Descrição de chapéu Coronavírus

Hospitais públicos e privados de SP têm alta de internações por Covid e gripe

Movimento maior também foi notado nos atendimentos em prontos-socorros; para especialistas, coronavírus preocupa mais

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São Paulo

A incidência simultânea da nova cepa da gripe H3N2 e da variante ômicron do coronavírus tem levado a um aumento de internações e atendimentos a pacientes com sintomas respiratórios em hospitais públicos e privados de São Paulo.

Os dois vírus podem causar a Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave), uma complicação da síndrome gripal que é de notificação compulsória à autoridade sanitária local.

Na capital paulista, segundo a SMS (Secretaria Municipal da Saúde), houve 978 hospitalizações por influenza entre as semanas epidemiológicas 48 e 52 (​de 28 de novembro de 2021 a 1º de janeiro de 2022). Destas, 359 ocorreram entre 12 e 18 de dezembro. Os dados foram consultados no Painel Covid-19 do município de São Paulo nesta terça (4) e são provisórios.

Em 2020, nas mesmas semanas analisadas, houve apenas quatro internações pela doença.

Aumento de atendimento em hospitais devido à Covid-19 e influenza. Nas imagens, o movimento no Amil Espaço Saúde
Aumento de atendimento em hospitais devido à Covid-19 e influenza. Nas imagens, o movimento no Amil Espaço Saúde - Rubens Cavallari - 04.jan.2022/Folhapress

Nesta terça-feira (4), no Hospital Municipal da Brasilândia, na zona norte, voltado atualmente para o acolhimento e tratamento dos casos de Srags que não sejam causadas por Covid, havia 121 pacientes internados em leitos de UTI (unidade de terapia intensiva) e 164 na enfermaria. Assim, as taxas de ocupação estavam em 64% para a UTI e 75% na enfermaria.

Além da Brasilândia, o Hospital Municipal Guarapiranga, na zona sul, está sendo preparado para receber pacientes infectados.

Em relação à Covid-19, de acordo com os dados da SMS, se observado o mês de dezembro, um novo aumento de internações na cidade de São Paulo começou a ser percebido na semana epidemiológica 49, com início no dia 5.

De 5 de dezembro a 1º de janeiro, período que compreende as semanas epidemiológicas 49, 50, 51 e 52, houve 326 hospitalizações, segundo dados consultados nesta terça.

O pico ocorreu na semana 51, entre os dias 19 e 25 de dezembro, com 108 internações. Em 2020, entre as semanas 49 e 52, esse número chegou a 6.552. Na época, os números de casos e mortes também estavam altos.

​As informações da SMS mostram, ainda, que em 1.323 internados a Srag consta como não especificada e em outros 2.181 permanece em investigação. As informações também foram consultadas no Painel Covid-19 do município de São Paulo nesta terça (4) e são provisórias.

A reportagem pediu os números de internação por gripe e Covid-19 também à Secretaria Estadual da Saúde, atualmente e em dezembro, mas a pasta forneceu apenas os de Covid-19 desta terça (4). Na data, eram 1.163 internados em UTIs e 1.888 nas enfermarias dos hospitais de São Paulo, entre suspeitos e confirmados.

O estado também não respondeu se disponibilizou ou disponibilizará estrutura exclusiva para tratamento de pessoas com síndrome gripal e Srag na capital e em outras regiões de São Paulo.

Na rede privada, o movimento nas internações por gripe e Covid-19 varia.

No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o volume de atendimento diário no pronto-socorro de pacientes com sintomas respiratórios quadruplicou se comparadas a primeira com a última semana de dezembro de 2021. Do total de atendidos, 10% registraram diagnóstico positivo para influenza na primeira semana do mês. Já no final de dezembro a positividade havia passado para 30%.

Nesse grupo de sintomáticos respiratórios, a taxa de positividade para Covid-19 era, em média, 1,5% no início do mês e 33% no final do período. Na terça, a instituição estava com 35 pacientes internados com Covid-19, sendo três em UTI.

Dos atendidos, 3% necessitaram de hospitalização, sendo 99,3% em apartamentos e 0,7% em UTI.

No Sabará Hospital Infantil, 506 crianças foram atendidas com IVAs (infecções das vias aéreas superiores) no período de 12 a 18 de dezembro. Na semana seguinte, entre 19 e 25, houve um pico de atendimento, de 810 casos.

Já as internações passaram de cinco pacientes, no período de 12 a 18 de dezembro, para dez de 19 a 25 de dezembro e quatro entre os dias 26 e 31.

No Sírio-Libanês, foram registradas 24 novas internações por influenza entre 13 e 17 de dezembro. No período de 31 de dezembro a 4 de janeiro, havia 27 pacientes internados com confirmação da doença. Em relação à Covid-19, no primeiro período, foram cinco novas internações; no outro, havia 21 pacientes.

Já no Hospital Israelita Albert Einstein havia 49 pacientes com Covid entre 15 e 21 de dezembro e 66 entre 22 e 28. Quanto aos internados positivos para influenza, a instituição tinha 21 nesta terça (4) —dados de semanas anteriores não foram fornecidos.

Também procurados, os hospitais Samaritano e São Luiz não responderam à reportagem.

Para o infectologista, pediatra e diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) Renato Kfouri, o cenário da Covid é mais incerto do que o da influenza.

"A epidemia [de influenza] dura de 4 a 6 semanas. Com a Covid, aprendemos a cada dia com as novas variantes, as vacinas e a duração da proteção. É um cenário mais incerto ainda", afirma.

Quem não tomou a vacina contra a gripe em 2021 deverá fazê-lo agora, mesmo sabendo que terá pouca proteção contra a cepa em circulação no momento, a Darwin. E depois deverá se vacinar com o novo imunizante, previsto para março.

​Kfouri recomenda quatro pilares tanto contra a Covid como contra a gripe: vacina, máscara, distanciamento e ventilação natural nos ambientes.

Para Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista e integrante da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas, apesar da alta nas hospitalizações por gripe e Covid-19, é improvável que os hospitais voltem a ficar saturados, uma vez que grande parte da população tem alguma imunidade, seja pela vacina seja pela infecção.

Ainda assim, ele avalia que é preciso repensar o atendimento aos pacientes.

"Os prontos-socorros estão sobrecarregados e uma das coisas que tem dificultado demais o trabalho é a falta de diagnóstico rápido. Precisamos acelerar e dar uma diretriz ao paciente do ponto de diagnóstico e isolamento. Meu temor está muito mais associado com o primeiro atendimento, a porta de entrada, do que com a rede hospitalar", diz.

Quanto ao vírus influenza, na opinião de Araújo, a epidemia deve ser passageira. "Já está diminuindo em algumas regiões. Temos que pensar em médio prazo na ômicron e na influenza a curto prazo. O aumento nas hospitalizações já era esperado. Primeiro você aumenta os casos e depois começa a ver casos com mais gravidade e complicações."

Apesar dos apagões do sistema público de notificações, há também uma percepção de aumento de casos de Covid após o Natal com a participação epidemiológica das crianças.

"Esse atraso na vacinação infantil no Brasil é criminoso. A gente precisa enfatizar isso com letras garrafais. As crianças já deveriam estar vacinadas", ressalta Araújo.

Para o médico, os casos de Covid-19 continuarão aumentando também em razão do comportamento da população.

"Tenho visto as pessoas assumirem o risco de que é inevitável pegar Covid neste momento e por conta disso vivem a vida sem limites. Isso é um erro. As pessoas precisam entender que nos ambientes fechados e aglomerados é para usar máscara."


Quando ir ao pronto-socorro se tiver sintomas gripais?

Febre alta que não baixa com antitérmico

Falta de ar

Respiração com dificuldade

Caso pertença aos grupos de risco (como imunossuprimidos, pessoas com mais de 60 anos, com doença crônica, mulheres grávidas ou que deram à luz com menos de 14 dias)

Que cuidados devem ser tomados em caso de sintomas?

Se estiver se sentindo doente, faça o isolamento e use máscara dentro de casa para evitar contaminação de mais pessoas

Para evitar prontos-socorros lotados, procure orientação médica por teleconsulta, se possível

Faça o exame para saber o que é e trate com medicação prescrita por médicos

Colaborou Fábio Pescarini

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