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Dados do Facebook ajudam secretarias a prever ondas de Covid

Questionário sobre sintomas gripais mostrou explosão de relatos de doentes

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São Paulo e Campo Grande

Você deve estar acostumado a se guiar na pandemia por meio de dados de casos, mortes e internações por Covid (se não, deveria). Mas há outras formas de observar como caminha a crise sanitária. Uma delas é pelo que as pessoas falam no Facebook.

Não, os pesquisadores não ficam lendo comentários aleatórios da sua tia na rede social e vendo a frequência com que usuários publicam vídeos de gatinhos.

A ideia é enviar uma espécie de questionário de sintomas para usuários da rede social, escolhidos para compor uma amostra minimamente representativa.

Questionário no Facebook sobre sintomas gripais mostrou explosão de relatos de doentes em poucas semanas - Dado Ruvic - 29.out.2014/Reuters

O interessante é que, segundo os pesquisadores, os relatos de sintomas gripais, ou seja, compatíveis com os da Covid, conseguem, até certa medida, captar a situação pandêmica em desenvolvimento. E também antever os dados oficiais, já que se passam alguns dias entre uma pessoa ter sintomas, buscar por um teste e o resultado entrar no sistema do governo.

Chama a atenção a explosão de respostas positivas de dezembro para cá, momento no qual a variante ômicron começava a ganhar terreno no país.

De acordo com a plataforma, em 23 de novembro, 1,6% das pessoas que responderam à pesquisa falavam em sintomas gripais. Já em 10 de janeiro, eram 7,8%, um crescimento de 4,8 vezes.

O último dia que consta no painel Redes Sociais e Covid-19, uma parceria do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) com a Vital Strategies, uma organização internacional em saúde pública, é 13 de janeiro —naquele ponto, a curva teve um pequeno declínio, com 7,6% das pessoas afirmando que têm sintomas.

Na segunda-feira (24), a média móvel de casos de Covid, segundo o consórcio de veículos de imprensa, chegou a 150.236 infecções por dia, no sétimo dia de recorde de toda a pandemia.

Inclusive, segundo Carlos Lula, presidente do Conass, as respostas desse questionário impediram um "voo completamente cego" e ajudaram a nortear gestores públicos em dezembro e janeiro, em meio ao apagão de dados do Ministério da Saúde, quando foi registrada uma explosão no número de pessoas apontando sintomas gripais no painel.

"Quando a gente notou que estava no nível de tendência de crescimento, de que essa curva de fato seria agressiva, a gente já reuniu os secretários, já debateu com eles e todo mundo já começou a reprogramar sua rede de saúde", diz Lula.

"Hoje, o que existe no país inteiro é gente voltando a leito de UTI, equipamento que estava fechado para Covid voltando para Covid."

De acordo com Pedro de Paula, diretor-executivo da Vital Strategies no Brasil, os dados de casos chegam com atrasos, que variam de local para local, no sistema do Ministério da Saúde.

"Você percebe que a pandemia está se movimentando de um jeito diferente com quase um mês de atraso e, no dado do Facebook, embora atrase um dia para responder, três [dias] para subir [no sistema], você tem uma semana de atraso e consegue antecipar em uma ou duas semanas, pelo menos, as tendências da dinâmica da pandemia", afirma.

Renato Teixeira, consultor técnico da Vital Strategies Brasil, diz que a ideia do sistema era adiantar uma mudança no comportamento da pandemia no país. "O que nos chama atenção é se essa tendência vinha caindo e de repente começa a subir. Aí a gente fica em alerta", diz Teixeira.

Usar a interação das pessoas na internet para analisar a pandemia não chega a ser algo inédito. Algo semelhante pôde ser visto em simples buscas do Google.

Em momento de subida de casos de coronavírus, é possível observar também um crescimento de pesquisas por assuntos relacionados. Desde as festas de fim de ano, a busca por "sintomas Covid" teve um aumento exponencial, por exemplo.

"Podem dizer: ‘Ah, mas não tem validade extração de dados no Facebook para querer monitorar uma política pública’", diz Lula. "A gente conseguiu, mesmo com o apagão de dados do Ministério da Saúde, olhar a curva de aumento de casos desde o final do ano", rebate.

A plataforma Redes Sociais e Covid-19 foi lançada em março de 2021, com desenvolvimento desde o ano anterior. E o Brasil não é o único lugar em que ela está em funcionamento.

Nos EUA, as informações sobre o crescimento ou não das menções de sintomas têm dados até para condados e cidades. No Brasil, a granularidade máxima é por estado (para os quais nem sempre há respostas suficientes para conseguir compor o quadro local, segundo a metodologia da pesquisa).

Os questionários online levam de oito a dez minutos para serem respondidos. Há questões sobre febre, tosse, fadiga, dor no corpo, além de perguntas comportamentais, sobre uso de máscara, uso de transporte público e até mesmo se você foi a algum evento com mais de dez pessoas nos últimos dias, entre várias outras.

Logicamente, os escolhidos diariamente para responder à pesquisa não necessariamente são representativos da população, considerando que só usuários de Facebook (e consequentemente com acesso à internet) preenchem o questionário.

A pesquisa é feita ainda com apoio da equipe de saúde pública do Facebook e de pesquisadores da Universidade de Maryland e da Universidade Carnegie Mellon, ambas nos Estados Unidos.

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