Descrição de chapéu União Europeia

Casos de varíola dos macacos avançam na Europa

Mais cinco países confirmam diagnósticos positivos da doença; Espanha é o que concentra mais contaminações

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Lisboa

O número de casos confirmados de varíola dos macacos disparou na Europa nesta sexta-feira (20). Depois de Reino Unido, Portugal e Espanha, foi a vez de Alemanha, Bélgica, França, Itália e Suécia confirmarem diagnósticos positivos da doença. Fora do continente, Canadá, Estados Unidos e Austrália também identificaram pessoas com o vírus.

Na Alemanha, o primeiro caso confirmado foi em um paciente brasileiro de 26 anos. O jovem, que chegou ao país após uma viagem com origem em Portugal e paradas na Espanha, está em isolamento em uma clínica de Munique.

Com 30 diagnósticos confirmados até agora, a Espanha é o país com mais casos na Europa. Portugal aparece na segunda posição, com 23 casos. Primeiro país europeu a confirmar um contágio do vírus, em 7 de maio, o Reino Unido já tem 20 pacientes positivos. Os dados foram reportados pelas autoridades locais.

Ainda nesta sexta, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou chegar a 80 o total de casos.

A mão de uma criança com lesão provocada pelo vírus da varíola dos macacos após ele ter sido mordido por um cachorro contaminado, em 2003, em Dorchester, nos Estados Unidos
A mão de uma criança com lesão provocada pelo vírus da varíola dos macacos após ele ter sido mordido por um cachorro contaminado, em 2003, em Dorchester, nos Estados Unidos - Center For Disease Control - 27.mai.03/Reuters

A situação acendeu o alerta nas autoridades sanitárias. A OMS convocou uma reunião de emergência sobre a varíola dos macacos nesta sexta-feira.

Responsável pelo grupo de trabalho da DGS (Direção-Geral da Saúde) para lidar com o vírus em Portugal, onde as autoridades de saúde já admitem a existência de um surto, a infectologista Margarida Tavares afirma que a população em geral ainda não tem motivos para se preocupar.

"Enquanto agentes e autoridades de saúde, temos motivos para nos preocuparmos. É um assunto que não pode ser negligenciado, que tem de ser muito bem avaliado. Mas, para a população em geral, não penso que haja motivos", disse a médica, em entrevista à Folha.

A varíola dos macacos é do gênero Orthopoxvirus, o mesmo da varíola, e tem sintomas similares ao dela, embora menos graves. A maioria dos pacientes se recupera em poucas semanas, mas há possibilidade de evolução para casos problemáticos.

O vírus tem duas variantes principais: a cepa do Congo, mais grave e com até 10% de mortalidade, e a da África Ocidental, com mortalidade de 1%. Por enquanto, os casos reportados foram dessa cepa menos mortal.

Além de menos grave, o patógeno também é bem menos contagioso do que a varíola, declarada erradicada pela OMS em 1980. Identificado em humanos pela primeira vez em 1970, na República Democrática do Congo, o vírus era considerado, até agora, de contágio difícil entre humanos.

A descoberta de dezenas de casos positivos na Europa faz com que as autoridades de saúde já trabalhem com a hipótese de que o vírus esteja circulando há algum tempo no continente.

"Não podemos excluir esta possibilidade [de que o vírus estivesse circulando incógnito]", diz a infectologista Margarida Tavares, afirmando que as autoridades europeias ainda estão tentando identificar as circunstâncias e as cadeias de transmissão entre os pacientes já identificados.

Segundo o ECDC (Centro Europeu para a Prevenção e Controle de Doenças), a maioria dos casos identificados foi em homens que fazem sexo com homens. A entidade chama a atenção de que "há uma preponderância de lesões na área genital" entre os casos identificados.

A informação da ocorrência predominante de casos entre homens que fazem sexo com homens motivou uma onda de comentários ofensivos a membros da comunidade LGBTQIA+, que já se queixam de estigmatização.

Em Portugal, por exemplo, todos os casos já identificados são em pacientes do sexo masculino. Os casos foram referenciados por unidades de saúde especializadas em doenças sexualmente transmissíveis. O alerta, segundo as autoridades portuguesas, foram lesões na área genital incompatíveis com as DST conhecidas, como sífilis.

Segundo especialistas, a transmissão se dá por contato próximo prolongado, não necessariamente sexual. O vírus pode entrar no corpo humano através do trato respiratório ou pelo contato, direto ou indireto, com fluidos contaminados.

O uso intensivo de fotografias com pessoas negras para ilustrar casos de uma doença conhecida como varíola dos macacos também foi alvo de críticas de alguns ativistas.

O Centro Europeu para a Prevenção e Controle de Doenças emitiu uma recomendação para que os profissionais de saúde da região estejam atentos aos sintomas, que incluem erupções cutâneas, febre, dores e calafrios. A entidade pede que os casos suspeitos sejam imediatamente isolados e testados.

Não há terapêutica com antiviral específica para a doença. Estudos demonstram que a vacina contra o vírus original da varíola oferece também proteção cruzada contra a varíola dos macacos. Há evidências de que o efeito protetor pode ser obtido se a aplicação acontecer logo após a exposição.

O ECDC diz que os países devem considerar aplicar o imunizante, após uma análise de risco-benefício, em indivíduos que tiveram contatos próximos e de alto risco com casos positivos.

Mãos mexem com tubos de ensaio em um laboratório
As autoridades sanitárias dos países europeus estão tentando identificar a sequência de contaminação pela varíola dos macados - Thomas Kienzle - 2.mar.20/AFP

Em nível local, no entanto, os países ainda estão decidindo como agir. Segundo a imprensa britânica, o Reino Unido já passou a administrar o imunizante para profissionais de saúde e contatos de risco.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde ainda avalia a situação.

"A vacinação é uma questão importante e está a ser ponderada e discutida no mais alto nível. Existem duas novas vacinas que são, no fundo, evoluções da vacina original da varíola. Essa possibilidade existe mas, neste momento, ainda é muito precoce dizer se isso vai acontecer", diz a responsável pelo grupo de trabalho para lidar com o vírus em Portugal.

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