Descrição de chapéu Coronavírus

Veja o que se sabe sobre a eficácia de vacinas em crianças ante a ômicron

Imunizantes não conseguem prevenir infecção, mas proteção continua elevada contra hospitalização e óbito

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São Paulo

As vacinas contra Covid foram desenvolvidas, testadas em milhares de pessoas e aprovadas em um momento em que a forma do coronavírus circulante era a ancestral ou então cepas de menor preocupação.

A chegada de variantes mais transmissíveis e com escape vacinal, como a ômicron, mostrou que uma terceira dose em adultos é necessária para manter a proteção contra a doença e as suas formas mais graves.

A vacina da Pfizer contra Covid para crianças com cinco anos ou mais, com formulação diferente daquela para o público mais velho, foi aprovada e passou a ser utilizada nos EUA e em outros países no final de 2021. Já para os adolescentes de 12 a 17 anos, o imunizante do laboratório americano tem a mesma dosagem do que o para adultos.

Um adolescente de 16 anos recebe a vacina da Pfizer no Alaska, o primeiro estado nos Estados Unidos a iniciar o acesso das vacinas a toda a população com 16 anos ou mais
Um adolescente de 16 anos recebe a vacina da Pfizer no Alaska, o primeiro estado nos Estados Unidos a iniciar o acesso das vacinas a toda a população com 16 anos ou mais - Frederic J. Brown - 19.mar.21/AFP

Os resultados de estudos controlados e randomizados de fase 3 da farmacêutica apontaram uma eficácia de 100% da vacina nos adolescentes, e de 90,7% em crianças de 5 a 11 anos.

No Chile, bem como no Brasil, a Coronavac também foi aprovada para crianças e adolescentes, de 6 a 17 anos, no caso brasileiro, e para aqueles com 3 anos ou mais, no país vizinho.

Dados da efetividade (ou seja, da eficácia na vida real) dessas vacinas começam agora a surgir, principalmente no contexto da variante ômicron.

Coronavac no Chile

Segundo um estudo de pesquisadores chilenos publicado em 22 de fevereiro, a Coronavac induziu uma boa resposta imune tanto de anticorpos quanto de células de memória em indivíduos de 3 a 17 anos que receberam uma ou duas doses da vacina até 31 de dezembro, ainda no início de circulação da ômicron.

Os efeitos colaterais mais comuns da vacina foram dor no local da aplicação e dor de cabeça, registrados em maior número pelos adolescentes do que nas crianças, indicando uma boa segurança nos mais novos.

Mesmo com uma queda na capacidade de proteção frente à ômicron, a resposta de anticorpos gerada quatro semanas após a segunda dose foi maior do que a observada em adultos.

Já um estudo divulgado na última terça (15) também produzido a partir de dados no Chile mostrou que a eficácia da Coronavac para prevenir a infecção em crianças de 3 a 5 anos era de apenas 38%. O estudo foi conduzido com mais de 460 mil crianças que receberam ou não duas doses do imunizante no período de 6 de dezembro de 2021 a 26 de fevereiro de 2022, incluindo, assim, o período da ômicron no país.

A proteção na mesma faixa etária para hospitalização foi de 64,6% e de internação em uma unidade de terapia intensiva (UTI) foi de 69%. Dados de eficácia contra mortes não foram obtidos porque no período analisado só ocorreram dois óbitos nesse grupo.

Sinal amarelo em Nova York

No dia 28 de fevereiro, um estudo, coordenado pelo pesquisador Eli Rosenberg, do departamento de saúde do estado de Nova York, indicou uma queda significativa na proteção da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos.

Antes da ômicron, a eficácia da vacina contra infecção era de 68% nesta faixa etária, caindo para 12% no final de janeiro. Já nos adolescentes de 12 a 17 anos vacinados com o imunizante, a proteção teve uma queda de 66% para 51% contra os casos sintomáticos de Covid. Em ambas as faixas etárias, a proteção para hospitalizações e óbitos, porém, se manteve elevada.

A pesquisa, que avaliou dados de 852.384 adolescentes de 12 a 17 anos e de 365.502 crianças de 5 a 11 anos que receberam o imunizante no estado de Nova York, foi divulgada na plataforma de pré-prints online medRxiv e ainda aguarda revisão por pares. O período do estudo foi de 13 de dezembro de 2021 a 30 de janeiro de 2022, portanto, dentro da onda de ômicron.

Além da diferença de efetividade nas duas faixas etárias, os pesquisadores puderam observar que, para uma criança de 11 anos na semana de 24 de janeiro, a eficácia era de apenas 11% contra infecção, enquanto para uma criança de 12 anos na mesma data era de 67%.

Isso indica uma diferença relacionada à dosagem, uma vez que as crianças até 11 anos recebem o equivalente a um terço (10µg) da dose dada em adultos e adolescentes, de 30µg. O resultado aponta, portanto, que essa dosagem pode não ser suficiente para prevenir infecção.

Segundo Renato Kfouri, pediatra e presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, os dados do estudo feito em Nova York não devem, no entanto, ser extrapolados para outros cenários com outras coberturas vacinais, com intervalos de doses diferentes e com situação epidemiológica distinta, como é o caso do Brasil.

O uso da Coronavac, além da vacina da Pfizer, requer estudos específicos do Brasil para que se possa entender a efetividade das vacinas no público jovem do país. Esses dados ainda não foram publicados por aqui.

Dose de reforço mostra seu papel

Na última terça (1º), o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) divulgou dados de efetividade da vacina da Pfizer no público de 5 a 11 anos, de 12 a 15 e de 16 e 17. Segundo o levantamento, que incluiu mais de 40 mil dados de hospitalizações dessas faixas etárias de 9 de abril de 2021 a 29 de janeiro de 2022, a eficácia para todos os grupos apresentou uma redução, mas ela foi menor do que a observada no trabalho de Rosenberg em Nova York.

Nas crianças de 5 a 11 anos, a proteção da vacina para necessitar de atendimento hospitalar ou internação por Covid foi de 46% (de 14 a 67 dias após a segunda dose). No caso dos adolescentes de 12 a 15 anos e de 16 e 17 anos, que foram vacinados há mais tempo, a efetividade foi de 83% e 76%, respectivamente, de 14 a 149 dias após a segunda dose, e de 38% e 46% para os vacinados há cinco meses ou mais.

Nos jovens de 16 e 17 anos que receberam uma dose de reforço, a eficácia da vacina foi, no entanto, recuperada para 86%, uma semana ou mais após a dose adicional.

Para Juarez Cunha, pediatra e presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações), os estudos reforçam ainda mais a necessidade de vacinar as crianças.

"Os dados apontam para aquilo que já sabemos, que as vacinas não impedem a infecção, principalmente nas crianças de 5 a 11 anos, mas ao mesmo tempo eles chegam à conclusão de que a proteção contra as formas graves é elevada", diz.

Para Cunha, no Brasil, o momento é de atenção. "As crianças estão em risco elevado de infecção porque a cobertura vacinal ainda está baixa", explica.

Cunha lembra ainda que as vacinas foram formuladas em um período com a variante ancestral do vírus em circulação ou outras variantes, como a delta. "Não é só a ômicron, outras variantes também provocaram perda de imunidade, por isso que avaliamos a mudança no esquema vacinal em adultos com o reforço", lembra o médico.

Mais internações com ômicron

Na quarta (2), um artigo publicado na revista The New England Journal of Medicine com dados do maior serviço hospitalar europeu, em Paris, mostrou que, com a mudança da delta para a ômicron, o número de crianças necessitando internação por doença respiratória cresceu 233%, incluindo crianças que eram saudáveis.

A análise do hospital apontou ainda que nenhuma das crianças hospitalizadas com 12 anos ou mais estava completamente vacinada (com duas doses).

Dados da Academia Americana de Pediatria até o último dia 24 de fevereiro reportaram cerca de 4,8 milhões de casos de Covid em crianças desde o dia 1º de janeiro de 2022. Só na semana de 20 de janeiro, de acordo com a sociedade médica, foram mais de 1,15 milhão de casos.

Durante o período de dezembro e janeiro, as hospitalizações de crianças nos Estados Unidos por Covid explodiram, com cerca de 700 crianças internadas por dia, o maior número desde o início da pandemia.

As hospitalizações por Covid em crianças reportadas para 25 estados e a cidade de Nova York variaram de 1,4% a 4,6% do total de hospitalizações acumuladas em toda a população, com 0,1% a 1,5% dos casos de Covid em criança resultando em internação.

Um estudo feito pelo Hospital Pediátrico de Seattle também mostrou que a ômicron causou um aumento no número de internações por laringite em crianças no período de 1º de dezembro de 2021 a 15 de janeiro de 2022.

No Brasil, o último boletim InfoGripe, produzido pela Fiocruz, divulgado na última quinta (17), indica que os novos casos de Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em crianças continuam em crescimento, com cerca de 5.000 casos reportados na semana epidemiológica de 6 a 12 de março. A maioria (86,7%) dos casos de síndrome respiratória, de acordo com a nota, tem como causa a Covid.

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