Cientistas não veem benefício em jejum intermitente

Estudo mostra que a alimentação em um único período do dia não oferece benefícios nem influencia nos fatores de risco do paciente

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Gina Kolata
The New York Times

A ideia para se perder peso é bastante atraente: restrinja sua alimentação a um período de seis a oito horas por dia, durante as quais você pode comer tudo o que quiser.

Estudos com camundongos pareciam apoiar a chamada alimentação com restrição de tempo, uma forma da popular dieta de jejum intermitente. Pequenos estudos com pessoas obesas sugeriam que isso ajudava a perder peso.

Mas agora um estudo rigoroso durante um ano em que as pessoas seguiram uma dieta de baixas calorias entre as 8h e as 16h, ou consumiram o mesmo número de calorias a qualquer hora do dia, não encontrou um efeito direto.

sombra garfos parede
Ursula Gamez/Unsplash

A conclusão, segundo o doutor Ethan Weiss, pesquisador de dietas na Universidade da Califórnia em San Francisco: "Não há benefício em se alimentar numa janela de tempo estreita".

O estudo, publicado na última quarta-feira (20) no New England Journal of Medicine, foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Medicina do Sul em Guangzhou, na China, e incluiu 139 pessoas com obesidade. As mulheres ingeriram de 1.200 a 1.500 calorias por dia, e os homens, de 1.500 a 1.800 calorias diárias. Para garantir a validade, os participantes tiveram de fotografar todos os alimentos que comeram e manter diários de sua alimentação.

Os dois grupos perderam peso —em média 6,3 kg a 8,1 kg—, mas não houve diferença significativa na quantidade de peso perdido com cada estratégia dietética. Também não houve diferenças significativas entre os grupos em medidas de circunferência da cintura, gordura corporal e massa magra corporal.

Os cientistas também não descobriram diferenças em fatores de risco como níveis de glicose no sangue, sensibilidade à insulina, lipídios no sangue e pressão sanguínea.

"Esses resultados indicam que a restrição de ingestão calórica explicava a maior parte dos efeitos benéficos verificados com o regime de alimentação intermitente", concluíram Weiss e seus colegas.

O novo estudo não é o primeiro a testar a alimentação com restrição de tempo, mas estudos anteriores geralmente eram menores, ou de duração mais curta e sem grupos de controle. Essas pesquisas tenderam a concluir que as pessoas perdiam peso se comessem só durante um período limitado do dia.
Weiss costumava acreditar no jejum intermitente e disse que durante sete anos só se alimentou entre as 12h e as 20h.

Em pesquisa anterior, ele e seus colegas pediram a cerca de 116 participantes adultos que fizessem três refeições por dia, com lanches se sentissem fome, e outros foram instruídos a comer o que quisessem entre 12h e 20h. Os participantes perderam pouco peso —em média 0,900 kg no grupo do jejum intermitente e 0,680 kg no grupo de controle, diferença que não é estatisticamente importante.

Weiss lembrou que mal podia acreditar nos resultados. Ele pediu que estatísticos analisassem os dados quatro vezes, até que lhe disseram que isso não mudaria os resultados.

"Eu era um devoto", disse ele. "Foi uma coisa dura de aceitar."

O experimento durou 12 semanas. Agora, parece que até um estudo de um ano não encontrou benefício no jejum intermitente.

Christopher Gardner, diretor de estudos da nutrição no Centro de Pesquisa de Prevenção de Stanford, disse que não ficaria surpreso se a alimentação com restrição de tempo funcionasse ocasionalmente.

"Quase todo tipo de dieta que existe funciona para algumas pessoas", disse ele. "Mas o resultado sustentado por essa nova pesquisa é que quando submetidos a um estudo adequadamente desenhado e conduzido —investigação científica— não é mais eficaz do que simplesmente reduzir a ingestão calórica para perda de peso e fatores de saúde."

Especialistas em emagrecimento disseram que as dietas intermitentes provavelmente não vão desaparecer. "Não temos uma resposta clara ainda" sobre se a estratégia ajuda as pessoas a perder peso, disse Courtney Peterson, pesquisadora na Universidade do Alabama em Birmingham que estuda dietas com restrição de tempo.

Ela suspeita que a dieta possa beneficiar as pessoas ao limitar o número de calorias que elas têm a oportunidade de consumir diariamente. "Apenas precisamos fazer estudos maiores", disse Peterson.

O doutor Louis J. Aronne, diretor do Centro de Controle de Peso Abrangente na Weill Cornell Medicine em Nova York, disse que pela sua experiência algumas pessoas que têm dificuldade com dietas de contagem de calorias se saem melhor quando lhes dizem para comer só durante períodos de tempo limitados a cada dia.

"Embora essa abordagem não tenha sido confirmada como melhor, não parece ser pior" do que a contagem de calorias, disse ele. "Dá aos pacientes mais opções de sucesso."

A hipótese por trás do jejum intermitente é que os genes circadianos que aumentariam o metabolismo são ligados durante as horas diurnas, disse a doutora Caroline Apovian, codiretora do Centro para Gestão de Peso e Bem-estar no Hospital Brigham e de Mulheres em Boston.

A questão para os pesquisadores, acrescentou ela, é: "Se você comer um pouco demais durante as horas diurnas, terá mais condições de queimar essas calorias do que armazená-las?" Apovian disse que gostaria de ver um estudo que comparasse um grupo de sujeitos que comessem demais o dia todo com um grupo de sujeitos que também comessem demais, mas com restrição de tempo.

Ela disse que ainda recomendaria a alimentação com restrição de tempo aos pacientes, apesar de "não termos provas".

Weiss disse estar convencido por seu próprio estudo de que a alimentação intermitente não oferece benefícios, e que os novos dados reforçam sua convicção.

"Comecei a tomar café da manhã de novo", disse ele. "Minha família diz que estou muito mais simpático."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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