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Queiroga erra e diz que 4.000 morreram por vacina; vigilância relata 11 óbitos

Ministro reconhece que errou após questionamento da Folha e afirma que casos estão em investigação

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Brasília

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta segunda-feira (17) que há 4.000 óbitos comprovadamente relacionados à vacinação contra a Covid-19, dado errado e que se choca com informações oficiais da própria pasta.

Em boletim epidemiológico publicado no fim de novembro de 2021, com dados compilados até aquele mês, a Saúde apontava 11 mortes relacionadas a reações das vacinas.

Questionado pela Folha, o ministro repetiu o erro e disse que há 3.935 óbitos. Mais tarde, cobrado novamente sobre o dado, reconheceu que a informação estava errada e disse que são casos em investigação.

O ministro não quis compartilhar o dado mais atual consolidado do Ministério da Saúde sobre investigação de reações adversas das vacinas da Covid.

Esta reportagem informou, em versão anterior do texto, que a Saúde reconhecia, em outubro, uma morte ligada à vacina da Covid. O dado estava registrado no boletim mais recente disponibilizado pelo Ministério da Saúde em seu site, na página sobre dados de eventos adversos. Mas uma versão mais atual deste boletim, de novembro, foi publicada e deixada de fora desta área do site.

Foto mostra o ministro diante de microfone com a palavra saúde escrita ao fundo
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante entrevista à imprensa neste mês, em Brasília - Sergio Lima/AFP

Procurada, a assessoria da Saúde não se manifestou.

A reportagem apurou que o Ministério da Saúde considera que 13 mortes no Brasil estão associadas à vacinação, num universo de 325,71 milhões de vacinas aplicadas. Receberam pelo menos a primeira dose 159 milhões de pessoas, segundo dados oficiais do governo federal.

A Covid matou mais de 620 mil no Brasil desde o começo da pandemia.

Queiroga citou o dado errado em programa da Jovem Pan, quando questionado por uma comentarista da emissora sobre o sofrimento de "inúmeras famílias vítimas dos efeitos adversos das vacinas". Os entrevistadores fizeram perguntas a Queiroga em tom favorável ao governo Jair Bolsonaro (PL) e com dados distorcidos sobre a crise sanitária.

"Temos na Secretaria de Vigilância em Saúde registrado 1,7 óbito por cada 100 mil doses aplicadas. Isso perfaz cerca 4.000 óbitos onde há comprovação de relação causal com a aplicação da vacina", disse o ministro.

"Sempre que se adota estratégia dessa, de vacinação em massa, tem de se pesar riscos e benefícios", disse o ministro, que ainda citou que no auge da pandemia cerca de 4.000 morreram por dia.

​​O ministro da Saúde também disse à Jovem Pan que são "absolutamente não procedentes" as especulações de que deixará o governo para se candidatar em 2022. "Meu compromisso com o presidente Bolsonaro é no enfrentamento da pandemia da Covid-19", afirmou.

A fala errada de Queiroga sobre as mortes relacionadas à vacinação alimentou discursos antivacina nas redes sociais. Até as 22h20 desta segunda, ele não informou nas redes sociais ou por canais oficiais da Saúde que o dado está errado.

À Jovem Pan, o ministro ainda afirmou que a pandemia está sob controle e que a variante ômicron ainda não pressiona o sistema de saúde como em momentos anteriores.

Queiroga tem feito agrados a Bolsonaro, um vetor de desinformação sobre as vacinas, para se agarrar ao cargo no governo.

O ministro assumiu a pasta em março, defendendo uso de máscaras e de outras medidas de combate à Covid, mas modulou o discurso. No fim de 2021, participou de eventos no Palácio do Planalto sem o equipamento de proteção.

Ainda tem repetido falas do mandatário. "Essa questão da vacinação tem dado certo porque respeitamos as liberdades individuais. O presidente falou há pouco: às vezes é melhor perder a vida do que perder a liberdade", disse o ministro em dezembro.

No último dia 14, Queiroga acusou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de "fazer palanque" com o início da vacinação infantil contra Covid-19 no país.

O governador, que é pré-candidato ao Palácio do Planalto, esteve ao lado do menino indígena Davi Seremramiwe Xavante, 8, a primeira criança vacinada contra o coronavírus no Brasil.

"O político João Doria subestima a população. Está com as vacinas do governo do Brasil e do povo brasileiro em mãos fazendo palanque. Acha que isso vai tirá-lo dos 3% [de intenção de voto]. Desista! Seu marketing não vai mudar a face da sua gestão. Os paulistas merecem alguém melhor", escreveu Queiroga no Twitter.

Bolsonaro se opõe à vacinação de crianças. Além de questionar a eficácia de vacinas, ele garante que sua filha menor de idade não se imunizará.

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