Exercício após tomar vacina contra Covid e gripe pode turbinar efeito

Novo estudo aponta que pessoas que realizaram atividades por 90 minutos após se imunizar produziram mais anticorpos

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Gretchen Reynolds
The New York Times

Fazer uma caminhada longa e acelerada, uma corrida ou um passeio de bicicleta depois de sua próxima vacina contra Covid ou influenza pode intensificar os benefícios da vacina, revelou um novo estudo sobre exercício físico e imunização.

Feito com 70 pessoas e 80 camundongos, o estudo analisou as respostas dos anticorpos após uma injeção da vacina contra influenza ou das duas doses da vacina contra Covid da Pfizer-BioNTech.

Foi constatado que pessoas que se exercitaram por 90 minutos imediatamente após receber a injeção produziram mais anticorpos que as outras. O reforço imunológico adicional, que deve ajudar a reduzir o risco de adoecimento grave com Covid ou influenza, não parece ter provocado efeitos colaterais agravados.

Os resultados do estudo são preliminares e ainda precisam ser testados com um número maior de pessoas. Mas vêm somar-se a evidências crescentes de que estar em forma e fisicamente ativo pode preparar o corpo para responder especialmente bem às vacinas contra influenza e Covid.

Pessoas se exercitam à beira-mar em Dacar, no Senegal - Li Yan - 27.nov.2021/Xinhua

O EXERCÍCIO FÍSICO ALTERA 'QUASE TODAS' AS CÉLULAS IMUNES

A relação entre exercício e imunidade já é amplamente conhecida. A maioria dos estudos demonstra que ser fisicamente ativos ajuda a nos proteger contra resfriados e outras infecções leves das vias respiratórias superiores.

Estar em boa forma física também pode ajudar a reduzir a gravidade de uma infecção, se for contraída. Por exemplo, um estudo feito no ano passado com quase 50 mil californianos que desenvolveram Covid revelou que aqueles que se exercitavam regularmente antes do diagnóstico tinham metade das chances de acabar hospitalizados, comparados às pessoas que raramente praticavam exercício.

Já o exercício extremo pode enfraquecer nossa imunidade. Maratonistas frequentemente relatam que ficam doentes depois de corridas, e ratos de laboratório que correm até a exaustão total tendem a ficar mais suscetíveis à influenza, comparados com animais sedentários.

De modo geral, porém, o exercício físico parece dar um impulso poderoso ao nosso sistema imune. "O comportamento de quase todas as populações de células imunes no sangue é modificado de alguma maneira durante e após o exercício", concluiu uma revisão recente de pesquisas passadas sobre o tópico.

Assim, não deve surpreender que o exercício possa também afetar a resposta a vacinas. Alguns estudos passados mostraram que fazer exercícios de braço antes de tomar uma vacine antigripal elevou o número de anticorpos e células imunes especializadas depois, mais do que apenas ficar sentado sem se mover.

E em um estudo de 2020, atletas de elite competitivos no meio de suas temporadas de treinamento geraram mais anticorpos e células imunes depois de tomar uma vacina antigripal do que foi o caso de um grupo de controle formado de jovens saudáveis.

EXISTE UMA DOSE 'CORRETA' DE EXERCÍCIO?

Mas poucos desses estudos anteriores procuraram identificar o melhor momento e duração de exercício para ampliar os efeitos das vacinas, e nenhum deles analisou as vacinas contra Covid, disponíveis apenas desde o final de 2020.

Assim, para o novo estudo, publicado esta semana no periódico científico Brain, Behavior, and Immunity, um grupo de imunobiólogos e cientistas do exercício na Iowa State University, em Ames, Iowa, pediram a pessoas que iam receber uma vacina contra influenza ou Covid que se exercitassem.

Eles começaram convidando dezenas de adultos saudáveis com entre 18 e 87 anos que disseram praticar exercício físico ocasionalmente para virem ao laboratório receber uma injeção da vacina contra influenza.

E os cientistas combinaram com pontos locais de vacinação contra Covid para recrutarem 28 homens e mulheres que iam receber a primeira dose de vacina contra Covid. Antes das vacinas, colheram sangue de todos os voluntários para checar seus níveis de anticorpos.

Depois disso, orientaram as pessoas aleatoriamente a ou ficar sentadas calmamente ou a exercitar-se por 90 minutos depois de receberem a injeção. Pesquisas anteriores haviam sugerido que exercitar-se depois de receber uma vacina aumenta a resposta imune mais do que o mesmo nível de exercício antes da vacina.

Eles definiram 90 minutos como uma meta geral de exercício porque pesquisas não publicadas de seu laboratório sugeriram que essa quantidade de exercício físico eleva fortemente a produção de uma substância no sangue chamada interferon alfa que pode provocar a criação de celas imunes.

Pessoas se exercitam em parque em Madri - Gabriel Bouys - 25.mai.2020/AFP

Então os voluntários que fariam exercício andaram de bicicleta ergométrica ou caminharam rapidamente por 90 minutos após receberem a vacina, ou no laboratório ou nas calçadas próximas aos locais de vacinação contra Covid.

Eles malharam em ritmo levemente cansativo, visando manter sua frequência cardíaca em entre 120 e 140 batidas por minuto.

Mas os pesquisadores também pediram a alguns dos voluntários vacinados contra influenza para se exercitarem por apenas 45 minutos, para ver se o tempo mais curto teria efeito igual de elevar a imunidade.

Como os níveis de anticorpos tendem a subir nas semanas seguintes à vacinação, os cientistas colheram sangue de todos os voluntários duas semanas e depois quatro semanas após a vacinação. (As pessoas que receberam a vacina de Covid receberam a segunda dose durante esse período, já que a segunda dose da vacina da Pfizer deve ser aplicada três semanas após a primeira.)

45 MINUTOS NÃO BASTAM

Depois de um mês, os níveis de anticorpos contra a influenza ou a Covid de todos os participantes subiram muito, conforme o que se espera após a inoculação. Mas ficaram mais altos nos homens e mulheres que haviam se exercitado por 90 minutos após a vacinação.

A margem de diferença nos anticorpos não foi enorme. "Mas foi estatisticamente significativa", comentou Marian Kohut, professora de cinesiologia e membro do Nanovaccine Institute da universidade Iowa State, que supervisionou o novo estudo.

As pessoas que se exercitaram não relataram efeitos colaterais adicionais após a vacina (tampouco tiveram menos efeitos colaterais).

Um fato interessante foi que, segundo o estudo, 45 minutos de exercício não foi o bastante para elevar o nível de anticorpos. Segundo Kohut, o tempo menor de exercício provavelmente não chegou a elevar os níveis das substâncias necessárias para ampliar a imunidade.

Pessoas lotam o parque Ibirapuera para fazerem exercícios físicos em São Paulo - Eduardo Knapp/ Folhapress

Os pesquisadores repetiram o experimento com a vacina contra influenza com camundongos que ou correram ou ficaram parados após a vacina. Examinaram o sangue dos camundongos para checar os níveis de interferon alfa e viram que estes se elevavam com o exercício.

Mas, se os cientistas bloqueavam quimicamente a produção da substância, os anticorpos dos animais aumentavam pouco com o exercício, fato que sugere que o exercício melhora a resposta às vacinas em parte porque primeiro eleva os níveis de interferon alfa.

O resultado final, disse Kohut, é portanto que "se você tiver tempo e um lugar seguro para se exercitar depois de receber a vacina", uma sessão de exercício físico moderado por 90 minutos pode ampliar sua resposta à vacina, sem aumentar os efeitos colaterais dela.

SERÁ QUE 60 MINUTOS PODEM SER O BASTANTE?

Mas o estudo foi pequeno e não mediu os níveis de anticorpos por mais do que um mês após a vacinação. Tampouco acompanhou os participantes para verificar se eles contraíram influenza ou Covid posteriormente, nem analisou os níveis de várias outras células que podem afetar a resposta imune, destacou Kohut.

Uma hora e meio é muito exercício. "É importante lembrar que foi necessário um esforço sustentado: 90 minutos com frequência cardíaca elevada", disse Carmine Pariante, professor do King’s College London que é editor do periódico no qual o estudo saiu.

"A combinação de três vacinas diferentes em humanos e em um modelo animal é um ponto forte singular deste estudo", ele comentou, acrescentando que é tranquilizador saber que as respostas aumentadas de anticorpos ocorreram independentemente do nível de boa forma física das pessoas vacinadas.

Os pesquisadores esperam estudar se 60 minutos ou outras durações ou intensidades de exercício podem ajudar –ou o oposto— após a vacinação e por quanto tempo podem durar as respostas dos anticorpos. Eles já estão recrutando pessoas para um estudo de mais longo prazo sobre os efeitos do exercício físico sobre doses de reforço de vacina anti-Covid.

Por enquanto, porém, se você vai tomar uma vacina contra influenza ou Covid, vale a pena reservar 90 minutos para percorrer a área em volta a pé ou de bicicleta, andando rapidamente, logo depois de ser vacinado. Com isso, a vacina que você tomou pode lhe dar proteção imune adicional.

Tradução de Clara Allain

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