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Covid: em que situações devo fazer check-up após infecção?

Médicos apontam que não existe "receita de bolo", que sirva de orientação para todos, mas há três situações que podem exigir uma avaliação médica mais aprofundada

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André Biernath
Londres | BBC News Brasil

Mais que uma simples infecção respiratória, a Covid pode ter uma série de repercussões no resto do corpo —e algumas dessas complicações, que afetam o coração, os pulmões e até o cérebro, podem acontecer mesmo depois de os primeiros sintomas da infecção melhorarem.

Diante desse risco, em quais situações é indicado fazer o popular check-up, aquele conjunto de exames que avalia diversos parâmetros e sinaliza uma doença nos seus estágios iniciais?

Imagem em primeiro plano mostra uma mulher sentada com um dos braços esticados e apoiado em um suporte. Ao seu lado, em pé, há uma profissional da saúde. Ambas estão de máscara.
Fazer exames depois da Covid é algo que só está indicado em algumas situações - Getty Images

Médicos ouvidos pela BBC News Brasil indicam que, em linhas gerais, passar por essa bateria de testes laboratoriais não é algo recomendado para todo mundo que teve Covid. Nesse sentido, não existe uma "receita de bolo", ou uma recomendação geral que sirva para a enorme quantidade de pessoas que teve diagnóstico positivo para a doença nos últimos meses.

No entanto, existem ao menos três grupos de pacientes que podem necessitar de uma avaliação mais aprofundada pós-Covid: primeiro, aqueles que tiveram quadros graves da infecção; segundo, portadores de doenças crônicas, como hipertensão ou diabetes; terceiro, indivíduos que estão sentindo algum incômodo atípico por um tempo prolongado.

Entenda a seguir por que esses grupos precisam de uma atenção especial e quais exames são mais indicados nessas situações.

Uma doença, várias repercussões

A partir do momento em que o coronavírus entra no nosso corpo e começa a usar as células para criar novas cópias de si mesmo, ele dispara uma série de reações do sistema imunológico.

Porém, na tentativa de conter a infecção, as células de defesa podem acabar lesando os próprios órgãos.

Isso acontece em grande parte porque o sistema imune libera uma série de substâncias que, em alguns pacientes, gera uma inflamação descontrolada, como detalha um artigo publicado em abril de 2021 no periódico científico Nature Reviews Rheumatology.

Ilustração mostra representação do coronavírus
Coronavírus pode gerar uma reação exagerada do sistema imunológico - Getty Images

Essa inflamação, por sua vez, chega a provocar lesões e atrapalhar o funcionamento de diversas estruturas do organismo.

Em veias e artérias, por exemplo, esse estado de crise inflamatória pode desestabilizar placas de gordura, que se soltam e podem bloquear a passagem do sangue.

Isso leva a quadros de trombose venosa, embolia pulmonar e até infarto ou acidente vascular cerebral (AVC).

Embora todos os mecanismos por trás dessa relação não sejam completamente conhecidos, os efeitos da Covid também podem se estender por pâncreas, rins, bexiga, tireoide e cérebro.

Vale lembrar que, felizmente, quadros como esses são raros —e se tornaram ainda menos comuns a partir da chegada da vacinação.

Eles costumam acontecer com uma frequência relativamente maior em indivíduos que já reuniam algumas condições, como doenças crônicas ou idade avançada.

Mas será que é possível detectar essas complicações logo de cara, antes que elas evoluam para desfechos mais complicados?

A resposta é sim, por meio dos exames.

Para quem é o check-up pós-Covid

O primeiro grupo que se beneficiaria de uma bateria de testes, como exames de sangue ou de imagem, são justamente aqueles que tiveram Covid grave.

Muitas vezes, no próprio hospital, durante a internação, a equipe de profissionais de saúde já realiza algumas análises clínicas para detectar alterações precoces e evitar as complicações mais temidas, como um quadro de trombose ou AVC.

Nesse contexto, também são prescritos medicamentos específicos, que ajudam a controlar a inflamação.

"Os exames devem ser indicados de acordo com o risco individual", esclarece o infectologista Evaldo Stanislau de Araújo, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

"Num paciente que teve insuficiência respiratória, é idoso, sofre de problemas imunes ou já foi diagnosticado com doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, faz mais sentido fazer um acompanhamento", complementa o médico, que também integra a Sociedade Paulista de Infectologia (SPI).

Agora, numa pessoa jovem e saudável que teve diagnóstico positivo para o vírus, só teve sintomas leves e está se sentindo bem depois de alguns dias, passar por um check-up tão intenso não faz tanto sentido assim.

Imagem mostra um paciente deitado em um leito de UTI
Pacientes com quadros graves de Covid correm mais risco de sofrer sequelas - Getty Images

Mas mesmo a Covid leve e moderada pode exigir uma avaliação mais aprofundada em pessoas que já tinham enfermidades crônicas, como hipertensão e diabetes.

"Muitas vezes, a infecção pelo coronavírus pode descompensar as demais doenças", explica a infectologista Valéria Paes, do Hospital Sírio-Libanês em Brasília.

"Nesses casos, pode ser necessário fazer alguns exames e até ajustar temporariamente a medicação para controlar novamente índices como a pressão arterial e a glicemia", complementa.

Uma consulta com o clínico geral, o médico de família, o cardiologista ou o endocrinologista ajudam a fazer esse acompanhamento.

Além de pacientes com Covid grave e portadores de doenças crônicas, o terceiro grupo que pode precisar de exames complementares são aqueles que estão sentindo algum incômodo atípico depois de se recuperarem da infecção inicial.

"Há gente que chega aos nossos consultórios com queixas de cansaço, como se não conseguissem mais fazer as coisas como antes da Covid", conta o médico Agnaldo Piscopo, diretor do Centro de Treinamento em Emergências Cardiovasculares da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.

"Outro dia, um paciente reclamou dizendo que antes corria 6 km numa boa e atualmente já se sente cansado depois de 3 km de caminhada", exemplifica.

Nessas situações, exames de imagem (como a ressonância magnética ou a tomografia) e de sangue, além de testes de esforço, ajudam a detectar eventuais problemas no coração ou nos vasos sanguíneos

Além da fadiga, o Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido aponta que no pós-Covid algumas pessoas também sentem dificuldades para respirar, dor no peito, problemas de memória e concentração, dificuldade para dormir, palpitações, náusea, dor nas articulações, depressão, ansiedade, dor de ouvido, perda de apetite, perda de olfato ou paladar e vermelhidão na pele.

Essa longa lista pode estar relacionada (ou não) com o coronavírus e a inflamação exacerbada.

Se algum desses sintomas persistir por algumas semanas, é importante buscar ajuda de um profissional de saúde que, com base no relato e na avaliação no consultório, vai indicar a realização de exames específicos para cada situação e prescrever o melhor tratamento disponível.

- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62169054

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