Diagnóstico de 'doença da gafe', prevalente a partir dos 50, pode demorar seis anos

Desinibição e compulsão alimentar, por exemplo, devem chamar a atenção para hipótese de demência frontotemporal

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Gramado (RS)

Perder o interesse pela rotina de autocuidado, como cortar o cabelo e fazer as unhas, compulsão alimentar e comportamentos inadequados em público são alguns dos sintomas de DFT (demência frontotemporal), popularmente conhecida como doença da gafe. O mal, que altera o modo de agir, tem diagnóstico correto tardio —pode levar seis anos, segundo especialistas.

Neste domingo (20), o Fantástico mostrou que o jornalista Maurício Kubrusly, 77, foi diagnosticado com a doença. Ele deixou a Globo em 2019 e hoje vive no sul da Bahia com a esposa.

A psiquiatra e psicogeriatra Valeska Marinho, coordenadora do Centro para Doença de Alzheimer do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), falou sobre o assunto em palestra sobre aspectos diagnósticos e terapêuticos das demências não Alzheimer no Brain Congress 2022, em Gramado (RS), na semana passada.

Imagem de um cérebro
Covid-19 deve acelerar casos de demência no mundo - Science Photo Library

"O diagnóstico é muito difícil, porque a DFT pode ser confundida com doença psiquiátrica primária, em via de regra, com doença bipolar ou outras demências. Ela atinge basicamente o comportamento e a personalidade", disse a médica. Há recursos disponíveis para se chegar ao diagnóstico, como avaliações neuropsicológicas e exames que ajudam a identificar onde há maior dano no cérebro.

A DFT tem, ainda, outros sinais. É capaz de transformar uma pessoa com hábitos comuns em acumuladora. Há perda de interesse pelo trabalho, pelos hobbies e passeios. A depressão resistente, que não melhora com tratamento usual, é um alerta importante, além de apatia, desatenção, irritabilidade, perda de empatia e da capacidade de reconhecer no outro suas emoções e os sentimentos. Muitas vezes, os sintomas não são valorizados pela família.

A doença é progressiva e a segunda causa mais comum de demência degenerativa, após o mal de Alzheimer. Ela afeta os lobos frontais e temporais do cérebro, que têm entre as funções a regulação do comportamento. Existem várias formas da DFT, cada uma associada ao acúmulo anormal de alguma proteína, como a tau e a TDP-43.

Geralmente, acomete pessoas a partir dos 50 anos —mais mulheres do que homens. Em cerca de 20% dos casos, observa-se uma herança familiar.

A DFT não tem tratamento específico. "Nenhum medicamento para a demência disponível no mercado é capaz de promover benefício ao paciente. Então, o tratamento acaba sendo sintomático. Nós tratamos os sintomas, como a depressão e a apatia. Há abordagens não farmacológicas. Em geral, musicoterapia e atividade física, que promovem um controle maior dos sintomas, do ponto de vista da melhora da depressão e da ansiedade", diz a médica.

"Sem medicação específica disponível, como sugestões práticas para o tratamento, a partir do diagnóstico da DFT, temos a trazodona e os antipsicóticos de segunda geração, que trazem uma melhora no comportamento compulsivo, depressão e reduzem os sintomas de uma forma geral."

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 55 milhões de pessoas vivem com demência no mundo, contingente que aumenta a uma taxa de 10% ao ano. Até 2030, esse número pode chegar a 78 milhões, e em 2050, a 139 milhões. O custo global da doença é de US$ 1,3 trilhão (R$ 6,48 trilhão), estima a entidade, e pode alcançar US$ 2,8 trilhões (R$ 14 trilhões) em 2030.

A repórter viajou a convite do Brain Congress 2022

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