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Inteligência artificial é usada para ajudar a seguir dietas

Aplicativos prometem auxiliar usuário a fazer escolhas mais saudáveis com rapidez

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Sandeep Ravindran
The New York Times

Depois de 20 anos vivendo com diabetes tipo 2, Tom Idema tinha perdido a esperança de controlar a doença. Ele tentou muitas dietas que não tiveram sucesso e até pensou em fazer cirurgia para redução de peso. Quando seu empregador lhe ofereceu a oportunidade de experimentar um novo aplicativo de dieta que usa inteligência artificial para controlar o açúcar no sangue, ele topou.

Idema, 50, enviou uma amostra de fezes para sequenciar seu microbioma e preencheu um questionário online com sua taxa de açúcar, altura, peso e condições médicas. Esses dados foram usados para criar um perfil dele, ao qual acrescentou medições contínuas de açúcar no sangue durante algumas semanas.

Depois disso, o aplicativo, chamado DayTwo, classificou diferentes alimentos conforme fossem bons ou ruins para o açúcar no sangue de Idema, para ajudá-lo a fazer melhores opções alimentares.

Prato branco com um bife, salada de folhas e beterraba e purê de batata
Prato de comida; aplicativos usam inteligência artificial para criarem a melhor opção de alimentação saudável especialmente para cada indivíduo - Mathilde Missioneiro - 27.out.20/Folhapress

Depois de quase 500 dias usando o programa, seu diabetes está em remissão e seus níveis de açúcar no sangue caíram para o limite superior do normal. E apesar de o app DayTwo dizer que não visa a reduzir o peso, Idema passou de 145 kg para 103 kg.

"Estou usando calças de tamanhos que não usava desde o colégio", disse Idema, que é administrador da Universidade Central de Michigan em Mount Pleasant.

DayTwo é apenas um de uma série de aplicativos que afirmam oferecer soluções de alimentação de IA.

Em vez de uma dieta tradicional, que muitas vezes tem uma lista definida de alimentos "bons" ou "ruins", esses programas mais parecem assistentes pessoais que ajudam a pessoa a fazer opções alimentares saudáveis rapidamente. Eles se baseiam em pesquisas que mostram que os corpos reagem de maneira diferente aos mesmos alimentos, e as escolhas mais saudáveis provavelmente serão únicas para cada indivíduo.

Como fazer escolhas alimentares (artificialmente) inteligentes

O aplicativo DayTwo usa um algoritmo baseado na pesquisa feita por Eran Elinav e Eran Segal, do Instituto Weizmann de Ciências, em Israel, que fundaram a empresa em 2015. No ano passado, a companhia descobriu que, quando usavam seu algoritmo para encontrar uma dieta compatível com o microbioma e o metabolismo de um indivíduo, ela era melhor para o controle do açúcar no sangue do que a dieta mediterrânea, considerada uma das mais saudáveis do mundo.

"Em vez de medir os alimentos pelo conteúdo calórico e tentar criar uma 'dieta saudável', você precisa começar a medir o indivíduo", disse Elinav.

Essa tecnologia é relativamente nova e diz respeito apenas ao açúcar no sangue. A dieta mediterrânea, entretanto, se apoia em décadas de pesquisa e provavelmente continuará sendo o padrão-ouro de alimentação saudável nos próximos anos. Ainda assim, para pessoas como Idema, a IA como a da DayTwo pode facilitar a manutenção de padrões alimentares saudáveis.

O algoritmo do aplicativo pode identificar padrões e aprender com os dados, com ajuda humana. Ele analisa os dados das respostas de açúcar no sangue de diferentes indivíduos a dezenas de milhares de refeições diferentes para identificar características pessoais —idade, sexo, peso, perfil do microbioma e várias medidas metabólicas– que explicam por que a glicose de uma pessoa aumenta com certos alimentos e a de outra pessoa, não.

O algoritmo usa essa análise para prever como determinado alimento afetará o açúcar no sangue e atribuir uma pontuação para cada refeição.

O DayTwo, atualmente disponível apenas para empregadores ou planos de saúde, não para consumidores, é um de vários aplicativos baseados em IA que recomendam refeições mais saudáveis.

Outra empresa, a ZOE, também gera notas de refeições e está disponível diretamente aos consumidores, por US$ 59 mensais. O algoritmo do ZOE usa dados adicionais, como níveis de gordura no sangue, além de testes de microbioma e açúcar no sangue.

O algoritmo foi capaz de prever como o açúcar e as gorduras no sangue de uma pessoa respondem a diferentes alimentos em um grande estudo de 2020 liderado por um dos fundadores da empresa, doutor Tim Spector, professor de epidemiologia genética no King's College, em Londres.

Comprador, cuidado

O campo da nutrição personalizada ainda está na fase pioneira, e especialistas dizem que é importante evitar modismos. Muitas empresas se oferecem para testar microbiomas e oferecem recomendações dietéticas orientadas por IA —além de vender suplementos—, mas poucas se baseiam em testes cientificamente rigorosos.

No ano passado, a uBiome, que fez um, foi até acusada de fraude. Em geral, quanto mais abrangentes forem as reivindicações de saúde e perda de peso feitas pelas empresas, menos confiáveis serão as evidências em seu apoio.

"Acho que agora tudo está badalado demais, infelizmente", disse o doutor Eric Topol, cardiologista e fundador e diretor do Instituto Scripps de Pesquisa Translacional.

Os dados usados por aplicativos como DayTwo e ZOE também captam apenas uma fração da interação entre o microbioma intestinal, nosso metabolismo e a dieta. Certamente há muitos outros fatores, incluindo a genética, que afetam o metabolismo e são ignorados pelos atuais programas de IA.

"Isso não conta toda a história, e apenas otimizar em torno da glicose não será suficiente para criar a dieta perfeita para você", disse o doutor Casey Means, cofundador e diretor médico da empresa de saúde digital Levels. Os aplicativos de IA podem levar os usuários a ingerir alimentos que são bons para evitar picos de açúcar no sangue e diabetes, mas podem ser prejudiciais de outras maneiras.

Por exemplo, quando Topol experimentou o aplicativo DayTwo, suas recomendações para controlar o açúcar no sangue —como comer espinafre e framboesas— eram ricas em ácido oxálico, o que poderia ter induzido pedras nos rins. Isso porque o aplicativo não levou em consideração seu risco preexistente para essa condição.

Além disso, as dietas restritivas são cada vez mais consideradas uma maneira ruim de mudar os hábitos alimentares, e muitas vezes dão o resultado inverso. Mas muitos especialistas esperam que os aplicativos de IA personalizados sejam mais fáceis de seguir e criem melhores comportamentos em longo prazo.

Para Idema, os efeitos das dietas personalizadas já são tangíveis, mais recentemente quando seus níveis de açúcar no sangue melhorados lhe permitiram saborear o bolo de aniversário de sua filha.

"Eu estava com o monitor de glicose na época e fiquei bem dentro do limite, então meu corpo lidou bem com isso", disse ele. "Estou numa situação muito, muito melhor agora e, na minha mente, esse programa definitivamente salvou minha vida."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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