Descrição de chapéu Coronavírus

Postos de SP não vacinam crianças após 18h30 para evitar desperdício de doses

Mãe diz que teve de esperar a chegada de outros pequenos para saber se seu filho seria imunizado

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São Paulo

Mesmo com os avisos diários da gestão Ricardo Nunes (MDB) de que UBSs (unidades básicas de saúde) e AMAs (assistências médicas ambulatoriais)/UBSs integradas abrem das 8h às 19h para a vacinação de crianças contra a Covid, os postos da cidade de São Paulo, na prática, encerram a imunização pelo menos meia hora antes.

O encerramento antecipado é feito para não haver o risco de doses sobrarem nos frascos, informam funcionários das unidades. Questionada, a Secretaria Municipal de Saúde não confirma a orientação para encerramento mais cedo das filas.

A imunização de crianças de 5 a 11 anos na capital paulista ocorre desde a semana passada. Começou no dia 17, com a vacina pediátrica da Pfizer para quem tem comorbidades e deficiência permanente, além de indígenas e quilombolas, e foi ampliada, no último sábado (22), para o público em geral de 6 a 11 anos, após a aprovação de uso da Coronavac pela Anivsa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Criança é vacinada contra a Covid-19 na UBS Nossa Senhora do Brasil, na região da Bela Vista, no centro de São Paulo - Rivaldo Gomes - 22.jan.22/Folhapress

Por volta das 18h30 desta segunda-feira (24), a autônoma Bárbara Gonçalves Simões, 23, levou o filho Miguel, 5, à UBS Cidade Líder, na zona leste, mas não conseguiu vacinar o garoto.

Segundo a mãe, um funcionário da unidade disse que ela poderia esperar até às 19h, quando o posto fecha às portas, mas avisou que só iriam abrir um novo frasco de vacina se houvesse dez crianças, para que todas as doses do vidro fossem usadas.

"Como tinha apenas eu e mais duas mães, tive de ir embora, sem conseguir vacinar o meu filho", afirmou Simões.

Na semana passada, o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, afirmou que cada frasco da vacina pediátrica da Pfizer tem dez doses que precisam ser aplicadas em até 12 horas após a abertura da embalagem. No caso da Coronavac, também com dez doses, o prazo é de oito horas.

A Folha confirmou a orientação em UBSs ou AMAs de todas as regiões da cidade de São Paulo. Na UBS Jardim Miriam 2, na zona sul, por exemplo, uma funcionária disse que a prática é pensada para evitar desperdício de doses.

Na UBS Brasilândia, na zona norte, a atendente disse que no local a fila é encerrada às 18h30 também por causa da lotação do posto, permitindo assim, que a unidade consiga fechar as portas às 19h.

A funcionária disse ainda que tem orientado os pais que só poderiam levar os filhos no final do dia, e assim correriam o risco de não conseguir a dose, que procurem o posto aos sábados.

O alerta de que as crianças podem ter de voltar no dia seguinte para não haver desperdício de um frasco aberto foi confirmado à reportagem também em UBSs da Bela Vista, na região central, do Limão, na zona norte, e do Jardim Jaqueline, na Vila Sônia (zona oeste).

Já a secretaria afirma apenas que "para não ocorrer nenhum desperdício de doses, uma vez que se abre um frasco de imunizante com dez doses, a unidade tem de oito a 12 horas para aplicação, no caso da Coronavac e Pfizer, respectivamente".

Por causa dos frascos abertos que não são totalmente usados até o fim do dia, desde o início da imunização de crianças contra a Covid-19, a pasta tem adotado a "xepa da vacina".

Ou seja, funcionários ligam próximo ao horário do fechamento dos postos para pais que fizeram inscrição, alertando que há doses remanescentes. Assim, as famílias têm alguns minutos para levarem seus filhos à unidade.

A "xepa" foi adotada quando a vacinação ainda era restrita a crianças com comorbidades ou deficiência permanente, além de indígenas e quilombolas, mas, no momento atual da campanha, a vacina pode ser aplicada em qualquer pessoa com idade entre 5 e 11 anos, o que esvaziou o sentido dessa lista de espera.

"As unidades estão orientadas a oferecer a imunização infantil até as 19h e, após este horário, se necessário, realizar a busca ativa por meio da lista de doses remanescentes", afirmou a pasta.

De acordo com a secretaria, até a última terça 7.971 doses remanescentes foram aplicadas em crianças na xepa.

Para a pediatra Ana Escobar, professora da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), o poder público precisa achar uma alternativa para não haver desperdício de vacina e não deixar que uma criança volte para casa sem ser imunizada.

"A 'xepa' é uma boa solução, pois o posto de saúde fica aberto até o seu limite, vacinando todas as crianças que chegarem, e, quando está perto de fechar, os profissionais observam que há doses sobrando e chamam os pais", disse.

Renato Kfouri, pediatra, infectologista e diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), também aponta o cadastro para doses remanescentes como uma saída para o problema, mesmo que a vacinação atualmente esteja aberta para todas as crianças de 5 a 11 anos.

"A xepa que São Paulo faz é sensacional e resolve uma dificuldade, pois, se sobrou [vacina], há aqueles inscritos para minimizar a perda."

Segundo a secretaria, até a terça-feira (25), cerca de 201 mil crianças receberam a primeira dose da vacina contra a Covid na capital paulista, ou seja, 18,6% do público estimado.

VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19 NA CAPITAL

Megapostos e drive-thrus
Das 8h às 17h
Para adolescentes e adultos
Veja endereços

UBSs e AMAs
Crianças*, adolescentes e adultos
Das 7h às 19h
Veja endereços

*A vacinação de crianças começa às 8h

Fonte: Secretaria Municipal da Saúde

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