Descrição de chapéu câncer

'Penso em desistir', diz paciente desligada do hospital A.C. Camargo

Com tumor raro e em cuidados paliativos, ela recebeu alta e deve procurar UBS

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Luciana Magri, 48, paciente do hospital A.C. Camargo, em São Paulo, desde 2007, ainda não conseguiu assimilar a notícia de alta que recebeu da instituição, por email, em 15 de julho. Na mensagem, ela é orientada a procurar a UBS (unidade básica de saúde) próxima de sua casa para o acompanhamento de seu quadro, um tumor neuroendócrino com metástase no pulmão, fígado e pâncreas.

"Penso em desistir", desabafa.

Magri é uma das 1.500 pessoas que eram atendidas pelo SUS no hospital considerado referência no tratamento de câncer e que foram desligadas desde o início do ano. "A paciente recebeu alta da equipe de médicos do A.C. Camargo Cancer Center e os critérios estão de acordo com o protocolo institucional de cada especialidade, elaborados a partir de critérios médicos e científicos", diz a entidade.

Mulher com turbante
Luciana Magri, que fazia tratamento pelo SUS no A.C. Camargo, conseguiu retomar cuidados paliativos com decisão judicial - Arquivo pessoal

Sem entender o posicionamento do hospital —o email foi encaminhado a ela antes de a Folha noticiar nesta segunda (15) que o A.C. Camargo encerraria os atendimentos via SUS—, Magri conversou com sua advogada e obteve uma liminar. Na decisão, a juíza Lúcia Caninéo Campanhã, da 6a Vara Cível, pontua a necessidade do tratamento médico e do uso contínuo de medicamentos controlados, assim como a necessidade de explicação da alta, e determina o atendimento sob pena de multa diária de R$ 1.000.

"Estava muito mal, não sabia a razão de ter sido desligada. Em um primeiro momento, achei que fosse um erro. Não recebi nenhum outro email, nenhum telefonema explicando a situação. Tenho uma versão do ano passado do meu prontuário, que serviu de base para a liminar, e solicitei a versão atualizada porque acreditava que encontraria nele a resposta, mas ainda não recebi" afirma Magri.

"Quando li a notícia sobre o SUS na imprensa, senti um certo alívio porque entendi o que estava acontecendo", completa ela, que mora em Praia Grande e utiliza o serviço de transporte do município para os atendimentos na capital.

Nesta quinta-feira (18), o governo estadual de São Paulo anunciou que vai disponibilizar financiamento complementar ao A.C. Camargo para que a entidade continue atendendo pacientes do SUS pelos próximos anos. O governador Rodrigo Garcia (PSDB), contudo, não detalhou os valores que serão repassados e disse apenas que a verba será tema de futuras reuniões.

Por conta da dor e dos efeitos de seu tumor, um tipo raro, Magri utiliza entre outros remédios clonazepam e metadona. São drogas que só podem ser obtidas mediante receituário especial, após consulta médica, e ela ficou com medo de perder também o acesso a elas.

"É uma medicação que não pode ser interrompida de uma hora para outra e desde que me cortaram não tive acesso ao quimioterápico", diz.

Ela conta que na última quarta (17) conseguiu ser atendida no hospital apresentando a liminar e que, com o documento, agendou as próximas consultas, previstas para setembro e outubro.

"Gostaria que voltassem atrás e dessem continuidade ao atendimento porque, para quem tem câncer, importa muito o vínculo e a confiança na equipe. Estando em cuidados paliativos, é um impacto enorme pensar em começar a ser atendida em outro local."

Em resposta, o hospital explica que o cuidado paliativo não é considerado um atendimento de alta complexidade e que a decisão não deve significar o fim da atenção ao paciente.

"Quando o paciente recebe alta do A.C. Camargo, isso não quer dizer que não é mais necessário manter o cuidado de sua saúde. Isso significa que a partir deste momento não é mais necessário o cuidado em unidade terciária. O seguimento pode ser realizado por meio da unidade primária, ou seja, na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua residência", afirma a instituição.

O A.C. Camargo diz que os cerca de 1.500 pacientes devem se apresentar pessoalmente na UBS e que os próximos a receberem alta, considerando a manutenção do atendimento ao SUS com foco em alta complexidade, serão encaminhados pelo próprio hospital para as unidades básicas. Nesses casos, a entidade vai ligar para a UBS, enviando a documentação do paciente, que deverá comparecer ao posto para finalizar a transferência.

A Secretaria de Saúde de Praia Grande afirma que não recebeu nenhuma notificação do hospital. A pasta orienta a paciente a ir à Unidade de Saúde da Família mais próxima, onde serão feitos os encaminhamentos necessários, e ressalta que o tratamento oncológico é de responsabilidade do governo do estado, assim como outros tratamentos de média e alta complexidade.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.