Descrição de chapéu Coronavírus

Reforço da vacina contra Covid não barra variante ômicron, sugere estudo

Pesquisadores examinaram sete pacientes que se infectaram; doença foi leve a moderada

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Mesmo as três doses de vacinas de mRNA contra a Covid não impediram a infecção pela variante ômicron, de acordo com um estudo sul-africano publicado na quinta-feira (9). O trabalho está na forma pré-print, ainda sem revisão por pares.

A pesquisa examinou os efeitos de três doses de imunizantes como o da Pfizer/BioNTech ou da Moderna, além de uma dose da vacina Oxford/AstraZeneca e duas doses da Pfizer.

Esses registros feitos no mundo real (ou seja, não são testes de laboratório) sugerem que a ômicron consegue provocar infecções em indivíduos que já receberam doses de reforço.

Doses de reforço parecem aumentar a proteção contra a ômicron, que, segundo estudos preliminares, pode ter mais facilidade em driblar a imunização
Doses de reforço parecem aumentar a proteção contra a ômicron, que, segundo estudos preliminares, pode ter mais facilidade em driblar a imunização - Reuters

O resultado contraria anúncio feito pela BioNTech e pela Pfizer na quarta (8). As empresas disseram que três doses de seu imunizante são eficazes contra a ômicron, mas a constatação se deu a partir de teste em laboratório. No mesmo dia, a OMS afirmou que ainda não era possível dizer se as doses de reforço conseguem impedir a infecção pela nova variante do coronavírus.

No estudo sul-africano, os pesquisadores investigaram sete pacientes que viajaram da Alemanha até a Cidade do Cabo, na África do Sul. A idade média dos indivíduos era 27,7 anos.

Entre eles, 6 haviam recebido a vacinação primária da Pfizer/BioNTech, dos quais 5 tomaram um reforço vacinal do mesmo imunizante, e 1 o da Moderna. O sétimo paciente recebeu a primeira dose da Oxford/AstraZeneca e as duas doses posteriores da Pfizer/BioNTech. Todas as doses de reforço foram aplicadas nos meses de outubro e novembro e nenhum deles reportou infecção prévia pelo coronavírus.

No momento de chegada no país, todos os pacientes haviam apresentado um teste negativo para Sars-CoV-2. Após poucos dias, eles reportaram sintomas gripais, realizaram um teste e foram mantidos em isolamento.

Durante o tempo de estudo, os pacientes foram orientados a anotar em um diário seus sintomas. Ao final do período de observação, todos relataram tosse seca, a maioria apontou rinite alérgica (71,4%) e dor de garganta (57,1%) e parte deles citou falta de ar (42,9%). Houve também menção a febre (14,3%), fadiga (71,4%) e dor de cabeça (57,14%), mas só nos primeiros dias da infecção. Nenhum caso foi considerado grave.

O sequenciamento genômico das amostras identificou a variante ômicron em 5 dos 7 pacientes. Em 2 deles o resultado foi inconclusivo; porém, dada a semelhança entre os sintomas e o momento epidemiológico, quando o país apresentou uma alta incidência de novos casos de Covid, os pesquisadores acreditam que a cepa também foi responsável.

Para avaliar a taxa de anticorpos anti-spike, isto é, capazes de neutralizar a proteína S do vírus e impedir sua entrada nas células, os autores colheram amostras sorológicas dos infectados e encontraram na média uma taxa de 23 mil unidades por mililitro, o que se aproxima do observado após a segunda dose da vacina, mas menor do que o encontrado com a terceira dose.

Os dados encontrados indicam a probabilidade de a variante ômicron conseguir escapar dos anticorpos neutralizantes mesmo após uma terceira dose da vacina. Os autores do estudo reforçam a importância de manter as medidas protetoras não farmacológicas, como o uso de máscaras e o distanciamento físico, para impedir infecções pela nova cepa, mesmo em indivíduos vacinados com três doses.

Em geral, as vacinas contra Covid foram desenvolvidas para proteger especialmente contra hospitalização e morte, mas não têm o poder de conter totalmente o contágio em si. Assim, mesmo pessoas vacinadas podem contrair o vírus e adoecer, por isso é importante continuar usando máscaras após a imunização.

Os chamados escapes vacinais podem ocorrer, mas a sua frequência na população e a gravidade dos casos ainda precisam de mais tempo para serem investigados.

Os autores lembram ainda que a maioria dos sul-africanos ainda não tem doses de reforço à disposição. Em todo o continente africano, 10% da população recebeu pelo menos uma dose das vacinas contra Covid, número que cai para 7% ao se considerar as duas doses, até o último dia 8 de dezembro.

A desigualdade entre os países do continente também é grande, com a Tunísia, por exemplo, no norte do continente com 52% da população com pelo menos uma dose e 44% da com duas doses, mas a Nigéria com menos de 2% da população com pelo menos uma dose.

A baixa cobertura vacinal é um problema tanto de disponibilidade de doses, uma vez que os países ricos fizeram compras massivas de vacinas, quanto de logística para aplicar os imunizantes, com a falta de profissionais de saúde e de seringas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.