Testar nariz e garganta detectaria melhor variante ômicron, dizem pesquisadores

Na maioria dos casos analisados, coronavírus foi detectado na saliva antes de aparecer nas amostras nasais

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Emily Anthes
The New York Times

Pessoas com infecções por coronavírus da variante ômicron podem apresentar cargas virais significativamente diferentes no nariz, na garganta e na saliva, e realizar um único tipo de teste provavelmente deixará de identificar muitas infecções, segundo duas novas pesquisas.

Os artigos, que ainda não foram publicados em revistas científicas, sugerem que testes de coronavírus que analisassem amostras do nariz e da garganta detectariam mais infecções pela ômicron do que aqueles realizados apenas com o cotonete nasal. Embora esses testes combinados sejam comuns em outros países, incluindo a Grã-Bretanha, nenhum está autorizado nos Estados Unidos.

"Você pode obter muito mais retorno se usar esses tipos de amostras misturados", disse Rustem Ismagilov, químico no Instituto de Tecnologia da Califórnia e principal autor de ambos os artigos. Mas nos Estados Unidos, disse ele, "estamos emperrados, com ninguém fazendo isso".

Trabalhador da saúde recolhe amostra salivar para teste de Covid-19 em Pequim, na China
Trabalhador da saúde recolhe amostra salivar para teste de Covid-19 em Pequim, na China - Thomas Peter - 14.jul.22/Reuters

Ambos os artigos se baseiam em dados coletados durante um estudo de transmissão familiar de coronavírus realizado na área de Los Angeles entre novembro de 2021 e março deste ano, quando a variante ômicron estava se espalhando rapidamente. Participaram 228 pessoas de 56 domicílios.

Diariamente, durante cerca de duas semanas, cada participante coletou cotonetes nasais e de garganta, bem como uma amostra de saliva. Os pesquisadores realizaram testes de PCR e calcularam a carga viral em cada amostra.

O primeiro artigo se concentra em 14 pessoas que se inscreveram no estudo antes ou quando suas infecções começaram, permitindo que os pesquisadores captassem o estágio inicial da infecção.

Esse grupo de participantes forneceu um total de 260 cotonetes do nariz, 260 da garganta e 260 amostras de saliva ao longo de suas infecções, permitindo que os cientistas fizessem diversas comparações entre a quantidade de vírus em diferentes amostras e pessoas em momentos diferentes.

Os pesquisadores encontraram diferenças significativas na carga viral de diferentes tipos de amostras dos mesmos indivíduos.

Na maioria dos participantes, o vírus era detectável na saliva ou em cotonetes da garganta antes de aparecer nas amostras nasais. "Você pode ter cargas virais muito altas, presumivelmente infecciosas, na garganta ou na saliva antes dos cotonetes nasais", disse Alexander Viloria Winnett, estudante de pós-graduação da Caltech e um dos autores do artigo.

Outros estudos, incluindo um realizado pela equipe da Caltech no final de 2020 e início de 2021, também descobriram que a carga viral do coronavírus tende a aumentar na saliva antes do nariz. "Então, esse recurso, pelo menos, não parece ser específico da ômicron", disse Winnett.

Mais tarde, porém, quando a carga viral aumentou no nariz, subiu a níveis mais altos, em média, do que em qualquer uma das amostras orais, descobriram os pesquisadores.

Mesmo assim, havia uma variabilidade significativa. Por exemplo, uma mulher teve níveis altíssimos de vírus na garganta durante toda a infecção, enquanto os níveis virais em seu nariz variaram repetidamente entre detectáveis e indetectáveis durante mais de uma semana. Por outro lado, outro participante apresentou, desde os primeiros dias de infecção, cargas virais mais altas no nariz do que na garganta ou na saliva.

Devido a essa variação, nos primeiros quatro dias de infecção, nenhum tipo de amostra detectará com segurança cerca de 90% das infecções, mesmo com um teste de PCR altamente sensível, sugerem os dados.

Concentrar-se em um único tipo de amostra significa "realmente perder uma grande parte da imagem", disse Reid Akana, estudante de pós-graduação da Caltech e também autor do estudo.

Em geral, os padrões de cargas virais dos cotonetes do nariz e da garganta foram mais diferentes do que qualquer outra comparação de amostras. Independentemente de as pessoas estarem usando PCR ou testes de antígeno, nos primeiros quatro dias de infecção, testar esses dois locais simultaneamente detectaria significativamente mais infecções do que qualquer um sozinho, afirmam os pesquisadores.

No segundo artigo, o grupo avaliou o desempenho do teste de antígeno Quidel QuickVue At-Home, o autoteste, que usa o cotonete nasal, em 17 participantes que se inscreveram no estudo no início de suas infecções. Todos os participantes fizeram testes diários de antígenos, além de fornecerem amostras diárias de nariz, garganta e saliva.

Os pesquisadores descobriram que, mesmo quando as pessoas tinham cargas virais altas o suficiente para serem consideradas infecciosas em pelo menos um tipo de amostra, os testes de antígeno eram positivos em apenas 63% das vezes —uma lacuna de desempenho que eles atribuem ao fato de que os testes medem apenas o vírus no nariz, quando as pessoas podem ter altas cargas virais em outros lugares.

Os fabricantes de testes precisarão garantir que os testes projetados para o nariz ainda funcionem na garganta, disseram os cientistas, mas advertiram ser possível que alguns não funcionem. Eles pediram às empresas e reguladores que priorizem essa pesquisa.

"Se eles puderem validar seus testes existentes com um cotonete combinado, poderemos pegar muito mais infecções do que estamos pegando agora", disse Natasha Shelby, administradora do estudo, que também é autora de ambos os artigos.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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