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Queiroga diz que hidroxicloroquina não tem comprovação científica após pasta defender remédio

Saúde afirma que há eficácia no uso do medicamento contra Covid em documento para justificar rejeição de diretrizes ao SUS

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Brasília

O Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a hidroxicloroquina não tem eficácia comprovada contra a Covid-19. Medicamentos do kit Covid já foram descartados pela comunidade científica para a doença.

A declaração foi dada dias após a pasta afirmar que há eficácia e segurança no uso da hidroxicloroquina contra a Covid-19 em documento usado para justificar a rejeição de diretrizes de tratamento da Covid-19 ao SUS.

"Essas medicações foram utilizadas no começo da pandemia e na época o uso era chamado de uso compassivo, todos usaram. Posteriormente, se viu que nessas situações essa medicação não era mais aplicável e foi testada em outros contextos, né? Essas medicações, inclusive eu já falei, são medicações cuja evidência científica da sua eficácia ainda não está comprovada", disse em entrevista para o programa Sem Censura, da TV Brasil.

Profissional de saúde com embalagens de sulfato de hidroxicloroquina, azitromicina e difosfato de cloroquina - Ueslei Marcelino - 5.jun.2020/Reuters

Na mesma nota técnica, a pasta declara que as vacinas não demonstram essas características. A manifestação antivacina foi feita em tabela dentro de documento assinado pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Helio Angotti, uma liderança de ala do governo defensora das bandeiras negacionistas do presidente Jair Bolsonaro (PL).

As diretrizes rejeitadas haviam sido elaboradas por especialistas de entidades médicas e científicas e aprovadas pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS). Os textos contraindicavam o uso de medicamentos do kit Covid.

Queiroga ressaltou que à decisão tomada por Angotti cabe recurso e ele mesmo decidirá caso seja necessário.

Especialistas e sociedades médicas que participaram da elaboração da diretriz contra o uso do kit Covid no SUS vão apresentar um recurso ao Ministério da Saúde contra a decisão de arquivamento do texto.

"Cabe recurso dessa decisão [de Hélio Angotti] a ele mesmo e se não houver o acolhimento do recurso cabe ao ministro da Saúde decidir. O ministro pega a bola, bota na marca do pênalti e bate a bola para fazer o gol. Não é o governo da metáfora futebolística, né? Mas a gente tem que explicar a quem nos assiste na nossa TV Brasil. Chegou para o ministro eu vou analisar se o recurso deve ser acolhido ou não e se for acolhido eu vou analisar os seus detalhes", disse.

Ao assumir o Ministério da Saúde, em março de 2021, Queiroga anunciou que promoveria o debate na Conitec para encerrar a discussão sobre o uso do kit Covid. Ele indicou o médico e professor da USP Carlos Carvalho, contrário aos fármacos ineficazes, para organizar grupo que iria elaborar os pareceres.

Queiroga, porém, modulou o discurso e tem investido em agrados a Bolsonaro para se agarrar ao cargo. Ele passou a evitar o tema, ainda que admita a colegas que não vê benefícios no uso destes medicamentos.

O ministro ainda alterna, em discursos, elogios à compra e entrega das vacinas com acenos à ala bolsonarista que duvida da segurança e eficácia da imunização.

Nesta segunda-feira (24), a AMB (Associação Médica Brasileira) disse que o ministro da Saúde age à margem das mais simples normas de conduta e preceitos éticos esperados para a função.

Em um dos pontos disse que o ministro defende o kit Covid sob a tese da autonomia médica.

"Já em outubro, fez uma de suas repetidas defesas da aplicação do ineficaz kit Covid, sob a insustentável tese de que era questão de autonomia médica. A verdade é que a utilização de tratamentos já comprovadamente ineficazes pela ciência não é autonomia e, sim, má prática médica", pontuou.

Destacou ainda o mais recente movimento da pasta que, em nota técnica, desqualificou as evidências da ciência e as recomendações aprovadas para o tratamento ambulatorial e hospitalar da Covid-19 pela Conitec.

"Na mesma nota técnica, o Ministério da Saúde sustenta que a hidroxicloroquina é eficaz e segura. De gravidade extrema, a nota ainda classifica as vacinas contra Covid como medidas sem comprovação de efetividade e não-seguras, contrariando a todas as evidências científicas", pontuou.

A ABC (Academia Brasileira de Ciências) manifestou repúdio à atuação da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos que rejeitou parecer aprovado pela Conitec.

"Manifestamos nosso apoio e solidariedade aos coordenadores desse grupo de trabalho, bem como aos inúmeros especialistas envolvidos, que representaram sociedades científicas e universidades e elaboraram, em meticuloso trabalho, diretrizes para o tratamento da Covid-19, pautadas no conhecimento científico sólido e bem fundamentado nas melhores informações e recomendações internacionalmente aceitas", disse.

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