Nova lente de contato libera remédio contra alergia no olho

Produto foi aprovado nos EUA, e empresa diz conversar com órgãos regulatórios do Brasil

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São Paulo

Um novo modelo de lente de contato que libera um fármaco se mostrou útil contra alergias oculares. Recentemente, o produto recebeu autorização do FDA, a agência reguladora de remédios e alimentos dos Estados Unidos. Ele foi desenvolvido pela Johnson & Johnson Vision, braço da empresa voltado para a área dos olhos, e pode ser um passo importante no avanço da medicina.

O fármaco que é utilizado nesse modelo de lente de contato é o cetotifeno. "É uma droga já muito bem estabelecida para tratamento de alergia, já existindo colírios com esse fármaco e que funcionam muito bem", afirma Emerson Castro, oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês.

Lentes de contato
Novo modelo de lente de contato pode ser útil para tratar alergia no olho - Nataliya Vaitkevich/Pexels

A Folha questionou a Johnson & Johnson do Brasil se há interesse em trazer o produto —chamado oficialmente de acuvue theravision com cetotifeno— para o país e a empresa disse que já foram iniciadas "conversas com os órgãos regulatórios e no momento não há mais informações adicionais a serem compartilhadas".

Um artigo foi publicado em 2019 na revista Cornea a fim de mensurar se o uso da lente de contato com esse remédio poderia ter um resultado positivo e seguro para pacientes que sofrem de conjuntivite alérgica. O estudo é assinado por cientistas ligados a Johnson & Johnson Vision e também foi financiado pela empresa.

Castro explica que a conjuntivite alérgica envolve vários sintomas que impactam o cotidiano das pessoas que sofrem com o problema.

"Mais do que coçar, o olho fica vermelho, lacrimeja, fica desconfortável e inflama nesses quadros de conjuntivite. Para quem não usa lente, já incomoda, mas para quem utiliza é pior porque a lente pode embaçar e sair do lugar. É bastante desagradável", afirma.

Para a pesquisa, os cientistas seguiram o modelo convencional de um grupo experimental que utilizou o produto e outro grupo placebo que teve acesso a uma lente de contato comum. Além desses dois, um terceiro utilizou a lente em um dos olhos e no outro era um equipamento sem o cetotifeno. No total, quase 250 pessoas participaram de dois estudos que foram feitos separadamente, mas que adotavam essa mesma metodologia e que compuseram a análise de eficácia do equipamento no artigo publicado.

Com os grupos definidos, os participantes deveriam utilizar a lente de contato e qualificar o estado de conjuntivite alérgica 15 minutos após colocarem o produto. A partir daí, as pessoas avaliavam o nível de coceira no olho, começando num ponto em que não havia incômodo até um estágio em que o problema era persistente.

Além dos participantes, os investigadores precisavam indicar de modo semelhante a sua avaliação acerca do incômodo nos participantes.

Também houve medição parecida feita 12 horas após a inserção do produto —tempo máximo em que uma pessoa deve manter uma lente de contato nos seus olhos. Nesse caso, a ideia era observar qual a duração do efeito das lentes nos participantes.

Com esses dados, os grupos foram comparados entre si a fim de averiguar o efeito do produto no grupo experimental em comparação ao grupo controle. Foi observado um efeito positivo naqueles que utilizaram a lente de contato com o fármaco tanto nos 15 minutos após a aplicação quanto nas 12 horas depois do início do uso.

O estudo também avaliou o efeito da lente de contato em relação à vermelhidão nos olhos. Nesse caso, foi observada uma vantagem no grupo experimental, mas as diferenças com os participantes controle não foram tantas a ponto de trazer um significado clínico contra esse problema.

Desse modo, os pesquisadores afirmam que os resultados do estudo demonstram uma eficácia semelhante à aplicação tópica do cetotifeno.

Mesmo assim, para Castro, mais do que a liberação dessa lente de contato em si, o mais interessante é o avanço que ela representa para a medicina.

Há 20 anos se fala de liberação de remédio por lente de contato. Esse futuro nunca chegava, mas agora chegou. Então mais do que uma medicação liberada por lente de contato, é um passo que se deu para ter a perspectiva de ter outras medicações [nesse mesmo modelo] no futuro

Emerson Castro

Oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês

"Há 20 anos se fala de liberação de remédio por lente de contato. Esse futuro nunca chegava, mas agora chegou. Então mais do que uma medicação liberada por lente de contato, é um passo que se deu para ter a perspectiva de ter outras medicações [nesse mesmo modelo] no futuro", afirma o oftalmologista.

Um exemplo que ele cita é o tratamento de infecções na córnea, em que às vezes é preciso colocar o colírio de hora em hora. "Ou seja, o paciente precisa acordar de madrugada para pingar. De repente, ter uma lente de contato que libera a medicação é uma maravilha."

Mesmo com essas perspectivas positivas, o oftalmologista ressalta que o estudo contou com um grupo amostral pequeno e que, por isso, novas pesquisas com uma participação maior são importantes.

"É um estudo de fase três, mas não tem um grande número amostral. Mesmo assim, isso é um caminho interessante e que pode trazer um conhecimento para novas possibilidades", conclui.

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