Postos de saúde de SP têm falta de remédios e insumos para exames

Medicamentos para pressão estão entre os afetados na cidade; prefeitura afirma que já começou a repor estoques

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São Paulo

A diarista Maria Tereza de Camargo, 67, sabe bem o que ocorre quando não toma os medicamentos para controlar sua pressão arterial. Vem o cansaço duplo, um como efeito pela interrupção no tratamento, e o outro de tantas vezes ir ao posto de saúde atrás de losartana potássica.

Segundo ela, o remédio, que é distribuído gratuitamente na rede pública da capital, está em falta há dois meses na farmácia da UBS (Unidade Básica de Saúde) Jardim São Jorge, na zona oeste de São Paulo.

O medicamento da diarista da zona oeste é um dos que desapareceram dos postos de saúde da capital paulista. A lista tem desde remédios comuns, como dipirona e ácido acetilsalicílico (o AAS), a outros de uso contínuo, como losartana potássica e o diurético hidroclorotiazida.

Também faltam insumos para a realização de exames de sangue e fraldas geriátricas.

Farmácia da UBS Jardim São Jorge, na região do Butantã, zona oeste de São Paulo, que está sem vários medicamentos - Arquivo pessoal

Camargo conta que voltou mais uma vez de mãos vazias da última vez que foi até à UBS, no último dia 1º. Além das suas receitas médicas, que também contam com ácido acetilsalicílico e atenolol, havia as do pai, de 94 anos, igualmente hipertenso.

Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde, confirma o desabastecimento em toda a cidade, mas diz que está com processo de compra emergencial em andamento para a aquisição de insumos e medicamentos e que já começou a repor os estoques em toda a rede.

João Vicente da Silveira, cardiologista e clínico geral do Hospital Sírio-Libanês, afirma que pode ser grave a situação de quem interrompe o uso de medicação para controlar a pressão arterial.

"Sem o remédio, o organismo perde o controle e ela [pressão] tende a subir muito", diz. "Os riscos de AVC e de arritmia são grandes e o paciente pode ter uma morte súbita", explica.

Silveira destaca também que "o coração pode dilatar e o rim, sofrer consequências que com o tempo levam a uma insuficiência renal". O médico cita ainda que a interrupção no uso de hidroclorotiazida pode provocar edema agudo no pulmão.

O líder comunitário Cláudio Freitas, 49, tem coletado depoimentos de pacientes que passam pelas unidades de saúde da zona oeste e não conseguem levar medicamentos para casa ou realizar exames. "Na semana passada, não se conseguia fazer exame de sangue na UBS Jardim São Jorge por falta de insumo", diz.

A própria relação de medicamentos que não consegue pegar, segundo o líder comunitário, pode ser usada como alerta. Na lista, entre outros, há o antidepressivo sertralina e uma pomada para assaduras, além de fraldas geriátricas para o pai, de 84 anos, que também não encontra mais.

"As pessoas carentes daqui estão tirando dinheiro da comida para comprar remédio, pois não encontram no postinho", afirma.

Conforme apurou a reportagem por meio do site Aqui tem remédio, serviço da prefeitura para mostrar os medicamentos disponíveis nos postos ou onde é possível encontrá-los, e em ligações para UBSs de todas as regiões da capital, estão em falta ainda besilato de anlodipino 5 mg, também para controlar a pressão, e prednisona, usado para vários tratamentos, como alergia, doenças reumatológicas e respiratórias.

Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), a secretaria da Saúde liberou R$ 41.371.890,32 para aquisição de insumos. Mais R$ 52.606.309,09 estão sendo empenhados para aquisição de materiais médicos e medicamentos, afirma.

A secretaria diz que realizou a compra dos medicamentos sertralina 50 mg, losartana potássica 50 mg, hidroclorotiazida e gliclazida 60 mg, e que toda a rede já foi abastecida, apesar de o site Aqui tem remédio dizer que estão em falta.

Na UBS Boracea, na região de Santa Cecília (centro), um atendente afirmou por telefone na manhã desta sexta (10) que não havia sertralina 50 mg, losartana potássica 50 mg nem hidroclorotiazida.

Segundo a secretaria, os estoques são repostos conforme programação efetuada pelo setor de suprimentos da pasta. "Mediante a disponibilidade, as unidades realizam o remanejamento entre os equipamentos da rede municipal."

Ainda de acordo com a pasta, a alteração de consumo ocasionada pela pandemia provocou mudanças significativas nos processos de compra, por causa do aumento de preços e a escassez dos produtos no mercado.

"Com isso, todas as rotinas de compras foram adaptadas, por efetivação de novos contratos por conta do aumento de demanda ou abastecimento a curto prazo, devido à variação de preços dos insumos no mercado, prejudicando significativamente, a cadeia de abastecimento", afirma trecho da nota da secretaria.

Sobre a falta de fraldas geriátricas, a prefeitura diz que está com um processo de compra para 11,2 milhões de unidades, entre os tamanhos P, M, G e EXG.

"A aquisição e o recebimento devem ocorrer nos próximos dias e todas as unidades serão abastecidas", diz. "Por causa da pandemia da Covid-19, houve falta de matéria-prima para a confecção das fraldas, já que parte do material foi utilizado para a produção de aventais utilizados no combate à doença."

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