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Grupos de WhatsApp de condomínios fervem com recomendação do uso de máscara em SP

Síndicos relatam que tiveram trabalho para dar explicações a moradores

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São Paulo

O celular de Márcia Cristina Franco, 55, amanheceu repleto de mensagens nesta quarta-feira (1º). Eram textos e áudios de pessoas apavoradas perguntando se o salão de festas do prédio onde moram iria fechar ou se só seria permitido entrar no elevador com máscara no rosto.

"Está aquele debate no WhatsApp", brincou a síndica profissional que administra quatro condomínios na capital paulista, em Guarulhos e no ABC.

Os grupos de moradores de condomínio no aplicativo de mensagem ferveram após a notícia desta terça-feira (31) de que o Governo de São Paulo voltou a recomendar o uso de máscaras em ambientes fechados nos municípios paulistas.

A utilização do item de proteção deixou de ser obrigatória em 17 de março por causa do recuo na pandemia do novo coronavírus no estado. Mas, com a alta de casos e internações das últimas semanas, o Comitê de Contingência da Covid-19 do governo paulista recomendou a volta do uso de máscaras em locais fechados.

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Comitê do governo paulista recomenda uso de máscara em ambientes fechados no estado - Gabriel Cabral/Folhapress

"Passei o dia de hoje [quarta] pedindo calma", afirmou a síndica. Segundo ela, os moradores estavam com muitas dúvidas sobre se seriam novamente obrigados a usar máscara em locais comuns de seus prédios, como em elevadores ou academias.

O clima, segundo ela, estava ainda mais tenso em um condomínio de São Bernardo do Campo, por causa de um boato de que o prefeito Orlando Morandi (PSDB) iria voltar a obrigar as pessoas a usarem máscara em locais fechados.

Na cidade do ABC, assim como na capital e em outros municípios da Grande São Paulo, a utilização de máscaras nestes ambientes é apenas uma recomendação.

Mas nos condomínios administrados pela empresa da síndica, para funcionários e prestadores de serviço, porém, estar com nariz e boca cobertos é obrigatório. "Estamos passando um comunicado, essa é a única regra que colocamos."

O advogado Rodrigo Karpat, especialista em direito condominial, afirmou que como o governo e prefeitos apenas recomendaram o uso de máscaras, em tese, síndicos não podem obrigar a sua utilização.

A implantação da restrição dependerá de uma decisão em assembleia, mas o síndico corre o risco de o caso parar na Justiça, se um morador contestar, explicou.

E foi a polêmica de que tudo iria fechar de novo que tornou o celular do economista Alexandre Prandini, 45, "um inferno", como ele definiu. "Como entrar no elevador foi outra dúvida recorrente", disse ele, responsável por uma empresa que administra 22 condomínios.

O medo de moradores serem obrigados a cancelar festas programadas para o salão também surgiu.

Apesar das divergências, ele diz acreditar que há pessoas mais conscientes e alertas atualmente. Prandini cita que, na semana passada, moradores de um dos locais dos quais é síndico pediram para que uma reunião de condomínio presencial fosse realizada virtualmente, exatamente por causa da alta de pessoas que tiveram Covid.

Rafael Lotti, 44, síndico profissional que administra 12 condomínios na capital e em Osasco, na região metropolitana, igualmente passou esta quarta-feira tentando acalmar grupos de moradores, dizendo que a rotina deles não vai mudar, mas que é preciso cuidado, porque nos últimos dias tem recebido vários comunicados de casos de Covid nos edifícios.

"Estou tentando trabalhar na conscientização individual de cada um pensando no coletivo, porque no dia de hoje [quarta] não temos uma lei que obrigue as pessoas a usarem a máscara, é apenas uma recomendação", afirmou.

Lotti admitiu que não participa de todos os grupos do aplicativo de mensagens dos locais sob sua responsabilidade. "São 1.104 apartamentos, imagina a dificuldade de controlar tantas vontades", disse. "Algumas pessoas aceitam a ideia [de usar máscaras] e outras são completamente contra."

Segundo ele, um dos condomínios administrados por sua empresa está discutindo uma alteração de regimento para que quem descumprir regras sanitárias em períodos de pandemias seja punido automaticamente, desde que haja provas.

É essa a situação, a de punir pessoas, que tira o sono do síndico Cristiano Jair Silva, 43. Durante a pandemia, ele disse, que entre 30 e 40 moradores do prédio onde mora na Vila Ema, zona leste de São Paulo, foram advertidos por não usarem máscaras. Outros levaram multas.

"Como síndico, só se volta a máscara para dentro do condomínio novamente se for por lei, nem nas áreas comuns", afirmou.

Mais precavida, Milene Sininobivh, 47, síndica de um prédio de 16 andares em Indianópolis, na zona sul de São Paulo, usou o aplicativo de mensagens do condomínio, no último dia 22 de maio o aplicativo de mensagens para alertar o grupo de moradores sobre a necessidade de voltar a se proteger contra o novo coronavírus.

Mensagem passada por síndica de condomínio em Indianópolis, na zona sul de São Paulo, pedindo para que moradores voltassem a usar máscara - Arquivo pessoal

"Boa tarde pessoal... infelizmente estamos com casos de covid voltando!! Peço que voltem a utilizar máscaras.. Vamos proteger nossa família!", escreveu no grupo do condomínio. Duas moradoras agradeceram, dizendo que ela tinha razão, e, pelo menos neste espaço virtual, não houve polêmica.

A decisão de pedir para que moradores voltassem a se proteger foi por causa de dois apartamentos terem casos de Covid-19 em poucos dias. E porque o próprio marido contraiu a doença ao voltar de uma viagem recentemente.

"Eu nunca deixei de usar máscara aqui, assim como minhas duas filhas e meu marido", afirmou a síndica, que admitiu ter sido ironizada pelos moradores mais jovens do prédio, que tem muitos idosos.

A bióloga Cristina Jatobá, 55, moradora no condomínio, elogiou a mensagem. "Eu só tiro a máscara quando entrava no apartamento", afirmou.

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