Descrição de chapéu Coronavírus

Onda da ômicron levou 3 em 4 crianças e jovens a terem Covid nos EUA, diz CDC

Prevalência do vírus na faixa de até 17 anos, menos vacinada, cresceu desde chegada da variante; no Brasil faltam dados

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São Paulo

A onda da ômicron nos Estados Unidos levou 3 em cada 4 das crianças e adolescentes até 17 anos no país a apresentarem anticorpos específicos contra o coronavírus no organismo, o que pode indicar uma infecção prévia pelo vírus.

Esse valor, que representa a chamada taxa de soroprevalência, teve um salto nas crianças de 0 a 11 anos de 44,2%, entre setembro e dezembro de 2021, para 75,2%, entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022 —a análise é feita a cada quatro semanas. No caso dos jovens de 12 a 17 anos, a taxa passou de 45,6% para 74,2%.

Os dados foram divulgados em um relatório do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) americano no dia 26. A análise de amostras de sangue para buscar anticorpos específicos contra o nucleocapsídeo (proteína do núcleo) do Sars-CoV-2 no período possibilitou avaliar como essa mudança teve relação direta com o surgimento da variante ômicron do coronavírus no país.

Jace Quinones, 7, recebe a vacina contra Covid infantil da Pfizer em Landsdale, Pensilvânia (EUA)
Jace Quinones, 7, recebe a vacina contra Covid infantil da Pfizer em Landsdale, Pensilvânia (EUA) - Hannah Beier - 05.dez.21/Reuters

De acordo com o estudo, a soroprevalência geral subiu entre 0,9 e 1,9 pontos percentuais nos meses de setembro a dezembro de 2021. Já entre dezembro e fevereiro, o crescimento reportado foi de 33,5% para 57,7% (24,2 pontos percentuais).

Apesar de o aumento ter sido notado também nos adultos acima de 18 anos, o crescimento na faixa etária mais jovem representou uma subida de cerca de 30 pontos percentuais no período da ômicron. Nos indivíduos mais velhos, a prevalência cresceu de 36,5% para 63,7%, em adultos de 18 a 49 anos; de 28,8% para 49,8%, naqueles com 50 a 64 anos; e de 19,1% para 33,2% nos indivíduos com 65 anos ou mais.

Ainda de acordo com o órgão, essa alta nas faixas etárias mais jovens pode estar diretamente relacionada ao fato de crianças e adolescentes terem taxas menores de cobertura vacinal contra Covid e, assim, estarem mais suscetíveis a novas infecções.

Em janeiro, dados do próprio CDC apontaram para um aumento de 520% de novas internações pediátricas de Covid em relação ao período pré-ômicron, e hospitais de todo o país viram um crescimento também de sintomas respiratórios nas crianças, provavelmente ligados à ômicron.

As taxas de cobertura vacinal com duas doses em abril no país estavam em 28%, entre as crianças de 5 a 11 anos; 59%, para os adolescentes de 12 a 17; 69%, nos adultos de 18 a 49 anos; 80%, nos indivíduos de 50 a 64 anos; e 90% para aqueles com 65 anos ou mais.

A reportagem solicitou dados de casos de Covid em crianças e adolescentes de 0 a 17 anos no Brasil ao Ministério da Saúde de janeiro a abril de 2022, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Foram registradas, desde o início da pandemia até o dia 7 de fevereiro de 2022, 6.877 hospitalizações e 308 mortes por Covid em crianças.

De acordo com dados do consórcio de veículos de imprensa, até esta quarta (4), 27,08% das crianças de 5 a 11 anos no Brasil receberam as duas doses da vacina contra Covid.

Para a imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, os dados encontrados nos EUA devem acender um alerta para o Brasil, que não possui dados em ampla escala sobre anticorpos contra a Covid na população, especialmente pediátrica.

"Isso é realmente muito preocupante porque não sabemos a longo prazo o que o vírus é capaz de fazer no organismo. Pelo que sabemos de evidências até agora, a resposta imune é muito variável após infecção. É por isso que é essencial a vacinação", reflete.

A pesquisadora destaca a importância de as vacinas protegerem não só contra quadros agudos das doenças, mas também contra consequências. "Existem várias vacinas e doenças infecciosas que antes se conhecia muito pouco sobre as consequências a longo prazo, e hoje já sabemos. O HPV [vírus do papiloma humano], por exemplo, é um deles. Há uma relação clara entre ter a infecção pelo vírus e incidência de câncer de colo de útero ou de cabeça e pescoço na vida adulta, então vacinar as crianças é essencial para prevenir isso. A Covid é a mesma coisa, não sabemos as sequelas que uma infecção pelo coronavírus pode causar nas crianças, mesmo em alguns meses após a infecção", explica.

Segundo dados do boletim epidemiológico da pasta da Saúde referentes à semana de 10 a 16 de abril de 2022, foram notificados, desde o início da pandemia, 2.927 casos suspeitos de SIM-P (síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica) em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, dos quais 1.702 (cerca de 58%) foram confirmados, e 113 mortes.

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