada um sobre a saúde.

Muitas pessoas, e alguns pesquisadores, poderão se surpreender ao saber o quanto as pessoas fisicamente ativas tendem a beber. Em geral, as pessoas que adotam um hábito saudável, como se exercitar, tendem a praticar outros hábitos salubres, fenômeno conhecido como agrupamento de hábitos. Pessoas ativas e fisicamente condicionadas raramente fumam, por exemplo, e em geral fazem dietas saudáveis. Assim, pode parecer lógico que as pessoas que se exercitam com frequência consumam álcool raramente.

Corredores na maratona de Nova York, em 2018
Corredores na maratona de Nova York, em 2018 - Karsten Moran/The New York Times

Mas diversos estudos nos últimos anos descobriram ligações estreitas entre exercícios e drinques. Em um dos mais antigos, de 2002, os pesquisadores usaram respostas de pesquisas de homens e mulheres americanos para concluir que os bebedores moderados, definidos nesse estudo como as pessoas que tomavam uma bebida por dia, tinham duas vezes maior probabilidade de se exercitar regularmente do que as pessoas que não bebiam. Estudos posteriores descobriram padrões semelhantes entre atletas de faculdade, que bebiam substancialmente mais que outros estudantes, uma população que não é famosa pelo comedimento.

Em outro estudo revelador, de 2015, 150 adultos mantiveram diários online sobre quando e quanto se exercitavam e consumiam álcool durante três semanas. Os resultados mostraram que nos dias em que eles mais se exercitavam depois também tendiam a beber mais.

Mas esses e outros estudos anteriores, embora ligassem consistentemente mais atividade física com mais bebida, tendiam a ser menores ou centrados nos jovens, ou usavam relatos um tanto casuais do que as pessoas contavam aos pesquisadores sobre seus exercícios e ingestão alcoólica, o que pode ser notoriamente não muito confiável.

Assim, para o novo estudo, intitulado "Fit and Tipsy?" (Condicionado e cambaleante?, em tradução livre) e publicado recentemente na revista Medicine & Science in Sports & Exercise, pesquisadores do Cooper Institute, em Dallas, e de outras instituições recorreram a dados mais objetivos sobre dezenas de milhares de americanos adultos. Todos faziam parte do grande e extenso Estudo Longitudinal do Cooper Center, que examina a saúde cardiovascular e suas relações com vários fatores comportamentais e outras condições médicas.

Os participantes do estudo visitaram a Clínica Cooper no Texas para exames anuais e, como parte desses exames, fizeram testes de esteira rolante de sua capacidade aeróbica. Eles também preencheram extensos questionários sobre seus hábitos de exercícios e de bebida, e sobre se preocuparem com seu consumo de álcool.

Os pesquisadores obtiveram registros de 38.653 participantes maiores de idade que relataram beber pelo menos uma vez por semana. Os autores deixaram os abstêmios fora do estudo, porque queriam comparar pessoas que bebiam muito ou pouco.

Assim como em estudos anteriores, quanto maior o condicionamento físico das pessoas mais elas tendiam a beber.

As mulheres mais condicionadas eram aproximadamente duas vezes mais propensas a beber moderadamente que as mulheres com baixa capacidade aeróbica. O consumo moderado de bebida significava que as mulheres bebiam entre quatro e sete copos de cerveja, vinho ou destilados em uma semana típica.

Os homens mais condicionados tinham mais que o dobro de probabilidade de ser bebedores moderados —até 14 bebidas por semana— do que os homens que faziam menos exercício. Os pesquisadores consideraram os hábitos de exercícios relatados pelas pessoas e os adaptaram por idade e outros fatores que poderiam influenciar os resultados, e as probabilidades continuaram consistentemente maiores.

Os homens e algumas mulheres condicionados também tinham uma probabilidade ligeiramente maior de beber muito —definido como oito ou mais bebidas fortes por semana para mulheres e 15 ou mais para homens— do que seus pares menos condicionados fisicamente. De modo interessante, as mulheres condicionadas que bebiam muito com frequência relatavam preocupações sobre seu nível de consumo alcoólico, enquanto os homens condicionados nessa categoria raramente o faziam.

O que esses resultados podem significar para as pessoas que se exercitam regularmente para tentar manter a forma física?

Embora elas mostrem claramente que o condicionamento físico e um maior consumo de bebida andem juntos, "a maioria das pessoas provavelmente não associa a atividade física e o consumo de álcool como comportamentos relacionados", disse Kerem Shuval, diretor executivo de epidemiologia no Cooper Institute, que liderou o novo estudo. Assim, as pessoas que se exercitam devem estar cientes de seu consumo alcoólico, disse ele, até mesmo registrando com que frequência bebem a cada semana.

Médicos e cientistas não podem dizer com certeza quantos drinques podem ser demais para nossa saúde e bem-estar, e o total provavelmente difere para cada pessoa. Mas fale com seu médico se seu hábito de bebida é um motivo de preocupação para você (ou preocupa seu marido, sua mulher, amigos ou parceiros de treino)

É claro que esse estudo tem limites. Ele envolveu principalmente americanos brancos e mostrou apenas uma associação entre condicionamento físico e consumo de álcool, e não que um cause o outro. Ele também não pode nos dizer por que se exercitar pode levar a beber em excesso, ou vice-versa.

"Provavelmente há aspectos sociais", disse Shuval, quando colegas de time e de treino brindam com cervejas ou margaritas depois de uma competição ou sessão de exercícios. Muitos de nós provavelmente também colocam um halo de saúde em torno do exercício, fazendo-nos sentir que a atividade física justifica uma bebida a mais —ou três.

E, de modo intrigante, alguns estudos com animais mostram que o exercício e o álcool iluminam partes do cérebro ligadas ao processo de recompensa, sugerindo que se cada um por si só pode ser prazeroso, fazer os dois pode ser duplamente atraente.

"Precisamos de muito mais pesquisa" sobre os motivos da relação, disse Shuval. Mas por enquanto vale a pena ter em mente, especialmente nesta época festiva do ano, que nossas corridas, pedaladas ou malhações na academia podem influenciar com que frequência e entusiasmo brindamos ao ano novo.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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