Janssen evita infecções e mortes por Covid tão bem quanto Pfizer, mostram novos dados

Análise nos EUA aponta para desempenho surpreendente da vacina, antes considerada menos protetora

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The New York Times

Cerca de 17 milhões de americanos receberam a vacina da Janssen contra Covid-19, mas depois foram informados de que era a menos protetora das opções disponíveis nos Estados Unidos. Entretanto, novos dados sugerem que hoje a vacina está evitando infecções, hospitalizações e mortes pelo menos tão bem quanto os imunizantes da Pfizer-BioNTech e da Moderna.

As razões não são claras e nem todos os especialistas estão convencidos de que a vacina está livre de dúvidas. Mas os dados acumulados oferecem de qualquer modo uma garantia considerável aos receptores da vacina e, se confirmados, têm amplas implicações para sua utilização em outras partes do mundo.

Na África, por exemplo, a distribuição de uma vacina de dose única que pode ser refrigerada durante meses é de longe a opção mais prática.

Profissional da saúde prepara dose da vacina da Janssen - Dado Ruvic - 16.jan.2022/Reuters

A Johnson & Johnson fechou pelo menos temporariamente a única fábrica que produz lotes utilizáveis da vacina. Mas a Aspen Pharmacare, sediada na África do Sul, se prepara para fornecer grandes quantidades ao resto do continente. Apenas cerca de 13% dos africanos estão totalmente vacinados e somente cerca de 1% recebeu uma dose de reforço.

"No cenário da África, onde precisamos distribuir vacinas rapidamente, a dose única é muito animadora", disse Linda Gail-Bekker, diretora do Desmond Tutu HIV Center da Universidade da Cidade do Cabo, que estudou a eficácia da vacina na África do Sul.

A vacina da Janssen foi anunciada como uma opção interessante para comunidades com pouco acesso a cuidados de saúde, incluindo algumas nos Estados Unidos, devido à sua facilidade de entrega e aos efeitos colaterais leves. Mas seu percurso foi acidentado.

A injeção parecia produzir uma resposta imune inicial mais fraca, e um número maior de pessoas que receberam a vacina de dose única tiveram infecções recorrentes, em comparação com aquelas que receberam duas doses das vacinas da Pfizer ou da Moderna, de mRNA.

Em abril, autoridades federais de saúde dos Estados Unidos e da África do Sul interromperam a distribuição da vacina da Janssen enquanto examinavam relatos de um raro distúrbio de coagulação do sangue em mulheres. Embora os dois países tenham retomado os lançamentos logo depois, a reputação da vacina nunca se recuperou totalmente.

Mas a ideia de que a vacina é inferior ficou ultrapassada, disseram alguns especialistas. Dados mais recentes sugerem que ela tem mais do que mantido sua posição em relação às concorrentes.

"Estamos cientes de que a J&J foi um tanto depreciada na mente das pessoas", disse a doutora Gail-Bekker. Mas "ela é mais que satisfatória para uma vacina de dose única".

Até junho, os dados cumulativos dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) mostravam que a imunização com a vacina Moderna resultou nas menores taxas de reinfecções; as pessoas que tomaram a Janssen tiveram as taxas mais altas, com a Pfizer-BioNTech em um ponto intermediário.

Durante os meses de verão, as diferenças –particularmente entre Janssen e Pfizer– começaram a diminuir. Até agora, todas as vacinas parecem estar funcionando igualmente bem contra infecções por coronavírus; na verdade, a da Janssen parece estar se mantendo um pouco melhor.

Segundo os dados mais recentes disponíveis, de 22 de janeiro, as pessoas não vacinadas tinham 3,2 vezes mais probabilidade de serem infectadas do que aquelas que receberam a dose única da Janssen; 2,8 vezes mais chances de serem infectadas do que as que receberam duas doses da vacina Moderna; e 2,4 vezes mais do que as que tomaram duas doses da Pfizer-BioNTech. Em geral, a Janssen parecia dar um pouco mais de proteção contra a infecção do que as duas alternativas.

Entre os americanos que receberam doses de reforço, todas as vacinas pareciam ter aproximadamente a mesma eficácia contra a infecção. Uma injeção de reforço não aumentou muito o nível de proteção anterior da Janssen (embora os dados não indiquem quem recebeu qual tipo de injeção de reforço). Os dados foram coletados pelo CDC em 29 jurisdições, representando 67% da população dos Estados Unidos.

"Os dados do CDC se somam ao crescente corpo de evidências que indica que a vacina da Janssen para Covid-19 oferece proteção duradoura contra infecções e hospitalizações", disse o laboratório em comunicado.

Os resultados indicam que a vacina da Janssen merece um olhar mais atento, disse o doutor Larry Corey, especialista em desenvolvimento de vacinas no Centro de Pesquisa do Câncer Fred Hutchinson em Seattle.

"Essa plataforma de vacinas pode ter algumas características surpreendentes que não havíamos previsto", disse ele. Os dados "são interessantes, provocativos, e devemos dedicar mais tempo para entendê-los".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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