Descrição de chapéu The New York Times

Estudo israelense conclui que paxlovid reduz mortes de idosos por Covid

Medicamento diminuiu internações e mortes de pessoas acima de 65 anos durante onda da ômicron

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Roni Rabin
The New York Times

O paxlovid, o medicamento contra Covid-19 desenvolvido pela Pfizer, reduziu hospitalizações e mortes de pacientes idosos durante a onda de ômicron em Israel no início deste ano. Porém, segundo revelou uma nova pesquisa, não fez diferença para pacientes com menos de 65 anos e com risco alto de adoecer gravemente.

O estudo é uma das primeiras análises publicadas da eficácia real do paxlovid contra a ômicron, hoje a versão dominante do coronavírus. A Pfizer fez os ensaios clínicos do medicamento durante a onda da variante delta no ano passado, abrangendo apenas pessoas não vacinadas.

Ainda restavam dúvidas quanto à eficácia do medicamento contra a variante ômicron e entre pacientes vacinados ou que tenham alguma imunidade pelo fato de já terem tido Covid anteriormente. O paxlovid está disponível para os americanos desde dezembro.

Comprimidos de paxlovid soltos em cima de caixas do mesmo medicamento
A pesquisa israelense mostrou que paxlovid tem mais efeito em idosos acima dos 65 anos - Joe Raedke - 7.jul.22/AFP

O novo estudo não abordou outra incógnita premente: a frequência com que pacientes sofrem casos de Covid de recidiva depois de tomarem o paxlovid. Jill Biden, a primeira-dama dos EUA, saiu de um segundo período de isolamento na última segunda-feira (29), tendo voltado a apresentar Covid depois de tomar paxlovid.

Na sexta (26), Ashish Jha, coordenador da resposta da Casa Branca ao Covid, disse no Twitter que, embora haja confusão em relação a quem deve tomar paxlovid, os dados ainda indicam que o medicamento deve ser dado a qualquer pessoa a partir de 50 anos pouco depois de ela apresentar sintomas de Covid e também a qualquer pessoa com problemas de saúde que a deixam vulnerável a ficar gravemente doente.

Embora o estudo feito em Israel tenha concluído que o paxlovid não traz benefícios para adultos na faixa dos 40 aos 64 anos com comorbidades, outra pesquisa sugeriu que o medicamento pode melhorar os resultados finais. Um estudo feito em Hong Kong, que ainda não passou pela revisão por pares nem foi publicado em periódico científico, relatou benefícios do medicamento para pacientes de 50 a 64 anos.

Pesquisadores do sistema de saúde Massachusetts General Brigham relataram que o paxlovid reduziu significativamente as hospitalizações entre pacientes de 50 a 64 anos, com efeito pronunciado sobre pessoas não vacinadas e pessoas com obesidade.

Jha disse no Twitter que não há razões para pensar que os benefícios da droga seriam sentidos apenas por setores mais velhos ou mais vulneráveis da população. Ele destacou que o paxlovid tem poucos efeitos colaterais (o mais notável é um sabor metálico na boca) e que não há falta do medicamento nos Estados Unidos.

"É claro que uma droga que impede a replicação do vírus num paciente de 70 anos fará o mesmo num paciente de 60 anos", escreveu Jha. Ele observou que quase 200 mil americanos na faixa dos 50 aos 64 anos já morreram de Covid.

Os estudos realizados pela própria Pfizer constataram que o paxlovid reduziu o risco de hospitalizações e mortes em 88% entre pessoas não vacinadas e com risco alto de sofrer ômicron grave, desde que fosse tomado nos primeiros cinco dias após o aparecimento dos sintomas.

Publicada no último dia 24 no periódico The New England Journal of Medicine, a nova pesquisa revelou que o paxlovid é eficaz principalmente com pacientes mais velhos com Covid.

"O importante é que ele funciona, salva um bom número de vidas e evita um bom número de hospitalizações", disse o médico Ronen Arbel, primeiro autor do estudo e especialista em resultados de saúde na Clalit Health Services, em Tel Aviv. "É muito importante o fato de ele ajudar pacientes mais velhos."

Outros autores do estudo incluíram Yael Wolff Sagy, Doron Netzer e Ariel Hammerman, todos da Clalit Health Services, uma grande provedora de assistência médica em Israel. Os pesquisadores reviram as fichas médicas de quase 110 mil membros da Clalit que testaram positivo para Covid entre janeiro e março, quando a variante ômicron era dominante.

Os pacientes tinham pelo menos 40 anos de idade e foram considerados como tendo alto risco de adoecer gravemente. A maioria deles já havia sido vacinada, havia sido infectada anteriormente com Covid ou ambas as coisas. A média de idade dos pacientes era 60 anos, e mais de metade eram mulheres.

Cerca de 4.000 pacientes foram tratados com paxlovid, e o medicamento se mostrou altamente eficiente quando dado a pessoas de 65 anos ou mais, constataram os cientistas.

Entre os 42.821 pacientes com 65 anos ou mais, 766 que não receberam paxlovid foram hospitalizados com Covid, enquanto apenas 11 que tomaram o medicamento foram hospitalizados. A redução relativa de risco foi de 73%.

As mortes foram significativamente reduzidas nos pacientes idosos tratados com paxlovid. Apenas dois dos 2.484 pacientes que receberam o medicamento morreram, comparados a 158 dos 40.337 pacientes não tratados —uma redução de risco de 79%.

Mas a droga teve pouco efeito sobre adultos mais jovens, não tendo impacto notável sobre as mortes ou hospitalizações, que foram mais baixas nesse grupo que entre os pacientes mais velhos, mas tratados com o paxlovid.

Arbel disse que ele e seus colegas tinham a esperança de estudar o fenômeno da recidiva, mas que os dados sobre sintomas relatados não foram suficientemente confiáveis para isso.

"Sei que é uma coisa da qual se fala muito nos Estados Unidos, mas não tenho certeza se alguém morreu ou foi hospitalizado" após uma recidiva, ele disse. "Quase não é relevante."

Embora o paxlovid não pareça ter grande impacto sobre adultos mais jovens ou de meia-idade, Arbel disse que alguns médicos podem optar, mesmo assim, por prescrever o medicamento para pacientes com menos de 65 anos.

"No caso de uma pessoa de 62 anos, não vacinada e com complicações, pode ser justificado receitar o medicamento", ele disse.

Tradução de Clara Allain

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