Sobe número de bebês internados na África do Sul e médicos avaliam se ômicron é culpada

Crianças de até dois anos estão sendo observadas; ainda não há ligação confirmada com variante do coronavírus

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Alexander Winning Tim Cocks
Joanesburgo | Reuters

Dados obtidos em uma área da África do Sul atingida pesadamente pela variante ômicron do coronavírus demonstram grande número de internações hospitalares de crianças de menos de dois anos de idade, o que desperta a preocupação de que a variante possa gerar riscos para crianças pequenas.

Cientistas sul-africanos afirmaram que ainda não podem confirmar um vínculo entre a ômicron e a elevação no número de crianças internadas, que pode estar relacionada a outros fatores. Leia abaixo o que sabemos e não sabemos sobre a questão.

Um bebê deitado em um leito com uma máscara de oxigênio em seu rosto
Em Kiev, capital da Ucrânia, Uma mulher segura uma máscara de oxigênio no rosto de seu bebê que contraiu a Covid-19. Novos casos de bebês com a doença dispararam na África do Sul com o surgimento da ômicron. - Sergei Supinsky - 16.nov.2021/AFP

O que está causando preocupação?

Os dados, divulgados pelo Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul (NICD), demonstram que 52 crianças de menos de dois anos estavam entre os 452 pacientes de Covid-19 admitidos em Tshwane —a área metropolitana que inclui a capital do país, Pretória— no período entre 14 e 28 de novembro, um número superior ao de qualquer outra faixa etária.

No entanto, levando em conta o tamanho das populações das diferentes faixas etárias, o risco de internação continua a ser mais alto para as pessoas com idade superior a 60 anos.

As internações foram vinculadas à variante ômicron?

Não. Apenas uma pequena porcentagem das amostras positivas de testes na África do Sul é submetida a sequenciamento genômico a fim de detectar a variante do vírus envolvida, devido a limitações de capacidade. Isso significa que não há como saber com certeza se as crianças pequenas internadas foram infectadas pela ômicron, de acordo com cientistas do NICD.

Também há incerteza quanto a se todas as crianças pequenas incluídas nos dados foram infectadas pela Covid-19, já que nem todas elas passaram por testes para detectar a presença do vírus, disseram os cientistas.

Por motivos práticos, as crianças pequenas que apresentam sintomas respiratórios são tratadas como se tivessem Covid-19, mas é possível que tenham doenças diferentes, como a gripe.

Qual era a gravidade da doença nas crianças internadas?

Os dados demonstram que 29% das crianças internadas por Covid-19 na faixa etária de zero a quatro anos apresentam a doença em grau severo —proporção semelhante à de outras faixas etárias, e significativamente inferior à porcentagem de casos graves em pacientes com idade de mais de 60 anos.

Entre as crianças com idade de quatro anos ou menos, 1% das internações resultaram em morte, de acordo com os dados. No entanto, o número total de internações nessa faixa etária foi de 70, o que não deixa claro o que esse dado de 1% representa.

O NICD não respondeu a perguntas da Reuters quanto a esse e outros elementos dos dados apresentados, afirmando que divulgaria um novo relatório sobre internações pediátricas ainda esta semana.

O possível vínculo com a variante ômicron deve nos preocupar?

Perguntada se as pessoas deveriam se preocupar com o número de internações de crianças pequenas, Anne von Gottberg, microbiologista clínica do NICD, disse à Reuters que "ainda não".

"Parece que algumas dessas internações podem ter sido iniciadas antes que a ômicron emergisse", ela disse. "Estamos preocupados o bastante para observar os dados com muito, muito cuidado, mas no momento não tenho tanta certeza de que os casos possam ser ligados à ômicron".

Uma mulher passa em frente de uma placa indicando o centro de testagem de Covid-19 em um aeroporto do Reino Unido.
Uma passageira passa por uma placa indicando o centro de testes no Aeroporto de Heathrow em Londres. Por conta da ômicron, todos os viajantes que entram no Reino Unido devem fazer um teste PCR no final do segundo dia após a sua chegada e ficam em isolamento até receber um resultado negativo. - Xinhua/Li Ying - 30.nov.2021/Reuters

O que mais pode estar acontecendo?

A província de Gauteng, onde fica Tshwane, passou por uma alta no número de casos de gripe no mês passado.

"Precisamos observar com muito cuidado as demais infecções e doenças respiratórias para determinar o motivo para as internações de crianças. Elas foram submetidas a exames [de Covid-19] ao serem internadas ou a admissão foi feita por precaução?", disse Von Gottberg.

Cientistas do NICD também disseram que os pais de bebês e crianças pequenas que estejam doentes as levam rapidamente ao hospital, enquanto pacientes de outras faixas etárias demoram mais a buscar ajuda médica.

Quando saberemos mais?

O NICD informou que está preparando um relatório sobre internações pediátricas que deve estar disponível até o final da semana.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou na quarta-feira que esperava contar com dados sobre a transmissibilidade da variante ômicron dentro de alguns dias, mas cientistas afirmaram que demoraria de duas a quatro semanas para saber mais sobre a variante.

Reuters, tradução de Paulo Migliacci.

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