Zé Gotinha 'caça' crianças, e super-heróis se unem pela vacinação infantil contra a Covid

Prefeituras pelo país recorrem a personagens para receber crianças e incentivar pais

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Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, São Paulo e Porto Alegre

Na Penha, zona norte do Rio de Janeiro, Zé Gotinha foi às ruas "caçar" crianças e convencer os pais de que elas precisavam ser imunizadas. Na mineira Contagem, Hulk recepcionava os pequenos, que recebiam um "certificado de coragem". Na capital baiana, os aliados eram o Pantera Negra e o Super-Homem. No Recife, a recepção foi com pipoca e brinquedo inflável.

Super-heróis se uniram ao Zé Gotinha, símbolo da vacinação no país, como estratégia das prefeituras para aumentar a cobertura vacinal das crianças contra a Covid, ainda baixa. Já no trabalho de convencimento dos pais, especialistas apontam que notícias falsas contra a vacina têm sido obstáculo na campanha.

Agente de saúde de máscara e jaleco usa seringa para vacinar menino de máscara; ao lado está mascote Zé Gotinha, de máscara
William dos Anjos Matos da Silva, 5, com agente de saúde e o Zé Gotinha em vacinação contra a Covid-19 na Penha, na zona norte do Rio de Janeiro - Tércio Teixeira/Folhapress

Nas redes sociais da Prefeitura do Rio de Janeiro, o Zé Gotinha ganhou poderes especiais, roupa de super-herói e até novos nomes, como Zézim de Ferro, Lady Vacina e Batdose.

Na capital fluminense, 52% dos 560 mil jovens de 5 a 11 anos tomaram a primeira dose.

Daniel Soranz, secretário de saúde da cidade, chegou a afirmar em redes sociais que a "imunização infantil contra a Covid é a menor da história das campanhas de vacinação do Rio".

Para Wallace Souza Matos, 43, a presença do Zé Gotinha era uma forma de deixar o filho mais à vontade. Sentando em uma cadeira azul, William, 5, faz coro à opinião do pai. "Eu estou um pouquinho nervoso, mas acho o Zé Gotinha muito legal, porque ele faz o bem para as pessoas", conta ele, enquanto esperava para ser imunizado em um posto de saúde da Penha, no Rio.

Após receber a primeira dose, ele ganhou um "certificado de coragem", outra medida que a prefeitura adotou para incentivar a vacinação infantil.

De acordo com Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), atividades lúdicas são uma estratégia eficaz para aumentar a cobertura vacinal.

"A vacinação acaba se tornando um momento de festa e de descontração. Então, a criança fica estimulada a se vacinar para mostrar que ela é corajosa e que faz parte do grupo dos super-heróis", diz ele, que acrescentou ser importante também apostar em outras medidas, como a busca ativa.

"Essa é uma estratégia de mapeamento muito importante que a gente estimula que seja utilizada para a busca não só das crianças, mas de todas as outras faixas etárias."

Como muitos pais não foram vacinar seus filhos, agentes comunitários têm apostado nessa estratégia.

Eles saem às ruas para conscientizar os pais sobre a importância da vacinação. Foi isso o que fez a agente Sônia Fernandes de Souza, 53, na manhã desta sexta (11), quando saiu pelas ruas da Penha vestida de Zé Gotinha.

"A imagem do Zé Gotinha facilita muito, porque já é algo cultural. E as crianças gostam de brincar com a gente", diz a agente.

O presidente da SBIm afirma que a disseminação de notícias falsas tem alimentado a desconfiança dos pais. "A gente precisa estimular justamente a confiança para eles se sentirem tranquilos. Os imunizantes são seguros e eficazes e vão proteger em especial contra formas graves."

Em Minas Gerais, o Hulk, a Mulher-Maravilha e o Capitão América entraram em ação nos postos de saúde e escolas e galpões para vacinação infantil.

"Vou ficar super bom e forte", diz Isac Tavares Santos Simões, 6, em Contagem. Ele recebeu o "certificado de coragem". "A gente sempre tem que resguardar e proteger os nossos filhos", afirma a mãe do garoto, Natália Tavares Santos.

Os comunicados para os pais levarem os filhos para a vacinação são feitos pelas redes sociais oficiais e carros de som.

agente de saúde de máscara e roupa branca aplica injeção em menino vestido de batman, acompanhado do irmão também de Batman
João Victor Sampaio Vieira, 9, se fantasiou de Batman para ir se vacinar em Contagem (MG) - Janine Moraes/Prefeitura de Contagem

O Zé Gotinha foi o escolhido pela Prefeitura de Belo Horizonte para incentivar a vacinação de crianças. O personagem percorre pontos de vacinação da cidade conversando com pais e brincando com os pequenos.

Até o último sábado (5), 51% de um total de 136 mil crianças, com ou sem comorbidades, já convocadas para a vacinação foram imunizadas.

O "certificado de coragem" também é fornecido em Belém. Até o momento, 52.664 crianças de 5 a 11 já foram imunizadas na capital paraense, o que corresponde a 37,2% dos moradores nessa faixa etária.

Na mesma linha, em Curitiba, as crianças recebem um "documento" de que passaram com louvor pela agulhada. A prefeitura dá o "certificado de curitibinha vacinado".

Também está presente o Curitibinha, que percorre pontos da cidade para incentivar pais a vacinarem as crianças. Conforme a prefeitura, até a última quarta (9), 46% das crianças de Curitiba haviam recebido a primeira dose.

No Recife, com apenas 21,93% (34.985) crianças de 5 a 11 anos vacinadas, a prefeitura criou o projeto Parquinho da Vacina, como estratégia para ampliar a cobertura da proteção infantil.

A ação itinerante tem brinquedo inflável, jogo de futebol, pipoca e outros atrativos para as crianças, em diversos bairros da cidade, sem necessidade de agendamento, das 8h às 16h.

Segundo a secretária de Saúde do Recife, Luciana Albuquerque, a vacinação infantil no município teve início em 15 de janeiro passado, entretanto, diante da baixa procura, foi preciso adotar uma estratégia de atração não só para as crianças, mas também para os pais.

A partir da próxima semana, o município planeja levar a vacinação para as unidades de ensino para dar maior comodidade às famílias. A gestora afirma, ainda, que a prefeitura tem feito apelos nas redes sociais para convencer os pais sobre a importância da imunização.

"É uma vacina que tem sido muito polêmica, pois percebemos que há pais que se vacinam, mas não levam as crianças", observou. "Os efeitos adversos são muito leves, a exemplo que ocorre em qualquer outra vacinação."

Em Fortaleza, shows de mágica, performances de palhaços, apresentações musicais, além do "certificado de coragem", estão entre as mais de 300 atrações artísticas levadas pela prefeitura aos locais de vacinação, tanto de adultos quanto de crianças.

Em Salvador, em algumas Unidades de Saúde da Família, como no bairro Cajazeiras, profissionais de saúde se vestem de Robô Gigante, Pantera Negra e Super-Homem. Já na região do Curralinho, o Homem-Aranha atua em parceria com o Super-Homem para salvar as crianças do coronavírus.

Em Goiás, o apelo foi para o funk em Luiziânia.

"O pai, tu bebe Skol, Lokal, Bavária e Polar, e agora tu com medo de me vacinar", diz trecho de canção, que foi publicada nas redes sociais da prefeitura. Em outro trecho, já ao final, o intérprete ainda deixa uma "ameaça" aos pais: "me leva lá no posto senão chamo o [conselho] tutelar".

papeis coloridos escritos certificado de coragem em mesa
Em Campinas (SP), crianças imunizadas recebem medalhas e certificados de coragem - Prefeitura de Campinas/Divulgação

A paulista Campinas também recorreu a certificado e medalhas para as crianças corajosas que se imunizaram. Alguns funcionários vestiam roupas de temas infantis. Até a última quarta-feira (9), cerca de 34 mil crianças já haviam sido imunizadas na cidade, o que representa 30% do público-alvo.

Na vizinha Sumaré havia, além do Zé Gotinha, a presença de super-heróis e da Galinha Pintadinha –personagem que se tornou símbolo da campanha de imunização infantil do governo João Doria (PSDB).

Em Porto Alegre, a prefeitura criou a "Liga da Saúde" com cinco personagens inspirados nos grupos prioritários, além do gato Rapadura e do cachorro Chimarrão.

A turma, que aparece em campanhas nas redes sociais e materiais didáticos disponíveis no site da prefeitura, tem superpoderes que são reforçados depois da dose da vacina contra a Covid-19. Quem encara a injeção pode receber o seu próprio certificado de membro da Liga.

Em Florianópolis, além de encontrar personagens como Batman e a princesa Elza (do desenho "Frozen"), crianças vacinadas ganharam uma muda de árvore nativa depois de receberem a primeira dose —ipês, jabuticabeiras e pitangueiras são algumas das espécies entregues nos postos pela prefeitura.

Na capital de Santa Catarina, a taxa de vacinados está em 44,6%. Ao todo, a estimativa é que o público de crianças de 5 a 11 anos chegue a 38.358 pessoas.

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