Cientistas pressionam por mudança do nome varíola dos macacos

Objetivo é retirar caráter 'estigmatizante' da nomenclatura; para especialistas, denominar monkeypox implica relacionar o vírus a países africanos

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Paris | AFP

As discussões sobre uma mudança do nome da varíola dos macacos, que alguns países e especialistas consideram humilhante, começaram com o apoio da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus afirmou que anúncios sobre o tema devem ser feitos o mais rápido possível. As declarações foram dadas na semana passada.

No início do mês, mais de 30 cientistas, a maioria deles africanos, publicaram uma carta aberta na qual exigiam a mudança de nomenclatura para que "não seja discriminatória nem estigmatizante". Segundo eles, levando em consideração que desde maio uma nova versão do vírus circula pelo mundo, esta deveria ser denominada apenas hMPXV (h, de humano) —o vírus monkeypox é identificado como MPXV.

Amostras de teste para varíola dos macacos - Dado Ruvic - 23.mai.2022/Reuters

O objetivo não é apenas mudar o nome do vírus, que já foi registrado em mais de 40 países, mas também de suas diferentes cepas. As cepas são nomeadas com base nas regiões ou países africanos onde estão localizadas pela primeira vez —por exemplo, cepa da África Ocidental ou da Bacia do Congo (mais letal).

Após uma onda inicial em dez países africanos, 84% dos novos casos foram detectados na Europa e 12% no continente americano. No mundo, são quase 2.100 casos desse tipo de varíola detectados desde o início deste ano.

Denominar a doença como varíola dos macacos implica relacioná-la basicamente com países africanos, criticam alguns especialistas.

"Não é uma doença que realmente possa ser atribuída aos macacos", declarou o virologista Oyewale Tomori, da Universidade Redeemer na Nigéria.

A doença foi descoberta por cientistas dinamarqueses na década de 1950 em macacos enjaulados em um laboratório. Mas os humanos contraíram o vírus principalmente de roedores.

O continente africano tem sido historicamente associado a grandes pandemias.

"Vimos isso com o HIV na década de 1980 ou o vírus ebola em 2013, e depois com a Covid e as supostas 'variantes sul-africanas'", disse o epidemiologista Oliver Restif. "Este é um debate mais amplo e está relacionado com a estigmatização da África", acrescentou.

O cientista critica, inclusive, imagens utilizadas pela imprensa para ilustrar notícias sobre a doença, muitas vezes "fotografias antigas de pacientes africanos", quando na realidade os casos atuais "são muito menos graves", concluiu.

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